O último Reuters Institute Digital News Report, divulgado há poucas semanas, traz algumas conclusões interessantes a respeito da situação dos media e sobre a forma como os consumidores olham para a informação que lhes é disponibilizada, diariamente, nos sites e nas redes sociais dos meios de comunicação.

De acordo com o relatório, que é relativo a 2024, a maioria (51%) dos portugueses diz-se “cansada” da quantidade de notícias que são produzidas e difundidas diariamente, o que corresponde a uma subida de nove pontos percentuais face a 2023.

Ainda segundo o estudo, 37% dos portugueses evita de forma ativa as notícias na Internet, face a 35% em 2023. Estes níveis de saturação têm aumentado de ano para ano. Em 2019, por exemplo, os portugueses que se diziam cansados das notícias eram 41,5% e aqueles que as evitavam eram apenas 31%.

Estes números demonstram a existência de um sentimento de saturação face ao “bombardeio” permanente com notícias, agravado pelo facto de muita da informação disponibilizada ser sensacionalista (exagerando factos negativos e afetando até a saúde mental de algumas pessoas), ou não ter sido trabalhada da forma satisfatória. Estes problemas explicam-se não com maldade ou sadismo dos jornalistas, mas com a pressão que é colocada diariamente por um modelo de negócio que depende da busca incessante de audiências para poder gerar receitas publicitárias.

Em suma, os media estão a afastar os seus próprios consumidores. A prazo, isto não pode continuar assim. Trata-se de uma situação que mina não só a credibilidade do jornalismo como a própria sobrevivência do sector. Nenhum negócio sobrevive causando saturação nos seus clientes.

À primeira vista, diria que são conclusões muito más para o tipo de jornalismo digital que tem sido praticado em Portugal e na maior parte do mundo, com modelos de negócios que estão muito dependentes da busca incessante de audiências (e que se verifica também, obviamente, no segmento audiovisual). Chego a esta conclusão sem me furtar às minhas próprias responsabilidades enquanto jornalista e diretor de projetos editoriais.

Porém, ao mesmo tempo, creio que devemos olhar para estes dados por outro ângulo, com um certo otimismo realista até, porque podem ser um primeiro passo para que possamos fazer uma reflexão sobre caminhos alternativos que permitam aos media serem sustentáveis e cumprirem a sua missão, que é imprescindível para a democracia.