Embora a tese que defendo neste artigo possa ser interpretada como birra de velho, achei que valeria a pena refletir sobre a tendência atual de procurar incansavelmente novidades em todos os âmbitos de atividade, através de uma mudança permanente que acaba por ser, quase sempre, insubstancial.

Uma das consequências desta onda é a banalização do conceito de inovação. Há 30 anos, na altura do meu primeiro emprego na Telefónica, a inovação era uma matéria reservada a engenheiros sisudos recluídos em laboratórios.

Felizmente, a inovação propagou-se por todas as áreas das empresas e da sociedade até transformar-se numa atitude e numa forma de pensar, evoluindo das questões mais específicas e materiais até aos âmbitos mais intangíveis e estratégicos, como a experiência dos clientes ou os modelos de negócio.

Mas, infelizmente, o conceito de inovação está-se a esvaziar de conteúdo de forma que, tudo o que até há pouco era uma simples mudança ou melhoria marginal, passou agora a qualificar-se como verdadeira inovação.

O abuso deste conceito, provocado pelo esvaziamento do valor real tradicionalmente associado à inovação, é uma das consequências dessa procura desenfreada de novidades nas nossas vidas, neste caso adornada com uma componente de sofisticação que tenta esconder o que habitualmente não ultrapassa a banalidade.

Um dos reflexos desta neomania é a profusão do prefixo “neo”, em substituição das modas anteriores do “smart” e do “-tech”; ou das mais antigas do “e-“ ou do “ponto com”. Assim, ficamos hoje obnubilados pelo suposto neocolonialismo dos gigantes da Internet, pelo neocapitalismo dos dados ou pelo neoliberalismo de Macron.

Esta obsessão pelo novo e pela renovação permanente resulta num prejuízo na funcionalidade dos produtos, que se substituem permanentemente por coisas mais modernas sem nenhum valor acrescentado. Tal rotação só se pode sustentar em produtos cada vez mais desvalorizados, pelo que o barato acaba por dominar tudo, com as consequências sociais e ambientais por todos já conhecidas.

A sustentabilidade do mundo exige acabar com esta superficialidade. Vivemos instalados na provisoriedade, sem conseguir descolar do voo galináceo que domina uma sociedade instável, permanentemente em modo beta.

Tudo isto poderá ser consequência da transição entre um mundo velho que não acaba de ir embora e esse mundo novo que já intuímos mas que não acaba de chegar, com novas formas de viver e de trabalhar, suportado em tecnologias promissórias.

Mas há também quem defenda que o mundo precisa com maior urgência de uma mudança mais profunda e radical, de uma reforma como a que no seu tempo impulsionou Martinho Lutero, de modo a conseguirmos sobreviver a tanta mediocridade.