Óscar Wilde escreveu que “alguns causam felicidade aonde quer que vão; outros, sempre que se vão”.
Por circunstâncias que infelizmente são públicas tornei-me, a par dos meus colegas, alvo da fúria de uma turba que não olha a meios para atingir os fins, não hesitando em propagar deturpações do que terei dito ou em dirigir-me as afirmações mais absurdas e sexistas, as quais nunca seriam ditas a um homem. Sem ter pensado que iria suceder algo similar, a par de muitas manifestações de apoio, presumo que por ser a única mulher, fui a infeliz contemplada com textos quase imperceptíveis em que as únicas palavras correctamente escritas são os palavrões.
Os ataques sistemáticos que tornaram o meu perfil no facebook um dos mais animados nos últimos dias tiveram como efeito tomar contacto com uma realidade que me era desconhecida. É certo que o seu objectivo é provocar o medo e desestabilizar-me mas, curiosamente, olho para os que me foram dirigidos nos últimos dias com alguma ironia e, mais ainda, como um mero (mas tristíssimo…) sinal sociológico. As redes sociais tornaram-se um pântano, onde, umas vezes a coberto do anonimato, outras a mando de agências de comunicação, meio Portugal insulta a outra metade, sem que, na maior dos casos, se discuta uma única ideia e, pior ainda, sem que saibam escrever palavras básicas.
Na verdade, lendo as ameaças, em vez do receio que deviam infligir-me, sinto-me chocada com a incapacidade que cidadãos deste país têm em expressar-se, mesmo quando o objectivo é insultar. Por outro lado, é intelectualmente interessante para uma feminista muito atípica e que se proclama ser pela igualdade de oportunidades (mas não pela equalização do que não tem a mesma natureza) verificar que, no que se reporta aos que me são dirigidos, a tónica é colocada na minha condição de mulher. Sou insultada com recurso a chavões, sem que se consiga retirar qualquer linha de raciocínio do que pretendem estas almas, a não ser um apoio, umas vezes acéfalo, outras com interesses ocultos, ao que presumem ser um opositor meu (e que, já agora, não é, na medida em que as funções que me confiadas não visam seja quem for em específico).
Um povo que não lê e que, nessa sequência, não sabe escrever é, por definição, um povo que não sabe pensar. E, lá está, um povo que não pensa está destinado a
ser marioneta de interesses instalados, ainda que transvestidos de outra coisa qualquer. No futebol (quem diria que, de facto, é o que move este país…), como na vida e, até, como na Ordem dos Advogados, o que interessaria ser discutido é o que não é, ou seja, as ideias. De todas as mensagens que recebi nestes termos não existiu uma única que resultasse de uma posição construtiva e esse é o facto que mais me choca.
É certo que todo este tumulto passará e que se reduzirá a um mero capítulo mas o que me ficará na cabeça são os erros, alguns dos quais já transformados em anedotas entre o meu grupo de amigos. De facto, como escreveu um dos meus escritores preferidos, há pessoas que deixam felicidade quando se vão. Nem tanto pelo medo que visam obter e que é algo que não me assiste (venha lá outro chorrilho de asneiradas que até posso vir a estranhar a inacção…) mas, acima de tudo, porque o seu silêncio honra a língua portuguesa.