“Antes de mais, homenagem ao Porto. À sua História. De inventiva e autonomia. (…) De resistência ao poder absoluto, também. (…) Numa palavra o Porto, de algum modo como berço da Liberdade e da Democracia. Mas, se este passado enche o Porto de glória, o presente continua a defini-lo como terra de gente de carácter, de liberdade, de trabalho, de convivência aquém e além-fronteiras. O Porto é terra geradora de elites em todos os domínios. (…) Virtudes ancestrais num Porto que nunca cedeu ao desalento, ao pessimismo, ao derrotismo” (Marcelo Rebelo de Sousa, 2016).

Não há cidade como a do Porto, não há paixão maior e inquebrantável como aquela que os portuenses sentem pela sua antiga terra. Tem tão de antiga, de povoado pré-romano, como de nova: renovada e inovadora, atraente e resiliente, transformada e encantadora. Não se fica pelo passado, num presente envolvente em que se faz futuro. O futuro é aqui, hoje e sempre, em cada presente confinado ao hoje e a cada cidadão do Porto, que se faz presente e que faz a Cidade.

Todos os dias, que não somente alguns dias e mesmo em tempos incertos. Um Porto que atualiza constantemente a sua memória, sem nunca esquecer a sua grandiosa e majestosa História. Tal como o vinho do Porto: quanto mais velho melhor! Assim é o Porto. E assim sempre será. Já que – como disse um dia, e muito bem, Manuel de Novaes Cabral – “não há Porto sem vinho do Porto. O Porto é mais do que ele próprio. Não há região sem Porto, na multiplicidade de sentidos que o Porto tem”.

Vem esta crónica no sentido de fazer justiça, de defender a “minha dama” – o Porto, cidade que amo, onde nasci e que sinto correr-me no sangue –, de reforçar a verdade já reposta, de imediato, por vários cidadãos portuenses, nas redes sociais. Portanto, há dias, o Porto sofreu duas tentativas de “ataques” pela imprensa, na análise de dois momentos festivos ímpares e por dois jornalistas de órgãos distintos da capital.

Ora desvalorizando e diminuindo a amplitude da festa vivida e celebrada no Porto em Portugal, que não somente no Estádio do Dragão, aquando do troféu conquistado pela Seleção Nacional de Futebol na Liga das Nações, em junho; ora na anual festa popular portuense do S. João – uma das mais animadas festas tradicionais de rua da Europa –, em que se criticava que “a festa já não é o que era”, perdendo identidade e sendo tomada por muitos estrangeiros, no pobre entender de quem escreveu.

Enfim, qual o motivo de tais inverdades? O Porto não se deixa vergar com tais leituras desfasadas da realidade, que o querem afetar, mas que – pelo contrário – só lhe dão mais força para continuar a ser grande. Grande é pouco, apesar de reto. Digo mesmo: colossal, é mais correto!

Quanto à primeira notícia, não quero acreditar que seja inveja – pois não gosto de fazer nem faço juízos de valor daquilo que não sei, que não conheço e que nem percebo as razões –, pelo facto de a primeira edição da Nations League se realizar no Porto, de termos feito festa da grande e não uma “festinha” e, por isso, de Cristiano Ronaldo afirmar aqui: “é impressionante, lindo, estou emocionado” e fê-lo perante centenas de milhar de pessoas (de todo o país e de países dos continentes americano, africano e asiático, que não somente europeu, e – como eu – tantos foram aqueles que viram esses adeptos com as respetivas bandeiras).

Tudo isto entre outras características mais que evidenciam que o Porto esteve e sempre estará à altura de um evento internacional, muito mediatizado ou não. Seja ele de que natureza for. Desde o estádio à Avenida dos Aliados fomos todos aliados a uma mesma causa (Portugal e o seu prestígio), a estarmos ligados e religados entre as nações que jogaram e as que se quiseram juntar a nós, sem quaisquer clubismos nem clubites!

Também fico contente – é de se ficar enquanto português – quando Lisboa, ou outra cidade qualquer (quando se consegue descentralizar, o que é muito difícil, mas não impossível) recebe um conceituado evento internacional; ou quando essa cidade recebe, lá fora, um prémio mundial (e, felizmente, o Porto – suas individualidades e coletividades – tem angariado muitos).

E, já agora, soube-se entretanto nas notícias que, em outubro de 2019, a Cidade terá mais um equipamento à altura desses feitos de enorme dimensão: o requalificado ícone portuense Palácio de Cristal como novo Centro de Congressos. Será a “Super Bock Arena”. Ainda nem abriu e tem já diversos espetáculos e eventos mundiais agendados.

Dada a procura e oferta, que são cada vez maiores, esse é um espaço que se complementa ao já existente Centro de Congressos da Alfândega, que – recorde-se – vem sendo premiado consecutivamente nos últimos anos, como o melhor a nível europeu. Mais um aspeto, entre milhentos e milhentos, que o Porto tem de excelente: entre nós, Porto e Portugal, e para o mundo, dado que – como eu gosto de chamar – somos um “porto de mundos” (expressão com direitos de autor, da Associação para o Diálogo Multicultural, fundada no Porto).

No que toca à segunda notícia, note-se que só mesmo quem não conhece verdadeiramente o Porto Sanjoanino, quem não anda por aí pelo Porto todo na noite de 23 a entrar e a durar pela madrugada do dia 24 (junho), não sabe o que é o S. João do Porto. E quem não sabe é como quem não vê, “carago”! É melhor “fechar a matraca”, do que dizer e escrever asneiras. Para esses “sostras” e “morcões” – com todo o devido respeito –, que gostam de caluniar e que vivem disso: “andor violeta”, tenham a bondade de “desamparar a loja”. E seja afinal bem-vindo quem vem por bem! Tal como afirma solenemente, em várias circunstâncias, o edil Rui Moreira: “A cidade do Porto gosta de receber os seus amigos de braços abertos”. O Porto sempre pronto, incomparavelmente Porto, ponto.

Para se saber, é preciso percorrer o nosso S. João de lés-a-lés; participar, na véspera, nas Rusgas de S. João, na Baixa da Cidade; comprar um manjerico com uma quadra à moda do Porto e os enfeites que belamente adornam a cidade; comer um caldo-verde com tora, umas sardinhas e umas fêveras grelhadas nas ruas, vielas ou terraços; dar umas marteladas inofensivas à multidão de gente que enche e preenche o Porto; fintar com alho-porro ao nariz dos mais distraídos; assistir aos concertos e passar pelos bailaricos em cada freguesia; deitar uns balões em grupo e, em grupo, saltar umas fogueiras; ver o fogo de artifício; beber umas cervejas nas barracas, acompanhadas de boas farturas ou churros recheados; apreciar, na tarde do 24 (feriado municipal), a linda e típica Regata de Barcos Rabelos, no Rio Douro; e muito mais.

Todo o Porto vive e respira o S. João, que não somente a Ribeira, as Fontainhas, Miragaia até à Foz, os Aliados e/ou a Rotunda da Boavista, com a sua roda-gigante. Fica a dica, abreviada, para futuro.

E como o Porto – cidade, concelho e distrito – não é um mundinho, nem um mundo à parte (contudo conhecido como uma nação dentro da Nação), não é demais realçar o quanto de bom tem sucedido no mesmo na última semana, por exemplo, bem como nesta em que nos encontramos. Isso sim, deveria e poderia ser mais e melhor notícia em certos meios e redes de comunicação. Seguem alguns desses atos e factos, de relance:

– o memorando de entendimento, intercâmbio e cooperação entre as direções municipais da Cultura do Porto e de Xangai, uma das muitas cidades estrangeiras com quem a Invicta está geminada. A propósito, o presidente da câmara dessa metrópole com 24 milhões de habitantes, Ying Yong, considerou o Porto “uma cidade europeia de alto nível”, destacando ser Património da Humanidade;

– as novas ligações aéreas no aeroporto Sá Carneiro rumo ao Dubai (com início a 2 de julho) e, anteriormente, as com destino ao Canadá;

– os hipermercados espanhóis Mercadona que chegam a Portugal primeiramente pelo Porto, neste mês de julho (as quatro lojas a inaugurar são em V.N. Gaia, Matosinhos, Gondomar e na própria Cidade Invicta);

– as várias empresas multinacionais e start-ups que têm estado a abrir sedes e delegações no Porto, empregando milhares de pessoas, como serão em breve os casos da Critical Software e da BMW;

– o presidente da Assembleia Municipal Miguel Pereira Leite participou na Sister Cities Week, em Banguecoque (Tailândia), em representação do município do Porto;

– o Porto recebeu, no passado fim de semana, a estreia nacional do evento internacional ‘Red Bull Dance Your Style’;

– a Comissão Europeia selecionou a Universidade do Porto, a par de outras quatro universidades da UE, para integrar a aliança EUGLOH (European University Aliance for Global Health);

– a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, inaugurada pelo Presidente da República, na Fundação de Serralves;

– o acordo já assinado que garante, a partir de setembro, o passe gratuito para adolescentes entre os 13-15 anos residentes na cidade portuense, para deslocações nos transportes públicos integrados no sistema intermodal Andante; etc..

E, todos os dias, no Porto, há ótimas iniciativas a nascer, crescer e a desenvolver – do Porto para o país e para o mundo –, que geram/podem gerar, naturalmente, ótimas notícias. Assim sejam e venham elas: cá estaremos para acolhê-las, com aquele jeito – como em tudo na vida – que só o Porto sabe acolher. E o desalento, o pessimismo e o derrotismo? Não, a esses jamais se irá ceder!

Quem pode parar este Porto, que deu nome a Portugal? Ninguém! Portanto, como constatámos, não é o Porto que vive massacrado, como que preocupado a toda a hora com Lisboa. Este poder central, que atravessa também alguns media e determinados meandros, é que parece incomodado com o forte impacto do Porto. Com o auge “polistilo” que atinge, é um facto. Com o seu corolário turístico, cultural, económico, universitário, empresarial e muito mais. Somos, todos juntos, parte de um todo, um todo unificado, que se quer cordial. Sejamos Porto ou outra cidade, somos aquilo que importa: somos Portugal!

“No Porto se conserva e permanece algo do perfil orgulhoso das cidades-república do Renascimento. (…) O Porto não é um sítio, um lugar, não é apenas um pedaço de geografia, mas um povo com o sentimento intenso de ser portador da esperança da sua permanência, de um tecido, de uma rede de significados e imagens que nos permitem a coabitação dentro de um espaço e cuja produção se refere a esse tecido. (…) As nossas raízes, as nossas vidas, algumas delas já puxadas e avançadas, depõem a favor da nossa pertença, pela razão e pelo coração, ao Porto” (Miguel Veiga, 2007).