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REN: Cabo submarino entre Portugal e Marrocos “poderá fazer sentido”, mas não existem planos concretos

A interligação teria um custo estimado entre os 600 e os 700 milhões de euros e serviria para transportar eletricidade entre o Algarve e o norte de África.
24 Maio 2021, 07h30

A REN – Redes Energéticas Nacionais não tem planos em cima da mesa para construir um cabo submarino entre Portugal e Marrocos. Este cabo submarino serviria para transportar eletricidade entre os dois países, mas a companhia não tem nada fechado.

“Este tema tem sido analisado, poderá fazer sentido em algumas circunstâncias, mas neste momento não está prevista a sua execução”, disse ao Jornal Económico fonte oficial da REN.

“Apesar de não haver planos concretos o tema mantém-se atual e alvo de conversas na medida que esta interconexão aumentaria a redundância dos sistemas energéticos dos dois países e seria benéfico em termos económicos e financeiros para Marrocos e Portugal”, destaca a empresa liderada por Rodrigo Costa.

Esta interligação tem um custo estimado de 600 a 700 milhões de euros, a dividir por Portugal e Marrocos, com uma capacidade para 1.000 megawatts (MW).

A proposta foi inicialmente apresentada em 2016 durante o primeiro Governo de António Costa, tendo havido vários encontros entre responsáveis dos dois países.

Com vista à construção da infraestrutura, a REN e a sua homóloga marroquina promoveram a realização de um estudo técnico-económico.

O estudo devia ter sido apresentado inicialmente no início de 2019, mas o prazo derrapou.  O Orçamento do Estado para 2020 previa que fosse concluído até ao final desse ano, mas até hoje, as conclusões do estudo nunca foram divulgadas. O JE questionou a REN sobre o estudo e as conclusões, mas não obteve resposta.

Em maio de 2018, a REN anunciava que tinha 400 milhões de euros para realizar novos investimentos até 2021. Na altura, a empresa incluiu a interligação internacional com o norte de África entre os seus projetos.

A autoestrada submarina de eletricidade tinha uma extensão prevista de 250 quilómetros entre o Algarve e a costa marroquina, com a criação de subestações nos dois lados do Atlântico.

“Marrocos é mais uma hipótese”, destacou Rodrigo Costa na apresentação do plano estratégico da REN em maio de 2018, citado pelo “Negócios”.

O gestor apontou então que o cabo submarino iria custar entre “600 a 700 milhões” de euros. Este investimento seria dividido em metade com o parceiro marroquino e os custos para a REN poderiam descer para os 25% se o investimento do lado português fosse feito em conjunto com outras empresas.

A ideia inicial deste projeto era exportar a eletricidade produzida a partir de fontes renováveis em Portugal para o país do norte de África. Mas várias alarmes começaram a soar perante a possibilidade do cabo submarino servir para Marrocos vender eletricidade barata a Portugal, mas produzida a partir de carvão.

Ora, com o retângulo a encerrar as suas duas centrais a carvão até ao final deste ano, faria sentido estar a apostar num projeto que daria ‘via verde’ para Portugal à eletricidade produzido com carvão em Marrocos?

Nesse sentido, o secretário de Estado da Energia avisou em setembro de 2019 que não iria haver cabo submarino para Marrocos se a questão da eletricidade poluente produzida em Marrocos não for resolvida.

“Essa questão já foi suscitada explicitamente por Espanha por causa das centrais a carvão em Marrocos, nós acompanhamos a posição espanhola. Espanha já contactou a Comissão Europeia no sentido de criar mecanismos tarifários de ajustamento”, disse João Galamba na altura.

“Isto também se prende com a possibilidade de haver uma interligação com Marrocos; não haverá uma interligação com Marrocos se estas questões não forem resolvidas, pela simples razão de que não se podem fechar centrais a carvão, e por em causa empregos, para depois fazer outsourcing para os mesmos empregos e a mesma tecnologia umas dezenas de quilómetros mais abaixo”, afirmou então o governante.

O país do norte de África produz esta eletricidade mais poluente a preços mais baratos nas suas duas centrais a carvão, pois não tem o peso da carga fiscal que existe nos países ibéricos sobre esta tecnologia. Desta forma, a eletricidade marroquina tem uma vantagem competitiva face à ibérica em termos de preço.

Alias, um estudo realizado pelo grupo de reflexão Sandbag, sinaliza esta contradição: Portugal está a fechar as suas centrais a carvão, mas vai continuar a consumir eletricidade poluente comprada fora da União Europeia, produzida em Marrocos e importada para a Europa via Espanha.

Espanha, e por consequência Portugal, estão entre os 13 países da UE mais expostos à eletricidade a carvão de fora da UE. No início de 2020, o Sandbag alertava que em Espanha a “produção de carvão doméstica está a colapsar, mas as importações de eletricidade a carvão de Marrocos estão a aumentar, onde mais interligações estão planeadas”.

Portugal está entre os seis países (Grécia, Hungria, Itália, Eslováquia e Finlândia) da UE que já se comprometeram a encerrar as suas centrais a carvão até 2030, “mas vão continuar expostos às importações de eletricidade gerada a carvão depois desta data sem não houver uma alteração nas políticas”, alertou este grupo de reflexão em janeiro de 2020.

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