A portuguesa Goalpoint nasceu há dez anos e trouxe as estatísticas do futebol. Não trabalha com nenhum dos “grandes” em Portugal e o CEO, Pedro Cunha Ferreira, critica a forma como se gastam tantos milhões na Liga em jogadores com base no “achismo”.
Há dez anos nascia a Goalpoint, um site especializado no tratamento estatístico de dados de futebol que veio mostrar que a ‘data science” tinha lugar nas discussões sobre o “desporto-rei” e nivelar a argumentação que ainda se baseia muito em arbitragem e tricas entre dirigentes.
Pedro Cunha Ferreira, CEO da Goalpoint, esteve na última edição do programa “Jogo Económico”, programa da plataforma multimédia JE TV, e explicou como tem sido esta jornada de dez anos e como têm desenvolvido o seu trabalho junto das empresas, profissionais e adeptos de futebol.
Como nasceu a Goalpoint?
A Goalpoint nasceu há dez anos. Antes, tive uma passagem de três anos pelo Sporting CP, na direção e na SAD e foi por volta dessa altura que comecei a perceber que havia uma oportunidade em Portugal e uma necessidade não identificada de trazer a parte da data science e da estatística para o futebol. Particularmente, fazia-me muita confusão algo que ainda acontece hoje em dia que é tomarem-se decisões de muitos milhões de euros baseadas no feeling ou 100% na parte observacional que também é importante. E isto ganha especial relevância num mercado como o nosso que depende muito de vendas, que passou a assumir as receitas extraordinárias como ordinárias.
No Sporting CP tentei introduzir este tema da data science mas nessa altura o clube não era bem o que é hoje (para melhor) e havia mil e uma prioridades mais urgentes do que dar ouvidos a um “nerd” que queria introduzir mais dados estatísticos no processo. Quando saí do Sporting, aí sim, comecei a pensar, com mais amigos que acreditaram na ideia, na oportunidade de criarmos uma empresa que fosse especializada em converter informação estatística em conteúdos ou conhecimento que depois podia ter várias utilidades desde a parte do futebol profissional (agentes, treinadores, clubes, federações) mas também aos media e aos adeptos até porque nessa altura a discussão em torno do futebol nos media tinha pouco a ver com o futebol e com o que fazem os artistas e os protagonistas (sobretudo tricas de dirigentes e muita arbitragem). Fazia-me muita confusão na altura como é que as marcas muito interessadas em associar-se ao futebol podiam estar ligadas àquele tipo de conteúdos sem ser pelo lado tóxico.
Era um dilema para as marcas?
Sem dúvida! Acredito que um diretor de marketing nessa altura tivesse um dilema muito grande que era estar associado ao futebol nessa altura. Muitas marcas foram e vieram nestas duas décadas. Explicámos às marcas que existia espaço para falar efetivamente do que fazem os artistas. Portanto, a ideia do Goalpoint surgiu há dez anos, na altura com poucas expectativas que viéssemos a cá estar por essa altura e sobretudo que viéssemos a ganhar esta dimensão junto dos nossos seguidores e de sentir o carinho por parte do público e dos jogadores ao longo deste trajeto. Ninguém nos pediu para criar a Goalpoint, não havia um estudo de mercado que apontasse esse caminho. O que fez a diferença é que desde a primeira hora não quisemos apenas ser uma empresa virada para o mercado profissional mas que queríamos também ter um papel, trazer aqueles conteúdos ao público em geral.
Quase um serviço público?
Exatamente. E que tudo isso pudesse ser exposto em redes sociais, na web, muitas parcerias com media, sempre tentando levar a discussão do futebol para aquela área. Obviamente, nunca seria a 100% mas querendo liderar essa transformação. Sentíamos, e isso concretizou-se, que havia uma geração muito mais jovem do que a minha (dos 18 aos 35 anos) e que também havia um público que cresceu com videojogos (Football Manager, FIFA, Pro Evolution Soccer) e muito habituada aos elementos estatísticos do jogo. Esse público foi quem aderiu, em Portugal e lá fora, a esta forma de estudar o futebol e tentar saber mais sobre o fenómeno.
O que é que mais os entusiasma neste trabalho?
O que mais nos entusiasma é o momento em que descobrimos um data point, uma informação que contraria o nosso “achómetro”, porque todos temos o nosso “achómetro” seja sobre um jogadores ou sobre uma equipa.
Os treinadores têm sido o motor do crescimento da Goalpoint?
Não falamos com muita recorrência desse lado da Goalpoint mas desde a primeira hora que imaginámos que nos podíamos constituir como um parceiro de clubes, treinadores, agentes na descontrução e preparação desta informação que nos chega em bruto. Confesso que a primeira vez que tivemos acesso a esta informação assustou-nos muito. Foram muitos anos a estudar, a aprofundar e a criar as nossas próprias métricas e a testar algoritmos. Na altura em que criámos a Goalpoint, nenhum clube em Portugal com exceção do SL Benfica trabalhava dados numa fase muito embrionária estatísticos no apoio à atividade profissional. Procurámos e conseguimos ser um parceiro externo. A mentalidade dos pioneiros ajudou muito e tivemos a sorte de chegar a contacto com o treinador Abel Ferreira que era muito curioso quando estava no SC Braga para preparar o trabalho antes e depois dos jogos e na altura de contratar. Trabalhámos com o Paulo Fonseca, com o Pepa e com a agência do Vinícius Júnior. Não trabalhamos com nenhum dos grandes em Portugal neste momento. O grande motor disto tudo foram os treinadores.