Os alunos de economia estão a aprender o que é um choque económico. Uma queda do preço do petróleo de 30% num dia, queda das bolsas entre 8% e 10% no mesmo espaço de tempo ou taxas de juro dos títulos do Tesouro americano a 30 anos de 1% são coisa rara; até a dívida pública britânica a 10 anos foi colocada esta semana, 2,25 mil milhões de libras, à taxa mais baixa de sempre, 0,08%. Se os otimistas dizem que a queda da bolsa foi pior na crise de 2008 ou que a do preço do petróleo se deve a desentendimentos entre Rússia e Arábia Saudita, o movimento de fundo está lá – o mundo prepara-se para um cenário complexo.

A Reserva Federal cortou de surpresa a taxa de juro em meio ponto e especula-se que não vai parar aqui. Trump anunciou um corte na tributação dos salários e deverá tornar público um pacote de medidas de estímulo económico terça-feira (passada), quando ainda há pouco os EUA criaram 273 mil empregos num mês, sinal que – parece ridículo dizê-lo – estavam de boa saúde. Por detrás disto está, em primeiro lugar, o Covid-19 e as medidas para controlar uma epidemia que, neste mundo globalizado, já alastrou da Ásia à Europa e Oceânia, e atinge a América do Norte.

Em Itália, 15 milhões de pessoas na Lombardia estão sob medidas de isolamento, mas Conte já anunciou a extensão a todo o país; em França estão proibidos os acontecimentos que juntem mais de mil pessoas; a Alemanha cancela feiras e a Irlanda os festejos do dia de São Patrício; New Jersey decretou o estado de emergência. A atividade económica retrai-se, fruto das medidas de exceção, sobretudo na Cultura e espétaculos e no Turismo e viagens, mas também as escolas interrompem as aulas e as creches fecham temporariamente, e as repercussões estendem-se a todos os setores da economia.

O que se pode fazer? A curto prazo, preparar a resposta dos sistemas de saúde e tomar medidas de contenção da propagação do vírus, viradas diretamente para o problema; contrariar os efeitos económicos, acelerando os pagamentos do Estado, criando pacotes de crédito que suportem empresas com reduções de receitas ou pagamentos, e cortando a tributação do trabalho e baixando a taxa de juro, para reduzir custos. Proativamente, apoiar a investigação científica destinada a combater o vírus. E tente não tocar na cara ou, mais, nem sequer pensar nisso.

Quanto tempo vai durar este estado de coisas? A resposta honesta é “o que for preciso”. Felizmente que a Europa, mesmo que vulnerável, já deixou para trás o pior da crise e tem alguma capacidade de resposta. A Alemanha está a preparar um programa de mais de 12 mil milhões de euros de investimento público, financiados com o excedente orçamental de 2019 – isto é, afinal os excedentes servem para alguma coisa. Para grandes males, grandes remédios, e um remédio é assim: sabe mal quando se toma, mas é muito útil quando se precisa.