Pela primeira vez na minha vida, vivi de perto um ataque terrorista. No último sábado, em Bogotá, Colômbia, uma bomba explodiu num centro comercial a cerca de duzentos metros do hotel onde estava hospedado. As ambulâncias rasgaram a harmonia de sábado à noite, as diferentes polícias irromperam pesadamente, múltiplos helicópteros sobrevoaram o bairro a baixa altitude; era o estado de sítio. Esta zona, conhecida por Zona T, é o ex-líbris da Colômbia próspera e cosmopolita, que vira uma página da sua história rumo a um futuro melhor.
O local escolhido foi o quarto de banho das senhoras do melhor centro comercial da cidade. O balanço final: três mulheres morreram e cerca de uma dezena ficaram feridas. Não se percebe ainda o alcance da selectividade de género do ataque, estando descartadas a oportunidade e facilidade, por se ter tratado de um terrorista masculino.
Aqui o terrorismo não é islâmico, estranho para nós, que esquecemos facilmente a ETA, o IRA, as Brigadas Vermelhas, o Bader Meinhof, com a repetição dos brutais ataques que o choque civilizacional em curso semeia nas nossas cidades. Aqui o terrorismo é antigo, vem dos mesmos de sempre e radica numa comunhão negra com os tais bandos que já esquecemos. Aqui os nomes FARC, ELN e MRP arrepiam o pacato cidadão que luta pelo direito à paz e à segurança. Desta vez, parece que foi o MRP, enquanto o ELN, que o alimenta, cinicamente afirmava que nos seus ataques só morrem civis colateralmente.
Estes bandos terroristas, herdeiros do marxismo e da perversão da teologia da libertação, foram e são instrumentais em diferentes planos. Afirmaram-se como organizações paramilitares poderosas na sua associação de domínio territorial com o narcotráfico, criando um estado dentro do Estado, dominando regiões inteiras e escravizando as suas populações. Os sequestros, os saques, os ataques, os assassinatos eram o seu dia-a-dia e modo de afirmação. Noutro plano, de alcance muito mais profundo, foram e são braços armados dos actores políticos da região. O criminoso idolatrado Ernesto Che Guevara participou e fomentou o terrorismo por toda a América Latina; estes sanguinários são chefiados por uma nomenclatura treinada e preparada em Cuba. Aqui sabe-se que o marxismo só por engano grosseiro será opção, logo passa-se à imposição pela força.
Em conversa com diversos colombianos, é recorrente chegarmos ao tema quente dos vizinhos. A Venezuela de Chávez-Maduro e a Bolívia de Morales são uma ameaça que paira nesta sociedade. As mulheres e homens que integram a nova classe média colombiana, que vivem em bons apartamentos, têm um ou dois automóveis, frequentam restaurantes e se assemelham mais à Europa do que aos países vizinhos, são a negação da miséria que alimenta o poder de Morales ou Maduro, são um exemplo que estes, pela sua natureza, gostariam de liquidar.
À mesa do café, a convicção é a de que, com a decrepitude cubana, o abalo do narcotráfico e o fim dos fundos soviéticos para o “desenvolvimento”, são os novos marxistas da região que alimentam o terror. Curiosamente, como nas madrassas radicais, a universidade persiste em manter o viveiro de radicalismo dos anos 60 e 70, recrutando e radicalizando os que revelam maior vulnerabilidade e permeabilidade a este tipo de manipulação.
Aqui sentimos como o progresso, a segurança e o bem-estar são as grandes ameaças à esquerda marxista. Compreendemos como estes revolucionários de pacotilha precisam desesperadamente da miséria e da sua perpetuação para escravizar a população através da absoluta dependência do Estado, seja através da bolsa família, da cesta básica ou qualquer outro logro. Assistimos ao desinvestimento na educação e formação cívica como modo de perpetuação da miséria, que alimenta a nomenclatura.
A Colômbia é de facto o oposto disto tudo, resiste neste meio adverso e envergonha com o seu desenvolvimento potências como o Brasil . A Colômbia chegou aqui na rejeição persistente e inteligente da esquerda que a tenta assustar com o terrorismo. A Colômbia resiste, enchendo no dia seguinte o centro comercial onde ocorreu o atentado com famílias determinadas na felicidade tão a custo conquistada. Estive lá com eles, com imensa admiração e profundo respeito, com o arrepio que a resistência determinada e corajosa nos provoca.
Curiosamente, à Europa pouco chegou deste atentado. À inteligência do costume escapou convenientemente este morticínio. As feministas de serviço estavam excitadas demais com a marchinha LGBT de Lisboa para se indignarem com as mulheres assassinadas em Bogotá, talvez por saberem quem as assassinou. Uma cortina de bloqueio, que não é politicamente inocente, afasta do mainstream noticioso os crimes covardes destes restos tóxicos de Che Guevara. “No pasa nada”.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.