A diferença entre saber o que fazer e como fazê-lo é por vezes um precipício inultrapassável. Já lá diz a expressão popular “De boas intenções está o inferno cheio”. Nem sempre temos a consciência desta enorme diferença entre ter informação, compreender a informação e agir de acordo com esse conhecimento. Só porque temos a informação não significa que nos comportemos de acordo com ela. Fumar mata. Mas saber isso não costuma ser suficiente para fazer com que se deixe de fumar.

A mudança à nossa volta ou a nossa própria mudança é muitas vezes um desafio complexo. A maior parte de nós não gosta de estar sempre a ter que se adaptar à incerteza do contexto em redor. A maior parte de nós não aprecia fazer mudanças sucessivas na forma como se comporta no dia-a-dia, nos seus hábitos de vida ou rotinas. Mudar ou adquirir um comportamento exige um esforço, energia, uma motivação associada à competência ou à percepção dela.

Todos nós fazemos mudanças, ora porque nos oferecem algo suficientemente interessante para o fazermos, ora porque sentimos prazer ou satisfação ao atingirmos os nossos objectivos de autonomia, competência ou relacionais.

No mundo de hoje mudar parece ser constantemente requerido para mantermos o que temos. Parecem ser mais os casamentos que não duram toda a vida. Parecem ser mais os empregos que não duram toda a vida. Paradoxalmente manter uma relação afectiva pode implicar mudar muitas coisas. Manter um emprego, o que temos ou outro, pode implicar muitas mudanças. Para além disso, o desenvolvimento económico e social é feito da mudança.

Se mudar implica competência e motivação é importante que saibamos antes de mais isto mesmo, ou seja, que é importante que tenhamos todos, cada vez mais, a literacia psicológica suficiente para ir reflectindo sobre o nosso nível de competências, num contínuo, agindo para nos mantermos actualizados, adquirirmos novas competências ou desenvolvermos as que temos, ao mesmo tempo que procuramos ter actividades onde consigamos ser autónomos, reconhecidos pelo desempenho das nossas competências e onde seja possível construir relações significativas com os que nos rodeiam.

Estaremos assim mais motivados e seremos mais competentes e por isso mais preparados para mudar. Num ciclo contínuo. As organizações e as suas lideranças têm cada vez mais que ser conscientes deste modo de ser(mos). Só assim, ajustarão as suas práticas de gestão, recorrerão sempre que necessário ao apoio de profissionais estudiosos do comportamento e dos processos mentais, adaptar-se-ão eles próprios e as suas organizações às mudanças do ambiente em que se inserem, agirão proactivamente na tentativa de as anteciparem, de prevenirem e serem resilientes nesse círculo de vã e interminável mudança.

Queremos ter sucesso nas transições digitais ou energéticas? Pensemos que não basta querer, pois é preciso mobilizar os comportamentos da população. É preciso promover a adesão aos comportamentos que são necessários, sejam eles de reskilling ou de simples hábitos. Não basta carregar num botão ou num gatilho, ou disparar uma bazuca, para acontecerem as transições e mudanças desejadas. É preciso bastante mais ciência aplicada sobre como as pessoas funcionam e fazem funcionar a sociedade.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.