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Northvolt. Goldman Sachs, Volkswagen e BEI entre os credores da parceira da Galp

A companhia sueca pediu proteção contra os credores nos EUA, contando com uma dívida total de 5,8 mil milhões de dólares e apenas 30 milhões nos cofres. A Northvolt é parceira da Galp no projeto da refinaria de lítio de Setúbal.
25 Novembro 2024, 16h27

A complicada situação financeira da Northvolt está a arrastar os seus credores e acionistas. A companhia sueca é parceira da Galp no projeto da refinaria de lítio de Setúbal.
Fundos geridos pelo Goldman Sachs Asset Management (AM) registam perdas de quase 900 milhões de dólares na Northvolt no âmbito do pedido de proteção contra credores nos EUA.
“Apesar de sermos um dos muitos investidores desiludidos com este resultado, este foi um investimento minoritário através de fundos altamente diversificados. Os nossos portfólios têm limites de concentração para mitigar riscos”, disse o banco norte-americano citado pela “Reuters”.
Também o Banco Europeu de Investimento (BEI) é outro dos credores citados no processo judicial no estado do Texas, EUA, com 313 milhões de dólares emprestados à companhia sueca, mas nos EUA.
A companhia sueca – co-fundada por Paolo Cerruti (na foto) – conta com uma dívida total de 5,8 mil milhões de dólares, mas apenas 30 milhões nos cofres.
Já a Volkswagen registou uma desvalorização da percentagem detida por si na Northvolt. A companhia alemã detém 21% do capital da sueca. As sucessivas desvalorizações do valor do ativo foram sendo registadas ao longo de 2024, mas a empresa não revela qual o valor atual (era de 693 milhões de euros no final de 2023, menos um quarto do valor face ao valor no final de 2022), segundo a “Reuters”.
A 22 de novembro, o CEO da Northvolt demitiu-se do cargo, um dia depois de a empresa ter pedido proteção contra credores nos EUA.

Peter Carlsson, também co-fundador da companhia, disse que a companhia precisa de angariar entre mil a 1.200 milhões de dólares (960-1.150 milhões de euros) para restaurar o negócio.

“Pessoalmente, este é um dia emocional”, disse o executivo que qualificou a empresa como um “bébé” para si, segundo a “Reuters”.

A empresa disse na quinta-feira que tinha apenas dinheiro para apoiar as suas operações durante uma semana, mas que conseguiu assegurar 100 milhões de dólares em novo financiamento.

A empresa emprega 6.600 trabalhadores em sete países.

O gestor vai manter-se no conselho de administração e manter-se como conselheiro sénior.

A Northvolt procura agora um novo CEO e o cargo vai ser ocupado interinamente com a administradora financeira Pia Alltonen-Forsell.

A companhia falhou algumas metas para aumentar a produção que tinha previsto anteriormente na sua fábrica de baterias no norte da Suécia.

“Fomos muito ambiciosos no timing em que pensámos que poderíamos atingi-lo”, afirmou o gestor.

A empresa sueca está a procurar um ou mais parceiros para financiar a sua reestruturação de forma a manter-se viável, o que inclui a conclusão de grandes fábricas de baterias na Alemanha e no Canadá.

No documento de proteção de contra credores, submetido no tribunal do Texas, a companhia estabeleceu o prazo do início de dezembro.

Caso não hajam ofertas, a companhia admite o cenário de “liquidação ordeira”.

“A Northvolt confia que pode evoluir com os seus milhares de milhões de investimento, tecnologia e instalações para atingir uma recapitalização que maximize o valor ou venda sob o capítulo 11”, segundo o documento citado pela “Reuters”.

Galp só avança com refinaria se lítio for extraído em Portugal e com “retorno apropriado”

Como escreveu o JE a 28 de outubro, a Galp garantiu que só vai avançar com a sua refinaria de lítio em Setúbal quando confirmar que vai haver lítio extraído em Portugal.

“Estamos nas fases finais de detalhes, como relacionados com a engenharia e com os incentivos. Muito trabalho foi feito e continua a ser feito”, começou por dizer o CEO.

“O mercado está muito desafiante. Não temos pressa de tomar uma decisão final de investimento (FID) até vermos retorno apropriado para o projeto. Não parece que estejamos lá”, acrescentou Filipe Silva na call com analistas para apresentar os resultados trimestrais.

O gestor mostrou a sua preocupação que o projeto fique “órfão, caso não haja mineração em Portugal. Não vamos tomar decisão final de investimento até vermos mineração em Portugal”.

É a primeira vez que o presidente-executivo da Galp revela preocupações tanto com a extração do lítio em Portugal, como com a rentabilidade do projeto.

O projeto tem sido noticiado, mas devido aos problemas financeiros do seu sócio: os suecos da Northvolt que tem estado a negociar um pacote de resgate no valor de 300 milhões de dólares junto de credores e investidores.

Esta pode vir a ser uma bóia de salvação para a parceira da Galp na refinaria de lítio de Setúbal que tenta assim ganhar tempo para estabilizar a sua produção e garantir financiamento para o longo prazo.

O projeto da refinaria de lítio para Setúbal viu o seu custo previsto subir de 700 milhões, estimado em 2022, para um valor entre os 1.100 e os 1.300 milhões de euros.

A Unidade Industrial de Conversão de Lítio (UICLi) está a ser desenvolvida pelo consórcio Aurora Lithium, da Galp e dos suecos da Northvolt.

A entrada em operação está prevista agora para 2028, dois anos mais tarde do que o inicialmente previsto. O projeto ainda aguarda pela decisão final de investimento pelos promotores. Por ano, vai sair daqui o lítio suficiente para equipar as baterias de 650 mil automóveis.

O BEI está a avaliar investir 825 milhões de euros nesta unidade, que será a maior da Europa quando for inaugurada.

Em termos de postos de trabalho, o promotor prevê a criação de 357 postos de trabalho diretos e três mil indiretos, “dos quais 70% altamente qualificados, assim como a nível nacional, pela promoção do crescimento sustentado da cadeia de valor das baterias de lítio em Portugal, através da produção de um produto que atualmente não integra a base produtiva do país”, segundo o estudo de impacte ambiental (EIA).

A Galp disse em meados de setembro que o “aumento do valor do investimento, atualmente estimado entre 1,1 e 1,3 mil milhões de euros, resulta do reforço da complexidade do projeto devido a um esforço de melhoria de processos de engenharia e de performance nas áreas ambiental –utilização integral de águas residuais, redução de emissões, componente de utilização de energias renováveis, etc. – e económica, e do aumento da sua capacidade das 28 para as 32 mtpa”.

Sobre a data em que podem tomar decisão final sobre o projeto, a companhia portuguesa disse em setembro.: “a Galp e a Northvolt continuam empenhadas na execução do projeto Aurora. No entanto, devido à natureza e complexidade do projeto, continuam a ser desenvolvidas ações (incluindo acesso a fundos nacionais ou europeus que nos permitam competir com outros projetos e que ainda não estão garantidos) e os estudos indispensáveis para a tomada de decisão final de investimento. É também determinante termos confiança sobre a data de início de produção de concentrado de espodumena das minas em Portugal”

Os suecos angariaram financiamentos de 10 mil milhões de dólares desde 2017, entre dívida e capital, mas a luta tem sido dura contra os gigantes chineses do sector, como a BYD ou a Contemporary Amperex Technology Co., que fabricam baterias há décadas e a preços muito competitivos.

O maior acionista da empresa, a Volkswagen, já garantiu que vai ajudar a Northvolt a aumentar a produção, mas não deu detalhes como. Já o segundo maior acionista da Northvolt é a Goldman Sachs AM que está a equacionar entrar no pacote.

bridge funding (um financiamento de curto prazo até uma solução definitiva) está a ser combinado por acionistas, credores e clientes que estão a participar neste pacote.

Este pacote iria garantir uma almofada financeira para assegurar um financiamento de longo prazo que garante a sustentabilidade da empresa.

Apesar da grande carteira de encomendas, a empresa tem tido dificuldade em entregar as baterias com qualidade e a um ritmo aceitável.

O cancelamento de um contrato de dois mil milhões de euros pela BMW em junho expôs os problemas da companhia, a par de uma desaceleração da procura por carros elétricos.

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