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“Nos restaurantes as regras têm de ser mais apertadas”, alerta Bastonário da Ordem dos Médicos

Em declarações ao Jornal Económico, bastonário da Ordem dos Médicos aplaude medidas anunciadas pelo primeiro-ministro para limitar a transmissibilidade do novo coronavírus, mas considera que é preciso reforçar medidas na restauração. Miguel Guimarães apela ainda para “uma mudança imediata de rumo na estratégia do SNS” e diz que ideias do Plano Outono-Inverno ainda não saíram do papel. E reforça o alerta que o SNS está novamente exposto “a uma disrupção grave no seu funcionamento”.
  • Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães
14 Outubro 2020, 18h10

O Bastonário da Ordem dos Médicos (OM) aplaude as medidas anunciadas nesta quarta-feira, 14 de outubro, pelo primeiro-ministro par conter a evolução de novos casos em Portugal que hoje ultrapassou a barreira dos 2.000 casos. Miguel Guimarães diz que “são importantes para tentar limitar a transmissibilidade do vírus e não considerar a hipótese de confinamento. Mas é necessário reforçar as medidas em setores como o da restauração, pois há vários restaurantes que não estão a cumprir as regras”. Bastonário volta ainda a apelar para “uma  mudança imediata de rumo na estratégia do SNS”.

Esta é a reação do bastonário OM ao Jornal Económico após o anúncio do Governo que decidiu elevar o nível de alerta para Estado de Calamidade para todo o território nacional. Esta medida. A decisão foi justificada pelo primeiro-ministro devido à evolução da pandemia em Portugal, tendo António Costa classificado como “grave”, e revelado um conjunto de novas medidas como a proibição de ajuntamentos superiores a cinco pessoas e o uso de máscara se torne obrigatório em empresas, escolas, universidades, forças armada s, forças de segurança e Função Pública.

“A existência de algumas regras mais apertadas é positivo. O confinamento, neste momento, não deve ser considerado, mas antes pensar e reforçar medidas nas áreas mais críticas como os lares, escolas e jantares ou almoços com muitas pessoas – que é mais perigoso de que uma ida a um evento cultural, porque ao contrário destes, quando estamos a comer estamos sem máscaras”, afirmou ao JE Miguel Guimarães, defendendo que “nos restaurantes as regras têm de ser mais apertadas, mesas com menos pessoas e só tirar a máscara ara comer e beber”.

O bastonário da OM considera ainda que “são importantes” as medidas anunciadas hoje por António Costa para travar a evolução da pandemia em Portugal e “não considerar a hipótese de confinamento” que, diz Miguel Guimarães, teria implicações fortíssimas para a economia e até para a saúde mental dos portugueses”.

Miguel Guimarães realça ainda a necessidade “uma mudança imediata de rumo na estratégia do SNS”, reiterando o apelo numa carta publicada no jornal “Público” e dirigida à ministra da Saúde, do atual e os anteriores Bastonários, onde dizem que “não há tempo a perder. Este é o momento do SNS liderar uma resposta global”.

“Esta carta é um grito de alerta de seis bastonários, porque o que está em causa é a vida das pessoas, Este grito é dado por pessoas com experiência na área da saúde, de diferentes gerações e áreas políticas completamente diferentes. Todos achamos a mesma coisa: neste momento, a estratégia que está a ser seguida para combater a covid-19 não é uma boa estratégia”, explica Miguel Guimarães, reforçando que “termos de pôr o sistema de saúde a funcionar em função das necessidades das pessoas e o que está a acontecer é eu as pessoas com doença não Covid estão a ficar para trás”.

Bastonário apela a mudança de rumo no SNS

O bastonário da OM reforça assim o tom de preocupação manifestado na carta aberta, hoje divulgada, onde o atual bastonário e anteriores (António Gentil Martins, Carlos Ribeiro, Germano de Sousa, José Manuel Silva, e Pedro Nunes) afirmam:  “estamos preocupados e compete-nos fazer esse alerta público. É vital que haja uma mudança imediata de rumo na estratégia do SNS. O SNS está novamente exposto a uma disrupção grave no seu funcionamento”.

Depois, relembram o Governo que a resposta à covid-19 retardou “de forma brutal” todos os outros cuidados de saúde: listas de espera, “100 mil cirurgias atrasadas, milhares de rastreios que ficaram por fazer, designadamente em oncologia, 17 milhões de meios e exames de diagnóstico e terapêutica, cinco milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários”, doentes AVC que não foram tratados, 7.144 mortes não-covid por explicar.

“Neste momento de emergência é muito complexo não reforçar a capacidade que existe no país e deixar tudo sobre os ombros dos médicos e de outros profissionais de saúde”, acrescenta ao JE Miguel Guimarães, voltando a questionar: “já estamos na segunda semana de outubro, em pleno outono, o que mudou de substancial na organização das pessoas e dos meios?”. Segundo este responsável “o Plano de Outono-Inverno tem uma série de ideias, mas operacionalização zero”. E questiona: “quais são os hospitais covid e não covid? Quais são os hospitais de retaguarda?”.

Oito medidas do Estado de Calamidade

Recorde-se que o primeiro-ministro anunciou nesta quarta-feira um conjunto de oito medidas do Estado de Calamidade, revelando que, a partir das 24 horas de hoje, deixarão de poder haver ajuntamentos na via pública de mais de cinco pessoas, sendo que esta limitação será abrangida a outros espaços de uso público de natureza comercial ou na restauração.

O Governo anunciou ainda a limitação dos eventos de natureza familiar como casamentos, batizados e outros que sejam marcados a partir de hoje, com um máximo de 50 participantes, “sendo que todos terão que cumprir as normas de afastamento físico e de proteção individual como seja o uso de máscara”.

Em quarto lugar, António Costa realçou ainda a proibição, nos estabelecimentos de ensino, nomeadamente nas universidades e nos politécnicos, de todos os festejos académicos e atividades de carácter não letivo ou científico tais como as cerimónias de receção de caloiros e outro tipo de festejos que implicam ajuntamentos”.

Foi ainda determinado um reforço das ações de fiscalização por parte das forças de segurança e da ASAE do cumprimento das regras divulgadas, quer na via pública quer nos estabelecimentos comerciais e de restauração.

Foi também anunciado o agravamento para 10 mil euros as coimas aplicáveis aos estabelecimentos comerciais e de restauração que não assegurem “o escrupuloso cumprimento das regras em vigor dentro desses estabelecimentos”.

António Costa divulgou ainda que este Estado de Calamidade passa também por uma recomendação do uso de máscara comunitária na via pública e também a utilização da aplicação StayAway Covid e a comunicação nesta aplicação sempre que haja um teste positivo. Neste sentido, o Governo vai propor ao Parlamento o uso obrigatório de máscara na rua e quer aprovação da medida rapidamente. Já o uso da app anti-Covid deve ser obrigatório em empresas, escolas, universidades, forças armadas, forças de segurança e Função Pública, afirmou o primeiro-ministro.

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