14 Março

Surpresa. O café fecha por tempo indeterminado a partir de segunda. “Ando a pôr creme à noite porque o desinfectante que uso é hospitalar e só se pode colocar de 6 em 6 horas”, diz a S.. “Temos os meus pais… a minha mãe com problemas de saúde”. A esplanada na praia: “Enquanto puder mantenho isto aberto! A B. está em casa com as crianças”. De tarde, na loja onde compro comida para as gatas silvestres e vadias, “devo fechar”. “Mas os bichos precisam de se alimentar”, replico. “Moro aqui ao lado, se alguém precisar…”.

15 de Março

O MT fica instalado. Ensaio. Imagem fraca mas aguenta-se a conversa durante meia hora. Falta experimentar em ambiente real com 300 alunos do outro lado.

16 de Março

Reuniões na universidade. Há quem admita que os professores podem vir à universidade dar aulas via teleconferência. Mas a verdade é que também há quem já os tenha enviado para casa. Cada vez mais pessoas com máscaras. Onde as arranjaram?

17 de Março

Comércio fechado. Como vão levantar a cabeça daqui a três ou quatro meses meses? Mas a livraria resiste. Está aberta. Faz sentido: em casa lê-se mais.

Máscaras na rua: creepy! As pessoas parecem muito disciplinadas. Cívicas? Aguardam tranquilamente que se entre na mercearia. Vêm chamar à porta. Lá dentro só seis. Luvas e máscaras em todas as funcionárias.

18 de Março

O estado de emergência limpa a trapalhada de Ovar. Mas acrescenta algo mais ao que já existe? Na Assembleia da República, Costa lívido. De noite, na TV, Marcelo preocupado mas assertivo. Poderia tudo isto ter sido antecipado?

19 de Março

Não se entende que na manhã do estado de emergência não esteja já em funcionamento um conjunto de medidas do Governo. À noite há medidas, mas que efeito jurídico têm se não estão em folha oficial ou se nem conhecemos o diploma governativo?

20 de Março

Perto de 48 horas sem medidas juridicamente vinculativas sobre a emergência. Será isto normal? Julga o Governo que pode legislar em conferência de imprensa?

21 de Março

O MT a funcionar na perfeição na universidade: 6.000 alunos de um lado e 450 professores do outro. Nunca professores e alunos estiveram tanto tempo em contacto.

22 de Março

O que nos havia de cair em cima! Seis anos depois de sairmos de uma, agora esta. Mais grave, estou convencido. Mas depende da duração da emergência. As pessoas confinadas em andares nas cidades acham graça aos primeiros quatro ou cinco dias. Depois cansa. Podem sair, mas com todos os cuidados, é certo. Acho que é isso que está a acontecer.

23 de Março

Passou uma semana sobre o início da trapalhada e parece que passou um mês. Não tinha esta sensação desde a minha infância e adolescência, quando as férias nunca mais acabavam…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.