No programa “Um Portugal em ideias”, de Pedro Santana Lopes, é preciso abusar de uma lupa para encontrar o pequeno capítulo “E a promoção de igualdade homens e mulheres” (Eixo 2: “Um Estado melhor – Investir bem nas políticas sociais”, pontos 126, 127 e 128), onde é brevemente mencionado o apelo à maior participação política das mulheres, acesso aos cargos de decisão, eliminação das desigualdades salariais e promoção de uma cultura de não violência. Entalado entre os capítulos “Ter sempre presente a inclusão social” e “A promoção dos direitos das crianças”, uma pessoa tem de ter cuidado para não deixar escapar aquelas dezoito linhas.

Na moção de estratégia global “É hora de agir”, de Rui Rio, o vencedor das eleições e novo líder do maior partido da oposição, nem usando uma lanterna se encontram referências à ala feminina, excepto no último parágrafo do documento de 56 páginas: “Contamos com o contributo das Mulheres Social-democratas, que constituem uma alavanca de mobilização e renovação do PSD.” Ficamos sem saber nesta enigmática frase que mobilização e renovação é esperada das social-democratas, se é esperado ocuparem cargos de topo ou se basta baterem palmas para o sucesso do partido.

A política nacional tarda em compreender o que a economia já percebeu há muito – que a próxima grande força profissional e económica está do lado delas.

Nas economias mais prósperas, as mulheres dominam 2/3 do orçamento familiar, a nível mundial, e 85% das compras do consumo familiar são decididas por elas. Em Portugal constituem uma participação cada vez mais forte no mercado laboral, são a maioria (60%) dos alunos no ensino superior e estão perto também de atingirem a maioria na investigação científica. Pese embora a qualificação superior das mulheres, estas continuam a auferir salários mais baixos nas mesmas funções, 17,8% de diferença salarial, bastante acima da média europeia.

É por isso que agora assistimos na televisão a anúncios a carros e detergentes protagonizados por modelos masculinos semi-nus, mas na Assembleia da República tarda a chegar a representação efectiva e mudanças nas leis e na sociedade para colmatar velhos problemas como a violência doméstica ou o feminicídio.

As mulheres no PSD constituem 48% do partido. Ora, com programas destes, se os candidatos fossem avaliados apenas por elas teriam chumbado ambos nas urnas. Se contam com as mulheres social-democratas enquanto alavanca do sucesso do partido, é melhor incluírem-nas, a começar por convidar umas quantas para redigirem os próximos programas para não tornarem a cometer erros grosseiros deste calibre. Isto nem a um meio piropo chegou, cavalheiros.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.