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Nova associação quer distribuir medicamentos no SNS

A ADIFA representa 87,9% do mercado da distribuição de medicamentos e produtos de saúde e fatura 2.000 milhões de euros por ano.
19 Maio 2017, 16h10

As seis maiores empesas e cooperativas de distribuição de produtos farmacêuticos a operar em Portugal criaram uma nova organização representativa – a ADIFA – Associação de Distribuidores Farmacêuticos – e estão disponíveis para participar no processo logístico de distribuição de medicamentos dentro do próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Até agora, as empresas de distribuição de produtos farmacêuticos eram representadas pela Groquifar.

A nova associação representa 87,9% de um mercado que faturou cerca de 2.000 milhões de euros no ano passado.
A cisão foi formalizada já em maio, ao mesmo tempo que a ADIFA era formalmente apresentada.
Em entrevista ao Jornal Económico, Diogo Gouveia, presidente da nova associação – e que até aqui presidia à divisão farmacêutica da Groquifar –, justificou a separação com a necessidade de maior visibilidade e de defesa dos interesses do setor.
“Na Groquifar, não tínhamos a visibilidade [que desejávamos] e o nosso interesse estratégico devidamente defendidos”, refere, explicando que “as empresas de distribuição farmacêutica integravam a divisão farmacêutica da Groquifar, que contava com 45 associados, muito heterogéneos e muitas vezes com interesses estratégicos distintos”.

“Sentimos necessidade de criar uma associação que defendesse o interesse estratégico das empresas que asseguram a cadeia de distribuição grossita full liner, distribuidores que dispõem de especialidades farmacêuticas, medicamentos veterinários, dispositivos médicos, dermocosméticos e substâncias ativas em quantidade e variedade suficientes, bem como a estrutura logística necessária para garantir uma cobertura contínua de todo o território nacional”, sublinha Diogo Gouveia.
A cisão ocorre num momento particularmente crítico para o setor, que entre 2010 e 2014 sofreu uma diminuição de cerca de 30% da faturação, ainda que mantendo o mesmo volume, por via de reduções administrativas de preço e das margens de comercialização, quer dos distribuidores, quer das farmácias.

Um cenário que, salienta Diogo Gouveia, ainda não foi completamente ultrapassado: “Neste momento, em processo de insolvência e com planos especiais de recuperação, estarão cerca de 10% das cerca de 2.800 farmácias existentes em Portugal, a que se juntam muitas outras que procuram regularizar as dívidas através de negociações diretas com os distribuidores”.
De acordo com estimativas da ADIFA, as dívidas das farmácias aos armazenistas ascendem, atualmente, a cerca de 250 milhões de euros.

Ao Jornal Económico, Diogo Gouveia reconhece que “serão necessários muitos anos para resolver o problema que se criou ao longo destes três, quatro anos”.

Alargar a distribuição ao Serviço Nacional de Saúde
Entre as propostas da nova associação destaca-se a defesa de um orçamento plurianual para o setor da saúde, que permita um planeamento de médio/longo prazo e a resolução da desorçamentação crónica que afeta o setor pelo menos desde 2005,e que tem conduzido a um aumento da dívida e dos prazos de pagamento a fornecedores.

Em março, a dívida em atraso dos hospitais EPE (com mais de 90 dias) ascendia a 701 milhões de euros, o que representa uma subida de cerca de 29 milhões face ao mês anterior e de mais de 150 milhões de euros face a igual período de 2016.
Ao Ministério da Saúde, a ADIFA propõe criar condições para que alguns medicamentos atualmente dispensados exclusivamente pelas farmácias hospitalares passem, também, a ser dispensados nas farmácias de oficina, obviando as deslocações dos doentes aos hospitais, ao permitir que estes possam aceder à medicação nas farmácias próximas do local de residência.

Entres os fármacos cuja dispensa em farmácias de oficina é defendida pela ADIFA incluem-se, entre outros, os de administração oral indicados no tratamento da infeção por VIH, oncologia e doenças autoimunes.

“Obviamente que tem de ser assegurada a comunicação e articulação com o médico, mas não há motivo algum que justifique que uma pessoa tenha de fazer entre 100 a 150 quilómetros para ir buscar um medicamento”, afirma Diogo Gouveia.
A ADIFA manifesta, ainda, total disponibilidade para participar ativamente na logística de distribuição de medicamentos dentro do próprio SNS, “acrescentando valor na gestão dos stocks e na redução de custos operacionais, bem como para participar na decisão governance do Sistema de Verificação de Medicamentos em Portugal, no âmbito da diretiva europeia dos medicamentos falsificados, que terá que ser transposta para o direito interno até 2019”, explica Gouveia.

Esta proposta já foi apresentada ao secretário de Estado da Saúde, Fernando Araújo, que se mostrou interessado na realização de um estudo de viabilidade.

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