Os recentes resultados do “Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional” indicam que, em 2018, o investimento em ciência cresceu 168 milhões de euros, atingindo 1,37% do PIB (1,33% em 2017). Importa sublinhar que este crescimento foi impulsionado sobretudo pelo setor privado (mais 7,2%), que é responsável hoje por mais de metade da despesa nacional em I&D.

Desde 2015, o investimento das empresas em inovação aumentou 35%, o que traduz um reforço do emprego qualificado no setor privado e uma aposta crescente na criação de valor a partir do conhecimento.

Mas no que se refere ao registo de patentes, que resulta em muitos casos de parcerias entre os setores público e privado, o nosso tecido empresarial ainda tem ampla margem de progressão, conforme é referido no Painel Europeu da Inovação 2019, publicado recentemente pela Comissão Europeia.

Portugal representa apenas 0,1% dos pedidos de proteção da propriedade intelectual realizados na Europa e perdeu cinco lugares no ranking do EPO – European Patent Office, passando de 30.º lugar em 2017 para 35.º no ano seguinte entre 38 países. Ora, sem conhecimento patenteado, as empresas portuguesas perdem vantagens competitivas e capacidade de diferenciação na economia digital.

Isto leva-nos à velha questão da articulação das empresas com as universidades, centros de I&D e institutos de interface. Como sabemos, as parcerias com instituições académicas e científicas potenciam todo o processo que vai da produção de conhecimento à proteção dos respetivos direitos de propriedade intelectual.

Acontece que há ainda entraves a uma boa conjugação de esforços e competências entre os dois mundos: empresarial e académico. Entraves, esses, que podem ser ultrapassados no quadro de uma nova relação empresas-academia.

Antes de mais, há que valorizar a carreira académica dos investigadores em função do seu trabalho com o tecido empresarial, o que, além de constituir um incentivo à inovação nas universidades, tenderia a esbater a ideia de que os projetos com as empresas não têm a relevância académica dos projetos científicos tout court.

Por outro lado, abriam-se novas perspetivas de integração de doutorados nas empresas, uma necessidade há muito identificada em Portugal. Os doutorados funcionam, aliás, como interlocutores preferenciais das instituições académicas e científicas na sua relação com as empresas.

Parece-me também que, mais do que assinar protocolos de colaboração abstratos, empresas e instituições académicas e científicas devem identificar objetivos concretos e trabalhar em conjunto para a sua concretização de forma pragmática e relativamente informal.

Sendo que o diálogo entre as duas partes pode com vantagem ser mediado por organismos públicos, instituições de apoio ao desenvolvimento, associações empresariais e organizações socioprofissionais, por exemplo.