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Nova revolução da SIBS abre os bancos a tudo

A dona do Multibanco – a FinTech nacional mais conhecida -, entrou no futuro. Depois do MB Way, lança o SIBS API Market, e abre a banca a outros setores.
26 Fevereiro 2019, 15h45

Em 1997, quando apareceu a Netflix, o mercado de aluguer de vídeos era dominado pela Blockbuster. Ao contrário do serviço de streaming da Netflix, alugar um filme na Blockbuster era um processo longo, ineficiente e, caso deixasse passar o prazo de devolução da cassette VHS, pagava-se uma coima por cada dia de atraso.

O board da empresa recusou adaptar o modelo de negócio, em parte, porque as coimas tinham bastante peso na faturação total da Blockbuster. Em 2000, as coimas representaram 12% das receitas da empresa, ou seja, 800 milhões de dólares.

Dez anos depois, a Blockbuster faliu. Vingou a Netflix porque se adaptou à evolução da experiência de consumo dos consumidores.

Em Portugal, a SIBS é a Netflix dos serviços de pagamentos. Com o MB Way, pagar tornou-se tão ágil como ver um filme na plataforma de streaming. Segundo a CEO da SIBS, Madalena Cascais Tomé, todos os meses fazem-se mais de um milhão de transferências através do MB Way.

“Os hábitos de pagamento e, sobretudo, os hábitos de compra, estão a alterar-se. Esta é a grande diferença” com o passado, disse a CEO.

O MB Way é o espelho da alteração do paradigma dos pagamentos, que se querem mais ágeis, rápidos, seguros e instantâneos, potenciada pelas tecnologias digitais, e que culminará com o desaparecimento das notas e moedas.

Mas o numerário tem sido “resiliente”, disse a CEO. Prova disso é que “os pagamentos eletrónicos já existem há 35 anos, mas ainda há pagamentos em numerário”.

Certo é que os pagamentos eletrónicos vieram para ficar e estão a ser utilizados cada vez mais em Portugal, uma tendência em crescendo e que acompanha a evolução da experiência de compra e dos pagamentos na era digital.

“As compras e os pagamentos eletrónicos têm vindo a aumentar, cresceram três vezes mais do que os levantamentos nos últimos dez anos”, realçou Madalena Cascais Tomé. “A própria evolução para o comercio online vai acelerar esta tendência, porque no digital e no e-commerce todas as compras são eletrónicas, e o comércio digital está a crescer quatro vezes mais do que as compras físicas”, frisou.

A CEO acredita que as tecnologias digitais vão potenciar a inovação em torno da experiência do cliente, traduzindo-se na “convergência” de vários setores de atividade.

Central neste contexto de confluência é o “conceito de mobilidade porque podemos fazer tudo, em qualquer sítio e a qualquer hora”, explicou Madalena Cascais Tomé. “Isso obriga a uma adaptação de todos os ecossistemas, não só do financeiro, mas também do comércio, do retalho, e de todos os outros setores “, salientou.

Isto significa que onde dantes havia uma separação nítida entre diferentes indústrias, há agora diluição, numa articulação digital e conveniente em benefício do consumidor.

No contexto da Diretiva comunitária de Serviços de Pagamento 2 (DSP2), “os serviços financeiros estão a dar o exemplo para a abertura do acesso à conta ou para a iniciação do serviço de pagamentos”, desde que haja autorização prévia do consumidor, referiu a CEO da SIBS.

 

Troca de informação imediata

Na prática, num futuro (muito) próximo, sempre que alguém contratar um serviço de telecomunicações, por exemplo, deixará de ter de confirmar um conjunto de informação para aderir ao serviço.

Entre as principais inovações regulatórias operadas pela DSP2, a diretiva prevê a utilização dos API – Application Programming Interface, que são formas padrão através das quais os sistemas bancários se abrem às novas tecnologias e permitem que elas integrem funcionalidades.

Assim, não será necessário confirmar um conjunto de informação para aderir a um pacote de telecomunicações (ou outro serviço), porque a operadora consegue recolher as informações bancárias junto dos bancos onde estão as contas.

Neste sentido, tal como fez com a infraestrutura de multibancos, a SIBS vai lançar brevemente no mercado a SIBS API Market, plataforma de open banking “que vai permitir o desenvolvimento de serviços entre os vários participantes, quer os bancos, quer estes novos players, que vão poder, através das APIs, ter acesso à conta, iniciação de pagamentos e confirmação de fundos [dos clientes], e desenvolver novos casos de uso” inovadores para o consumidor.Da próxima vez que comprar um bilhete de cinema online, já não terá de inserir o número do cartão de crédito, o seu nome e o código que vem na parte de trás do cartão de crédito.O mesmo aplicar-se-á às compras de bilhetes de avião, pagamentos de água e luz, alojamento ou compras do supermercado. Isto porque, o cinema aonde vai, a companhia aérea, a fornecedora de água e luz, o hotel onde vai ficar e o supermercado da sua preferência vão aceder à informação bancária da conta do cliente, desde que tenham a respectiva autorização.

Passadas décadas e onze mil multibancos depois, a SIBS “ainda tem o ADN de uma startup”, salientou Madalena Cascais Tomé.

Num ciclo de inovação contínuo, a SIBS lançou este ano, entre outros, o serviço “Viva Go”, que associa o cartão Viva Viagem ao cartão bancário do utilizador, e que desconta de forma pós-paga as viagens que utiliza. “Torna-se numa tipo de cartão contactless”, explicou a CEO. O dinheiro físico há-de desaparecer; só não se sabe quando.

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