Em setembro começa um novo ano letivo. Começam as escolas, as universidades, e muitos de nós recomeçam o trabalho depois de um descanso mais ou menos retemperador.

É, em muitos casos, o começo também das novas temporadas das séries nas várias plataformas, muito esperadas por alguns e que nos vão acompanhando ao longo do ano. Tal com as novas temporadas, o ano político arranca daqui a uns dias. E, tal como em relação às séries, muitos de nós estão curiosos por saber o que vai acontecer nos próximos episódios.

Como se vai desenvolver a guerra? Como vai evoluir a situação em Taiwan? que impactos terão estes acontecimentos dos grandes palcos geopolíticos, para a economia europeia e, em particular, para Portugal? Mais perto de casa, os alemães já começaram a marcar a agenda em relação às regras de dívida e deficit. Como se irá fechar este dossiê?

Outro tema que seguramente vai marcar o ano económico e político é a evolução da inflação. Será ou não temporária? Resolver-se-á com medidas do lado da procura, ou sendo uma inflação gerada sobretudo do lado da oferta (muito às custas dos bens alimentares e do preço da energia) ter-se-á que resolver do lado da oferta? Vamos ou não entrar num novo período de estagnação ou mesmo recessão?

Dentro de portas, além destas questões e dos habituais temas políticos, do ponto de vista de política económica a rentrée traz sempre a discussão sobre o Orçamento do Estado (OE). Não invejo o ministro das Finanças, que terá que discutir o primeiro OE inteiramente da sua autoria num contexto de tamanhas incertezas.

Irá ser este Orçamento um documento de política contra cíclica? Será que vamos ver medidas novas, criativas, fora da caixa, que permitam verdadeiras políticas sociais e de combate à pobreza e desigualdade, sem porem em perigo o cumprimento das regras europeias? Até que ponto este executivo socialista, com maioria absoluta, irá ter coragem para fazer verdadeiramente diferente?

Do meu ponto de vista, devo confessar que além dos receios naturais de quem vê uma crise no horizonte depois de dois anos de pandemia, as minhas maiores preocupações para a economia doméstica, são duas e de natureza diferente.

Por um lado, a definição de política monetária de combate à inflação. Pode ser determinante para definir a extensão e profundidade da crise que se advinha, pode afetar o investimento, pode complicar a vida a muitos que têm créditos (nomeadamente à habitação). Mas pode efetivamente ser o “garrote” de que se precisa para controlar esta inflação que muitos de nós achávamos ser um fenómeno do passado.

Por outro, a execução do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência. Estamos a ter uma oportunidade única de usar fundos (que já estavam para terminar há muito e que regressaram devido à pandemia de Covid-19) para fazer o salto estrutural de que se fala há décadas. O dinheiro é muito, mas os prazos são muito apertados e têm regras estritas. Desde o início que defendo que o aproveitamento deste balão de oxigénio teria que ser feito com uma estratégia muito bem definida e uma máquina muitíssimo bem oleada.

Não vejo claramente nenhuma das duas, mas posso estar ainda com a visão turva pelo sol e um bom descanso no Algarve. Espero, sinceramente, que sim. Mas aguardo ansiosamente pelas “cenas dos próximos capítulos…”.