A região Norte lidera a captação de incentivos para investimento empresarial do Portugal 2020, concentrando quase 50% dos fundos europeus destinados a esse fim. De resto, a indústria transformadora, localizada sobretudo no Norte, captou cerca de 75% dos incentivos já aprovados, com destaque para as fileiras do têxtil, do calçado, da metalomecânica, dos plásticos, da eletrónica e do papel. São também os empregadores do Norte quem regista, segundo um estudo recente, a maior subida nas intenções de contratação, o que permite antecipar uma criação líquida de emprego na ordem dos 5% até ao final do ano. A tudo isto podemos somar os recordes de exportações, em 2016, de setores tradicionais centrados no Norte, como o têxtil e o calçado.
Duas conclusões se podem tirar destes indicadores: por um lado, a grande dinâmica da indústria tradicional nortenha e, por outro, a crescente competitividade internacional do “made in Portugal”.
Depois do auge vivido nos anos 80/90 pelos grandes grupos do Norte, assistimos hoje ao ressurgimento da força industrial da região, envolvendo quer alguns dos antigos protagonistas quer empresas mais recentes. Mas em ambos os casos há um denominador comum: a adoção de novos modelos de negócio industriais.
Os modelos de negócio baseados no baixo custo da mão de obra, em pouco valor acrescentado e em estruturas industriais pesadas de labor intensive foram abandonados, em certa medida devido à concorrência dos países asiáticos e do Leste europeu. A indústria do Norte tem agora novos fatores de competitividade (tecnologia, design, criatividade, branding, etc.), situa-se em cadeias de valor mais lucrativas, emprega capital humano mais qualificado e procura desenvolver produtos diferenciadores.
Nesta mudança de paradigma, as empresas passaram a centrar a sua atividade em funções até então menos valorizadas, como a criação e gestão de marcas, a conceção de produtos, a inovação, o marketing e o controlo dos canais de distribuição. A atividade industrial ganhou ainda uma nova dimensão: o digital. Surgiu assim a indústria 4.0, que consubstancia a introdução de tecnologias digitais no setor industrial, em áreas que vão desde a produção à comercialização dos produtos.
Por outro lado, verifica-se a valorização internacional do “made in Portugal”. Se até há pouco tempo a origem portuguesa de um produto era um handicap no mercado externo, hoje já não é assim. Em muitos casos, a etiqueta “made in Portugal” acrescenta valor e é um fator diferenciador e de notoriedade. Isto porque entre empresários, investidores e consumidores estrangeiros há já a perceção de que os produtos de marcas portuguesas são fabricados com qualidade, incorporando bons materiais, design e tecnologia. Acresce que quem procura a nossa indústria tem, na generalidade dos setores, a garantia de capacidade de resposta e flexibilidade no fornecimento.
Mas há, naturalmente, ainda uma grande margem de progressão para o setor industrial e para o Norte. Apesar da qualidade dos centros de inovação da região e dos avanços já alcançados ao nível da transferência de conhecimento, a verdade é que as sinergias entre o sistema científico e tecnológico e o tecido empresarial ainda estão longe da intensidade e da produtividade desejadas.
Além disso, a cooperação entre indústria e startups não é ainda muito frequente, prejudicando a criação de novos modelos de negócio. Importa também desenvolver novas marcas e consolidar as existentes, o que exige um esforço acrescido nas áreas do marketing, do design e da internacionalização.