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Ferramentas para agilizar medicação, gerir ensaios clínicos e melhorar informação nos hospitais chegam ao mercado em 2019

MedOn, SIGEC e gRUL são os três primeiros projetos desenvolvidos pelo Glintt Inov – o segmento de inovação da tecnológica portuguesa – a apresentar-se ao mercado, no início do próximo ano. No total, somam um investimento de cerca de 920 mil euros.
17 Dezembro 2018, 09h30

Chamam-se MedOn, SIGEC e gRUL e são os primeiros três projetos da Glintt Inov a ir para o mercado. Os nomes não ficam no ouvido, mas, quando é de saúde que se fala, não é esse o objetivo. Estas ferramentas, que estão a ser desenvolvidos no Porto e somam um investimento de cerca de 920 mil euros, encontram-se em fase piloto e, no primeiro trimestre do próximo ano, estão prontas para serem apresentadas aos hospitais, centros de saúde e de ensaios clínicos.

Os projetos nasceram da plataforma de inovação da tecnológica portuguesa, que conta com cerca de 4 milhões de euros para investir na transformação digital na saúde.  Nuno Vasco Lopes, CEO e presidente da Glintt – Global Intelligent Technologies, afirma ao Jornal Económico que a Glintt Inov é a “materialização” da aposta da empresa na inovação.

“Além do que desenvolvemos internamente, termos um programa e meios para apoio direto a ideias e projetos disruptivos desenvolvidos por empreendedores dentro e fora da nossa empresa. Não estamos à espera de que os clientes nos peçam uma solução para resolver um problema, mas adiantamo-nos a esta necessidade, o que é possível graças ao nosso contacto próximo com as entidades de saúde com as quais temos fortes relações”, refere.

João Paulo Cabecinha, administrador executivo e número um da Glintt Inov, considera que esta iniciativa é importante para o setor, porque é partir dela que saem soluções que permitem melhorar a qualidade de vida dos portugueses. A seu ver, a Glintt Inov “é uma plataforma de inovação na medida em que é um agregador de entidades e centros de competência, guiados pela mesma escala de valores, promovendo as condições ideais para equipas desenvolverem os seus projetos disruptivos para a área da saúde”.

Afinal, quem são o MedOn, o SIGEC e o gRUL?

O MedOn tem como objetivo reunir no mesmo local toda a informação sobre os medicamentos que um utente está a tomar, de forna a ajudar médicos, enfermeiros e farmacêuticos a evitarem incongruências nas prescrições. A plataforma, desenvolvida por cerca de 20 pessoas, surgiu de uma parceria com o Centro Hospitalar da Covilhã iniciada há dois anos e envolveu um investimento total de aproximadamente 600 mil euros.

“Sabemos que havia muita informação dos medicamentos desagregada e dispersa e que existia, e ainda existe, alguma dificuldade em perceber a lista de medicação atualizada dos utentes. Muitas vezes, nas conversas que o médico tem com os doentes, são tomadas decisões com informação clínica muito reduzida”, explicou José Barros Guerra, gestor de produto em Farmácia e Logística.

O MedOn, que entrará em piloto no primeiro trimestre de 2019, assenta sobretudo em quatro pilares: um portal para o médico perceber a medicação que tem sido prescrita ao paciente; um ecrã para o farmacêutico confrontar e validar aquilo que está a ser prescrito no hospital e o que estava a fazer em casa (identificar discrepâncias); aplicação para, fora do hospital, o doente registar as suas tomas, receber alertas e informação trabalhada no portal do médico; indicadores de monitorização deste processo, para medir os custos e os erros evitados (por exemplo: assinalar quantas duplicações de doses/medicamentos foram registadas).

José Barros Guerra acredita que que haverá otimização de tempo e de recursos com estas novas ferramentas”. Ao jornal, refere que se candidataram ao Portugal 2020 – de onde obtiveram um incentivo de 315 mil euros por via da Agência Nacional de Inovação – e se propuseram a aliar o Centro Hospitalar da Covilhã e a Glintt para criar uma plataforma que conseguisse implementar processos de reconsolidação terapêutica e proporcionar mais informação para os médicos e outros profissionais de saúde.

Com este projeto, pretende-se que haja pontos de contacto não só quando o doente está a ser internado: que informação traz quando vem de fora e que informação leva quando tem alta (quando vai depois a um consultório privado, centro de saúde, farmácia comunitária…)”, defendeu.

Quanto ao SIGEC, criado em parceria com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, visa apoiar os profissionais de saúde e investigadores a gerirem de forma mais eficiente os ensaios clínicos, da candidatura à implementação. No fundo, este projeto, que está a ser trabalhado em parceria com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, quer auxiliar os centros de ensaios clínicos em termos de caracterização e acompanhamento do ensaio e no departamento financeiro.

Tiago Amaral, gestor de produto de Hospitalar e Logística, esclarece que a solução consiste em três parâmetros: um portal externo direcionado à indústria; uma avaliação do ensaio por parte da instituição em que se insere (adicionando pacientes, por exemplo), monitorizando-o; e indicadores, que agregam os dois anteriores.

“O que existe neste mercado para os centros são soluções CTMS (Clinical Trial Management System), as mesmas utilizadas pela indústria, com grande valor monetário de aquisição. Não estão focadas em quem executa o ensaio clínico”, alerta o responsável pelo projeto, que pretende diminuir (ou eliminar) obstáculos nos ensaios clínicos made in Portugal.

Tiago Amaral conta que a principal lacuna que levou ao desenvolvimento deste trabalho foi o número reduzido de ensaios clínicos feitos a nível nacional. “Duas das características sempre apontadas eram tempo o aprovação e os fatores que contribuíam para que esse tempo fosse elevado: a comunicação dispersa, a falta de uma plataforma integradora entre todos os intervenientes…”, enumera.

A chegada do novo sistema ao mercado, que teve um investimento em torno dos 250 mil euros, ambiciona maior transparência e competição entre os centros de ensaio, e que tanto ganhe o paciente como a economia portuguesa, de acordo com o mesmo porta-voz: “Quanto mais competitivos formos mais os cidadãos portugueses acedem a terapias inovadoras e estar na linha mais moderna de tratamentos, com benefício económico para o país, uma vez que esses tratamentos ficam sem custos”.

Já o gRUL, cuja finalidade é agregar informação dentro de uma unidade hospitalar e processá-la em tempo real, teve um financiamento total de 70 mil euros. Todas as funcionalidades deste programa estão disponíveis através de API (Application Programming Interface) e têm como intuito de validar as ações dos utilizadores e alertar em caso de erros, nomeadamente nos casos em que a app do médico não possui toda a informação necessária para a validação da prescrição. Pedro Rocha, head  de Software Architectur e responsável pelo projeto, alerta que os hospitais são “heterogéneos” nos sistemas de informação e que “nenhum clínico é capaz de processar tanta informação num espaço tão curto de tempo”, o que motivou a investigação em torno de uma nova plataforma.

“Sendo um hospital, por norma, um aglomerado de sistemas, não existe um ponto que concentre toda a informação necessária ou que a disponibilize para os restantes sistemas. Muitas vezes, a prescrição é feita na aplicação do médico e as administrações são registadas na aplicação do enfermeiro. Com o gRUL existe a capacidade de receber eventos de uma forma standard de todas aplicações. Por cada evento recebido é feito o match com um conjunto de regras, e em caso positivo, são gerados alertas/notificações”, afirma fonte da empresa.

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