[weglot_switcher]

Novas tarifas dos EUA mereceram resposta negativa global da União Europeia

Naquela que é considerada um atentado à globalização, todos os países assumiram que a decisão de Donald Trump é perversa para o comércio mundial. Uma resposta global contra a tentativa de acabar com a globalização.
Emmanuel Macron
French President Emmanuel Macron looks on during an official welcome ceremony for the President of Angola, Lourenco, at the Hotel des Invalides in Paris, France, 16 January 2025.  EPA/LUDOVIC MARIN / POOL MAXPPP OUT
4 Fevereiro 2025, 07h00

Num quadro em que os líderes europeus estão a preparar-se para as novas tarifas dos EUA aos produtos exportados para lá exportados – depois de Donald Trump impor impostos abrangentes sobre México, Canadá e China que afetarão bilhões de dólares em comércio -a resposta é de recusa e preparação de medidas retaliatórias. Em paralelo, os mercados de ações e os mercados monetários globais caíram esta segunda-feira devido a preocupações de que as tarifas desencadearão uma guerra comercial economicamente prejudicial para todos.

Os líderes da União reunidos em cimeira informal em Bruxelas esta segunda-feira disseram que a Europa estaria preparada para reagir se os Estados Unidos impusessem tarifas, mas também pediram razão e negociação. O presidente francês Emmanuel Macron disse que se a UE fosse atacada nos seus interesses comerciais, teria que “se fazer respeitar e, assim, reagir”. E acrescentou que as declarações recentes dos Estados Unidos estão a pressionar a Europa a ser mais forte e mais unida.

O chanceler alemão Olaf Scholz, a maior economia da União e altamente dependente das exportações, disse igualmente que o bloco vai responder, se necessário, com as suas próprias tarifas contra os Estados Unidos, mas enfatizou que seria melhor para os dois blocos chegarem a um acordo sobre comércio. “Devemos e faremos isso, mas a perspetiva e o objetivo devem ser proceder de forma a que as coisas se reduzam à cooperação”, acrescentou.

“Temos de fazer tudo para evitar esta guerra tarifária totalmente desnecessária e estúpida”, disse por seu turno o primeiro-ministro polaco Donald Tusk, acrescentando que “não podemos perder o bom senso, não podemos perder a consciência dos nossos interesses. Ao mesmo tempo, não podemos perder a nossa autoestima e auto-confiança europeias. Não é fácil, mas veremos”.

A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou que “não apoia a luta contra os aliados”, mas que a Dinamarca irá cooperar e responder às tarifas dos EUA.

“Uma coisa é certa, a UE deve atuar como um só”, disse o Taoiseach da Irlanda, acrescentando que a relação comercial entre a UE e os EUA é a maior do mundo e que “a inflação irá prejudicar os cidadãos”.

O primeiro-ministro de Luxemburgo, Luc Frieden, disse que “acho que tarifas são sempre más. Tarifas são más para o comércio. Tarifas são más para os Estados Unidos.”

O presidente da Lituânia, Gitanas Nausėda, disse que poderia ser possível usar o financiamento militar e energético para os EUA, o que poderia ser “atraente” para mitigar as tarifas.

A chefe da política externa da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou que “não haverá vencedores” numa guerra comercial com os Estados Unidos, sublinhando que as tarifas terão impacto no emprego e nos preços, acrescentando que a China será “a única a rir à margem”.

Trump classificou o défice de 300 mil milhões de euros da União Europeia com os EUA como uma “atrocidade”. Para além da União, também há possíveis mexidas em alta das tarifas às importações do Reino Unido, mas disse que as coisas “poderiam ser resolvidas” com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Ora, Starmer também marcou presença na reunião desta segunda-feira, numa altura em que procura “reiniciar” as relações com a UE. Será o primeiro primeiro-ministro britânico a reunir-se com os líderes da UE desde o Brexit – e pode bem ser que acompanhe os continentais na sua recusa em apoiar a iniciativa de Trump.

No lado de lá do Atlântico, tanto o Canadá como o México anunciaram as suas próprias tarifas de retaliação, e Trump minimizou quaisquer expectativas de que pudesse mudar de ideia. O diretor do Conselho Económico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, sugeriu, segundo a agência Reuters, que Washington está mais satisfeito com a resposta do México que com a do Canadá. O México parece estar “muito, muito sério sobre fazer o que o presidente Trump disse”, mas os “canadianos parecem ter entendido mal a linguagem clara da ordem executiva”, afirmou. Para todos os efeitos, muitos economistas norte-americanos dizem que o plano do presidente de 25% ao Canadá e ao México e tarifas de 10% à China vai desacelerar o crescimento global e aumentar os preços no mercado interno norte-americanos.

A reação do mercado financeiro na segunda-feira refletiu preocupações sobre as consequências de uma guerra comercial. As ações em Tóquio terminaram o dia com queda de quase 3% e o benchmark da Austrália caiu 1,8%. O mercado da China continental estava fechado para os feriados do Ano Novo Lunar. Mas o yuan chinês, o dólar canadiano e o peso mexicano caíram em relação a um dólar em alta. Os preços do petróleo dos EUA subiram mais de 1%, enquanto os futuros da commoditie subiram quase 3%. Na Europa, economistas do Deutsche Bank disseram que estão a considerar um impacto de 0,5% no PIB caso Trump impusesse tarifas de 10% ao bloco da União Europeia.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.