A Comissão Europeia decidiu duplicar as taxas alfandegárias de 25% para 50% sobre as importações de aço vindas de todo o mundo com a intenção de, afirmou, promover a reindustrialização – medida a que adicionou a redução quase a metade da quota de aço importado isento de tarifas. Mas, ao impor o aumento de preços sobre a matéria-prima, a indústria europeia, que é transformadora, verá as suas margens brutalmente diminuídas pelo aumento dos custos, destruindo qualquer capacidade concorrencial que ainda lhe restasse. É, portanto, uma medida “que vai completamente ao contrário do que é proposto pela União Europeia e compromete a reindustrialização”, refere ao JE o vice-presidente executivo da AIMMAP (Associação dos Industriais Metalúrgicos, Matalomecânicos e Afins de Portugal), Rafael Campos Pereira.
O anúncio foi feito esta terça-feira pelo vice-presidente executivo da Comissão Europeia com a pasta da Prosperidade e Estratégia Industrial, Stéphane Séjourné, que defendeu a medida como uma forma de “salvar as nossas siderúrgicas e os nossos empregos europeus”. “Milhares de postos de trabalho vão ser colocados em causa e é a própria Comissão que admite que não sabe que impacto terá a medida porque não concluiu os estudos; ora, não é preciso nenhum estudo para perceber que o aumento das matérias-primas em 50% vai impedir a importação e colocar em perigo a transformação”, diz Campos Pereira.
Esta mesma ideia foi já transmitida por Alexander Julius, presidente da EuroMetal, a federação europeia do setor – que acusa a Comissão de ter tomado a decisão “à revelia” da própria indústria.
Uma parte do setor europeu – a parte que tem capital suficiente para isso – está a comprar empresas fora do espaço europeu, nomeadamente nos Estados Unidos, para rodear o problema das tarifas. Mas há também empresários que estão a comprar ativos metalúrgicos em regiões próximas da Europa para poderem continuar a importar aço sem o acréscimo dos 50% da nova tarifa para, depois com certeza de uma pequena transformação, o poderem introduzir no bloco dos 27 escapando à nova medida.
Estas ‘escapatórias’ têm a vantagem de aumentar os ativos associados ao negócio, mas ao mesmo tempo vão em sentido contrário do que era afirmado como um desígnio europeu: a reindustrialização.
A medida é de tal ordem contrária aos interesses do setor europeu, que a federação pretendia acabar com uma cláusula de salvaguarda de 25% imposta pela União após o esgotamento das quotas. Em vez disso, “a União aumentou a tarifa para o dobro”.
Desagrado geral
Vários analistas convergem na opinião de que a nova tarifa não passa de um alinhamento às ‘ordens’ vindas de Washington – com o governo norte-americano a tentar por todas as vias impedir o alargamento da influência da China na Europa. Com o aumento das tarifas dos Estados Unidos, os produtores de aço da União Europeia estão a operar com apenas 67% de capacidade – mas a nova medida, ao invés de aumentar esse rácio para os 80%, como a Comissão antecipa, vai diminuir ainda mais a produção industrial do bloco.
O plano da União Europeia para reduzir drasticamente as quotas de importação de aço vai “longe demais” e ameaça os fabricantes de automóveis europeus com um volume elevado de custos, disse esta quarta-feira a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA). A associação afirmou que os fabricantes europeus obtêm cerca de 90% das suas compras diretas de aço dentro da UE e estão “muito preocupados” com o impacto das restrições mais rígidas às importações de aço.
Por seu lado, a indústria siderúrgica do Reino Unido alertou o governo britânico para uma crise no setor caso não sejam garantidas as isenções de tarifas na importação de aço para a União Europeia (UE), refere a agência Reuters. Um aviso que o governo está a levar a sério, tendo já pedido um esclarecimento urgente à Comissão Europeia. O ministro da Indústria britânico, Chris McDonald, revelou que o governo está a “pressionar a Comissão Europeia para um esclarecimento urgente sobre o impacto desta medida no Reino Unido”. “A probabilidade de as medidas da UE redirecionarem milhões de toneladas de aço para o Reino Unido pode ser fatal para muitas das nossas restantes siderurgias”, disse Gareth Stace, diretor-geral do grupo industrial UK Steel. O grupo afirmou que as propostas ameaçavam milhares de empregos em todo o Reino Unido, onde a indústria do aço emprega 37 mil trabalhadores diretamente e sustenta 42 mil empregos na cadeia de abastecimento.
A proposta de redução das quotas de importação de aço isentas de tarifas para a União Europeia, que representa 78% de todas as exportações de aço do Reino Unido, e a imposição de uma taxa sobre os embarques excedentários podem deixar em risco a indústria siderúrgica britânica.
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