“Uma verdade só é verdade quando levada às últimas consequências. Até lá não é uma verdade, é uma opinião”
– Vergílio Ferreira
(Fechada em casa, a dar aulas por umas aplicações, consultas por outras e a fazer ioga ainda por outras, sei que sou, apesar de tudo e por ora, uma afortunada. O estado de emergência não me tirou, “so far”, o trabalho todo e tenho conseguido inventar novas formas de (sobre)viver. Por enquanto, vai dando para o gasto. A minha história não é, pois, a da generalidade dos advogados. E é desta última que quero falar…)
Há anos que venho falando da situação da auto-designada Caixa de Previdência dos Advogados, uma soit-disant espécie de Segurança Social privada destes que, quer de segurança, quer de social, nada tem.
Para que conste, os advogados portugueses estão sem qualquer (leram bem, qualquer) espécie de protecção, sendo que a esmagadora maioria se vê confrontada com a manutenção das despesas mas sem qualquer hipótese de trabalhar para lhes fazer face. Principalmente para os que não integram grandes sociedades, a declaração de estado de emergência, cujas razões de ser não discuto nesta sede, está a importar inúmeras dificuldades e pode trazer a miséria de alguns.
Perante uma situação destas, note-se, os advogados nem ponderaram pedir à CPAS um subsídio ou uma compensação, como está a suceder com os comuns dos cidadãos. Para nós (veja-se a manifesta falta de ambição…), bastaria que a dita pseudo-Caixa de Previdência suspendesse as cobranças das mensalidades que, para mais, são indexadas a um rendimento presumido.
Esta pretensão, que a mim me parece mais do que justa, mereceu uma reacção alvar por parte do presidente daquela instituição, sugerindo, no tom de arrogância que lhe é conhecido, aos que lhe pagam as senhas de representação para que vão para a “rua procurar trabalho”.
Esta foi a única resposta dada a quem está numa situação de grande debilidade e que se tem a veleidade de querer representar. Isto é, um penalista, confrontado com a insuficiência de resposta do órgão a que preside, em vez de se demitir, instiga os advogados a incumprirem o estado de emergência, ignorando que o que o comum advogado pode fazer não brota das árvores nem de ajustes directos, estes últimos reservados, quase sempre, a uma nata que não costuma debater-se com este tipo de problemas.
Perante isto, para além da demissão deste (quanto mais não fosse por manifesta incapacidade de perceber a realidade), o que importa é olhar para o futuro. E o futuro parece fazer-se sem CPAS. Para que este mal nunca mais se repita. Já nem tanto por nós, habituados a sobreviver, até ao Dr. Carlos Pinto de Abreu. Pelos incautos que vierem a seguir.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.