A decisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa está definida, mas isso não significa que não existam dois lados da mesma moeda. Com a nova infraestrutura a localizar-se em Alcochete, isso significa que avançam as obras de melhoria no Aeroporto Humberto Delgado.
Para Pedro Castro, fundador e diretor da SkyExpert, esta é uma decisão de duas vertentes, seja pelas obras na Portela ou pela construção de Alcochete. “Uma é a certeza que vamos ter Portela para os próximos 10 anos, ou mais. Portanto, está dado o sinal verde para o concessionário avançar com as obras que estavam paradas desde 2016, sem a autorização do concedente do Estado e sem a mínima cooperação”, diz Pedro Castro ao Jornal Económico.
Segundo explica, esta é “uma decisão extremamente importante e é imediata”. O aeroporto da Portela vai então beneficiar de obras de ampliação no terminal um, instalação de mangas, melhoria operacional do sistema de pista e a implementação de um novo sistema de navegação aérea pela NAV (que avança já a 16 de maio), sendo que estas intervenção requerem a desafetação do aeródromo de Figo Maduro, atualmente apenas funcional para uso militar, e a transferências de jatos privados para o Aeródromo Municipal de Cascais.
“Depois temos uma decisão de obra pública sobre a localização [em Alcochete] e que irá começar todo um processo que não é simples nem automático”. O que o especialista em aviação quer dizer é que não é apenas a construção de uma infraestrutura que está em causa, visto que o Governo se prepara também para anunciar o desvio do alta velocidade, cujo custo está estimado em 1,5 mil milhões.
Mas Pedro Castro não esquece as morosas construções públicas, e lembra que Alcochete não pode seguir o mesmo caminho. “Temos o histórico português em relação a algumas obras públicas deste tipo de envergadura, como é o exemplo do Hospital de Todos os Santos, em Lisboa, como é chamado há 40 anos, e o Hospital Central do Algarve, que tem inclusivamente uma pedra colocada por José Sócrates em 2008. E nada avançou. Portanto, temos uma opção de obras públicas e está definida uma localização, o que vai ser construído, e se vai ser construído, é outra questão”.
Pedro Castro vai mais além nas suas declarações ao JE, lembrando uma das últimas reuniões do Conselho de Finanças Públicas. “Convém termos presente aquilo que o Conselho de Finanças Públicas, dirigido por Nazaré da Costa Cabral, disse em abril, que nos dá uma visão global do cenário orçamental e daquilo que são as prioridades, e que diz claramente que com aeroporto, TGV, aumentos da PSP, professores, mais um aumento de gastos da defesa e da segurança pelos compromissos internacionais de Portugal e as eventuais calamidades, porque temos de estar preparados para enfrentar em termos ambientais e climáticos, tudo isso não dá!”.
“O Orçamento do Estado tem um fim e uma limitação”, recorda. No último relatório da instituição liderada por Nazaré da Costa Cabral, e com as promessas do Governo da Aliança Democrática, o aumento desenfreado dos custos coloca pressão nas contas nacionais e podem mesmo afetar os excedentes orçamentais previstos até 2028.
No entanto, a solução de Alcochete encerra machados. “Esta solução enterra um conflito latente que estava a ser estimulado até pelo governo anterior, seja com a ANA Aeroportos, seja com os agentes económicos, nomeadamente com a Ryanair. A questão da localização do aeroporto impedia o concessionário de fazer obras e havia alguma animosidade relativamente ao agente económico”.
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