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Novo aeroporto: “Localização está definida. O que vai ser e se vai ser construído, é outra questão”, avisa especialista 

A apresentação de Alcochete como a localização definitiva para a construção do novo aeroporto de Lisboa são bons sinais para a Portela. Segundo o fundador da SkyExpert, Pedro Castro, o Aeroporto Humberto Delgado existirá por mais 10 anos, dado o complexo processo que envolve as obras públicas em Alcochete.
14 Maio 2024, 18h18

A decisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa está definida, mas isso não significa que não existam dois lados da mesma moeda. Com a nova infraestrutura a localizar-se em Alcochete, isso significa que avançam as obras de melhoria no Aeroporto Humberto Delgado.

Para Pedro Castro, fundador e diretor da SkyExpert, esta é uma decisão de duas vertentes, seja pelas obras na Portela ou pela construção de Alcochete. “Uma é a certeza que vamos ter Portela para os próximos 10 anos, ou mais. Portanto, está dado o sinal verde para o concessionário avançar com as obras que estavam paradas desde 2016, sem a autorização do concedente do Estado e sem a mínima cooperação”, diz Pedro Castro ao Jornal Económico.

Segundo explica, esta é “uma decisão extremamente importante e é imediata”. O aeroporto da Portela vai então beneficiar de obras de ampliação no terminal um, instalação de mangas, melhoria operacional do sistema de pista e a implementação de um novo sistema de navegação aérea pela NAV (que avança já a 16 de maio), sendo que estas intervenção requerem a desafetação do aeródromo de Figo Maduro, atualmente apenas funcional para uso militar, e a transferências de jatos privados para o Aeródromo Municipal de Cascais.

“Depois temos uma decisão de obra pública sobre a localização [em Alcochete] e que irá começar todo um processo que não é simples nem automático”. O que o especialista em aviação quer dizer é que não é apenas a construção de uma infraestrutura que está em causa, visto que o Governo se prepara também para anunciar o desvio do alta velocidade, cujo custo está estimado em 1,5 mil milhões.

Mas Pedro Castro não esquece as morosas construções públicas, e lembra que Alcochete não pode seguir o mesmo caminho. “Temos o histórico português em relação a algumas obras públicas deste tipo de envergadura, como é o exemplo do Hospital de Todos os Santos, em Lisboa, como é chamado há 40 anos, e o Hospital Central do Algarve, que tem inclusivamente uma pedra colocada por José Sócrates em 2008. E nada avançou. Portanto, temos uma opção de obras públicas e está definida uma localização, o que vai ser construído, e se vai ser construído, é outra questão”.

Pedro Castro vai mais além nas suas declarações ao JE, lembrando uma das últimas reuniões do Conselho de Finanças Públicas. “Convém termos presente aquilo que o Conselho de Finanças Públicas, dirigido por Nazaré da Costa Cabral, disse em abril, que nos dá uma visão global do cenário orçamental e daquilo que são as prioridades, e que diz claramente que com aeroporto, TGV, aumentos da PSP, professores, mais um aumento de gastos da defesa e da segurança pelos compromissos internacionais de Portugal e as eventuais calamidades, porque temos de estar preparados para enfrentar em termos ambientais e climáticos, tudo isso não dá!”.

“O Orçamento do Estado tem um fim e uma limitação”, recorda. No último relatório da instituição liderada por Nazaré da Costa Cabral, e com as promessas do Governo da Aliança Democrática, o aumento desenfreado dos custos coloca pressão nas contas nacionais e podem mesmo afetar os excedentes orçamentais previstos até 2028.

No entanto, a solução de Alcochete encerra machados. “Esta solução enterra um conflito latente que estava a ser estimulado até pelo governo anterior, seja com a ANA Aeroportos, seja com os agentes económicos, nomeadamente com a Ryanair. A questão da localização do aeroporto impedia o concessionário de fazer obras e havia alguma animosidade relativamente ao agente económico”.

Sobre o investimento da ANA em Alcochete, uma vez que sempre foi muito vocal em relação a esta opção, preferindo o Montijo devido à infraestrutura já existente, Pedro Castro interpreta que a gestora dos aeroportos nacionais está disposta “a investir até certo ponto” e que o restante deve ficar a cargo do Estado, uma vez que se trata da localização mais dispendiosa, na ordem dos 10 mil milhões de euros.

Melhorias na Portela

Sobre as obras no Aeroporto Humberto Delgado, face à pressão atualmente sentida por esta infraestrutura, Pedro Castro defende que a opção dual “vai dar uma enorme esperança À operação que está a existir atualmente”. “Não só pela questão da infraestrutura, que agora pode ser melhorada, mas também até pela própria navegabilidade. Daqui a dois dias [a 16 de maio] a NAV anunciou uma melhor gestão do espaço aéreo à volta de Lisboa, para justamente reduzir os atrasos. Isso é uma das coisas que se culpa o aeroporto, quando a gestão do espaço aéreo não tem nada a ver com o aeroporto em si”.
“Há uma série de medidas aeroportuárias e de navegação aérea que têm agora espaço e momento para ser, para receberem o investimento necessário e para poderem também provar que, de facto, eram as medidas necessárias. Esta é uma decisão que valorizo muito neste momento”.
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