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Novo Banco fecha 2020 com prejuízo de 1,3 mil milhões e pede 598 milhões ao Fundo de Resolução

No resultado é de realçar um impacto negativo de 300,2 milhões resultado de avaliações independentes aos fundos de reestruturação. As imparidades e provisões, em resultado da descontinuação do negócio em Espanha e do agravamento do nível de incumprimento de alguns clientes (crédito a clientes, garantias e instituições de crédito), somam 1.191,5 milhões.
  • António Ramalho, Novo Banco
26 Março 2021, 17h02

O Novo Banco fecha 2020 com prejuízos de 1.329,3 milhões de euros e vai pedir ao Fundo de Resolução ao abrigo do Acordo de Capitalização Contingente, 598,3 milhões de euros, acima do valor inscrito no Orçamento de Estado de 2021 de 476,6 milhões de euros.

A este valor de chamada de capital ainda há 166 milhões de euros em dúvida por causa das imparidades para a operação em Espanha, pois o Novo Banco recebeu propostas de compra para a sucursal espanhola que não ultrapassam aquele valor e como tal teve de fazer um ajustamento ao valor registado em balanço.

Este não é um activo coberto pelo CCA, mas afectando os resultados impactam na chamada de capital.

A divergência entre o Novo Banco e o Fundo de Resolução reside precisamente neste diferencial. São 166 milhões de euros a separar o que quer pedir o Novo Banco, e o que o Ministério das Finanças quer que seja pedido ao Fundo de Resolução.

Depois dos resultados apresentados o Ministério das Finanças enviou um comunicado a reforçar o que já antes tinha dito João Leão. O Governo está “plenamente convicto” de que o valor final do Fundo Resolução a transferir para o Novo Banco, “após a verificação das entidades competentes, ficará abaixo do previsto na proposta de OE2021”, diz a nota da Finanças.

Durante a apresentação de resultados o Fundo de Resolução enviou um comunicado a dar conta que “relativamente a determinadas matérias, se encontra ainda em análise se os respetivos impactos nas contas do Novo Banco estão abrangidos, nos termos do contrato, pelo mecanismo de capitalização contingente. As matérias em análise representam um montante que excede os 160 milhões de euros”. António Ramalho explicou que se tratava de perdas com uma operação em descontinuação, referindo à sucursal em Espanha.

Ao todo o Novo Banco usou 3,57 mil milhões de euros do mecanismo de capitalização contingente que tinha um limite de 3,89 mil milhões de euros. O plano de reestruturação ficou assim concluído sem esgotar o mecanismo de capitalização contingente.

António Ramalho revelou que essa divergência não foi contabilizada no rácio de capital CET 1 por prudência. Em 31 de dezembro de 2020, o rácio CET 1 foi de 11,3% e o rácio de solvabilidade total situava-se em 13,3%.

Os créditos problemáticos do legado do BES foram limpos do balanço, ou através de recuperações, ou vendas de carteiras, ou por write-offs. Este foi o destino dado aos créditos da Ongoing, da Sogema, entre outros.

No resultado negativo é de realçar um impacto negativo de 300,2 milhões resultado de avaliações independentes aos fundos de reestruturação. O Novo Banco já tinha refletido nas contas do semestre a maioria destas perdas.

No relatório do primeiro semestre o Novo Banco explica que o banco teve de fazer uma reavaliação das suas participações no Fundo de Recuperação FCR, Fundo Recuperação Turismo, FLIT (entre outros) e daí resultou o registo de uma perda 260,6 milhões de euros que afeta a conta de resultados de 2020.

A ajudar aos prejuízos estão as imparidades e provisões, em resultado da descontinuação do negócio em Espanha e do agravamento do nível de incumprimento de alguns clientes (crédito a clientes, garantias e instituições de crédito), que somam 1.191,5 milhões, sendo 268,8 milhões de imparidade adicional para riscos de crédito decorrentes da pandemia Covid-19; e 123,9 milhões de reforço da provisão para reestruturação.

Isto é, o montante afeto a provisões no valor de 1.191,5 milhões inclui assim 268,8 milhões reflexo da atualização da informação dos modelos IFRS 9 decorrentes dos efeitos da pandemia e 550,2 milhões de imparidades e provisões decorrentes da descontinuação do negócio em Espanha (166 milhões) e do agravamento do risco do legacy (crédito a clientes, garantias e instituições de crédito).

O banco destacou a execução do desinvestimento em ativos da atividade legacy com uma redução anual de 31,2%, ou de 1.400 milhões de euros, incluindo crédito a clientes (que em termos líquidos: caiu 26,3%; ou seja, 359 milhões), os imóveis em balanço por dação que caíram 28,8% ou 235 milhões e outros ativos (-35,1% ou -806 milhões de euros), permitindo uma redução de 79% dos ativos legacy desde dezembro de 2017.

A conclusão do processo de reestruturação consistiu na redução substancial (por alienações e reavaliações) de Ativos Legacy (CCA e não core) de 14,7 mil milhões de euros para 3,1 mil milhões e na redução da exposição a imóveis de 4,8% para 2% do total do activo, entre 1 de janeiro de 2017 e 31 de dezembro de 2020.

Houve um desinvestimento neste período em 15 subsidiárias non-core internacionais e uma optimização da rede doméstica para 358 balcões quando no início eram 448, explicou o CEO.

Os aspetos mais relevantes da atividade combinada (legacy e recorrente) durante este exercício prendem-se com o comportamento do produto bancário comercial (margem e comissões) que ascendeu a 827,0 milhões em linha com o valor de 2019, com a evolução positiva da margem financeira (+8,3%) parcialmente absorvida pelo decréscimo das comissões (-12,9%), em resultado do atual contexto pandémico.

Os resultados de operações financeiras foram negativos em 72,5 milhões de euros, reflexo da volatilidade nos mercados financeiros e de capitais em 2020 e dos resultados da operação de Liability Management Exercise (LME que teve um impacto negativo de 27 milhões).

O crescimento de 2,4% no resultado operacional core (produto bancário comercial – custos operativos) em resultado do aumento da margem financeira (+8,3%) e da redução de custos operativos (-1,6%), “reflete a recalibração contínua do modelo de negócios e otimização da estrutura corporativa, traduzindo-se numa melhoria dos rácios de eficiência do Banco”, diz o Novo Banco.

Os custos com pessoal totalizaram 245,6 milhões (-0,3% em termos homólogos).  O Novo Banco destaca a redução desde 2016 (-19,1%). Face a dezembro de 2019 verificou-se uma redução de 287 colaboradores (incluindo o efeito da transferência de Espanha para operações descontinuadas).

O rácio de cost to income fixou-se em 53%.

Em 31 de dezembro de 2020 o Grupo Novo Banco contava com 4.582 colaboradores (o que compara com 4.869 em 31 de dezembro de 2019). Os gastos gerais administrativos diminuíram 5,4% face a 2019, totalizando 153,2 milhões de euros.

“Esta redução reflete os impactos da política de racionalização e otimização em curso, que permitiu reduzir em 33,8% o valor destes gastos nos últimos cinco anos. Espelhando a reestruturação em curso, o número de balcões, em 31 de dezembro de 2020, era de 359 (o que compara com 387 em dezembro de 2019), dos quais 358 em Portugal.

O banco destacou a diminuição significativa do rácio de NPL de 28,1% em 2017 para 8,9% em 2020 e a redução de exposição a imóveis para 2,0% em 2020 de 4,8% em 2017, em percentagem dos ativos totais.

Numa análise anual a redução do rácio de créditos não produtivos (NPL) para 8,9%, traduz uma queda de 3,2 p.p. face ao final de 2019, atingindo uma cobertura de 74,1% (quando em dezembro de 2019 era de 56,5%).

O resultado recorrente antes de impostos foi de 187 milhões, excluindo resultados de operações financeiras de 2019 e 2020; e sem as contribuições para o setor bancário.

O banco anunciou um resultado consolidado antes de impostos de negativos de 1,3 mil milhões de euros, dos quais na atividade legacy (legado do BES) é de 1,2 mil milhões de euros e as provisões Covid da atividade recorrente que são de 251 milhões de euros (a estas provisões juntam-se 18 milhões de euros de imparidades na atividade legacy).

[notícia atualizada às 21h38]

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