Parece que foi ontem, mas já passaram dez anos desde a resolução do Banco Espírito Santo (BES). Um momento absolutamente singular e que me leva a destacar alguns aspetos menos familiares para o cidadão comum.
Um mecanismo, a resolução bancária de um banco sistémico, algo que a democracia portuguesa e a União Europeia não tinham experiência. Pela falta desta, não espanta que muitas coisas tenham corrido de forma inesperada. Os supervisores e aos eleitos políticos permitiram que fossem os portugueses as cobaias de uma experiência inédita.
O custo total da resolução, incluindo o custo inicial de capitalização do novobanco e o mecanismo de capital contingente (visando proteger o comprador de surpresas na carteira de crédito) foi muito mais alto do que aquilo que nos disseram quem governava e supervisionava. Teria sido mais baixo se o novobanco tivesse nascido com a base de capital e de depósitos, mas sem carteira de crédito legada?
Apesar das medidas despropositadamente punitivas impostas ao novobanco (saída dos mercados internacionais, encerramento de balcões, abandono de segmentos de clientes mais endinheirados, venda de participações de negócios com sinergias), aos pequenos acionistas e aos depositantes emigrantes, e contrariando todos os prognósticos, o novobanco sobreviveu, tornou-se concorrencial, lucrativo e será, provavelmente, noiva muito apetecida.
Convém, contudo, realçar que para este desfecho contribuíram alguns grupos. Os clientes, que se mantiveram, em grande parte, fiéis ao seu banco e aos trabalhadores com quem lidavam quotidianamente. Os gestores que, começando no mandato de Stock da Cunha, continuando por António Ramalho e por Mark Bourke, foram profissionais. E, desculpem-me algum possível enviesamento, os trabalhadores. Mais de metade saiu do novobanco, por uma razão ou outra.
Aquando da resolução, a grande maioria, arrisco dizer mais de 80% dos trabalhadores, tinham tido no BES o seu único empregador. Esta lealdade forneceu a resiliência necessária que nenhuma outra empresa, colocada em situação análoga, jamais havia conseguido: sobreviver e prosperar. Trabalhadores que permitiram que o novobanco fosse aquilo que o BES, outrora, fora: um espaço de excelência e de serviço aos clientes. Com rendibilidade suficiente para remunerar acionistas e atrair capital para o seu desenvolvimento.
Por isso, agora que se avizinha a venda, importa que Lone Star e Ministério das Finanças assegurem condições preferenciais para os trabalhadores (incluindo os reformados) e para os clientes. A entrega e o amor à camisola de uns, e a lealdade de outros, foram absolutamente cruciais para o desfecho que agora se avizinha. Uma enorme prova de resiliência. É tempo de lhes retribuir.