Ainda longe do fim desta pandemia, e em plena crise financeira, a margem do Governo para apoiar a recuperação da economia e as famílias é bem menor do que a desejada. Infelizmente, no período que sucedeu à intervenção externa, com as contas públicas em ordem, a obsessão pelo superavit orçamental e pelas cativações que travaram o investimento público impediu-nos de preparar o país para o futuro.

Contudo, cabe ao Estado e a muitos dos nossos municípios a responsabilidade de planear a curto, médio e longo prazo o destino do território, de cada uma das nossas regiões e de cada um dos nossos concelhos, sem descurar a ação social dos mais desfavorecidos, o apoio aos pequenos empresários e aos que estão a entrar nesta nova realidade de desemprego nacional.

Porque a realidade assim o exige: só nos últimos seis meses, o desemprego aumentou no global 42%, caminhando tristemente a passos largos para os 600 mil desempregados, estimando-se que a população empregada não ultrapasse os 4,7 milhões de portugueses, ou seja bem menos de metade da população global.

É inequívoco que a aposta imediata deveria ser no turismo, investindo em projetos e nichos como:

Turismo religioso – promover os edifícios religiosos, a arte sacra e os caminhos, que apresentam um valor patrimonial e uma curiosidade turística que poderão ser catapultados muito mais para a esfera turística nacional. De realçar, os Caminhos de Santiago, os Passadiços do Paiva, do Norte Litoral, etc;

Turismo gastronómico – apesar dos constrangimentos de saúde publica, apostar numa estratégia que apoie a nossa restauração, potenciando e divulgando a diversidade e a especialidade de cada uma das nossas regiões, ligados à carne ao peixe à doçaria tradicional e ao setor vinícola;

Praias fluviais – Portugal tem vários rios que o banham, passando por lagos e lagoas, paisagens únicas e diferenciadoras, onde também merecem destaque os passadiços e as infraestruturas de apoio que, ao longo dos últimos anos, foram criadas e a aprazibilidade desses espaços são tão incomuns que merecem ser explorados em todas as suas potencialidades. Para além da valorização que poderiam trazer a muitas das freguesias de Portugal, seria sem dúvida, uma alternativa às nortadas das nossas praias;

Turismo local – promover o alojamento local de natureza, não só como uma alternativa ao alojamento das grandes cidades como Lisboa e Porto, mas como forma de atrair turismo ao Portugal real e a todo o território nacional, ao nível das nossas aldeias.

Turismo de montanha e parques naturais, agroturismo, turismo de saúde são outros exemplos que podemos e devemos explorar no sentido de diversificar a oferta e estimular a procura turística, contribuindo para a retoma económica e recuperação dos milhares de postos de trabalhos que se perderam nos últimos meses.

Sabemos todos que o turismo, em todas as suas dimensões, é uma atividade essencial para o desenvolvimento socioeconómico de Portugal. Sem ele não teríamos recuperado da última crise económica e é certo que sem ele não recuperaremos desta. Trabalhemos, pois, para que não seja uma nova oportunidade perdida.