Fruto dos tempos que atravessamos, no que à conjuntura política nacional e internacional respeita, temos vindo a assistir a um crescendo da iniciativa de constituição de novos movimentos partidários.

Analisando sucintamente o fenómeno e perspetivando as hipóteses de êxito do mesmo, podemos começar por apreciar as suas motivações, aí encontrando vários tipos ou níveis de “causas” que levam à criação, ou tentativa de criação, de um novo partido.

A um nível macro e estrutural, poder-se-á concluir que a crise de valores e de padrões éticos e morais que a globalização veio acentuar, a descredibilização generalizada da classe política instalada e o crescimento dos segmentos minoritários da sociedade e da vida humana em geral, constituem em si mesmos verdadeiras molas impulsionadoras do ímpeto associativo e político.

Pelo que, neste plano, estaremos perante uma postura mais altruísta e detentora de uma verdadeira vontade de mudar o statu quo dominante, procurando implementar reformas estruturantes e servir de modo relevante, perene e desinteressado a causa pública.

Por sua vez, num patamar mais efémero e conjuntural, as motivações em análise assumirão na maioria das vezes um pendor de cariz vincadamente emocional e pessoal, ligadas a fatores como a ambição, a “sede” mediática ou ainda a defesa de interesses de pequenos nichos económicos ou sociais.

Depois, importará ater na declaração de princípios e nos subsequentes programas eleitorais destes partidos para perceber a base ideológica em que assentam (partindo do princípio que ela existe…), e os aspetos concretos dos vários domínios da governação que diferem da “cartilha” dos partidos já existentes.

Sem esquecer, de resto, algo que se desejaria como muito claro e colocado ab initio, qual a conceção que o movimento defende para o papel do Estado na economia e na sociedade.

Finalmente, e não de importância menor, há que olhar para o modo como a mensagem é transmitida e veiculada pelos percursores do movimento, seja através dos meios mais tradicionais como os canais televisivos e a imprensa escrita, seja pela via mais moderna das redes sociais.

Sendo que, neste particular, poderá mesmo encontrar-se a verdadeira pedra de toque da questão, na medida em que é no alcance e no modo como a mensagem é transmitida que se irá formar a convicção de uma grande maioria do eleitorado.

Podendo aqui inclusivamente identificar-se um potencial risco de curto/médio prazo para o sistema democrático, no sentido de uma grande dispersão partidária poder gerar dúvida e indecisão no eleitorado o que, por sua vez, pode levar a uma votação errónea e/ou ao aumento da abstenção.

Tudo isto devendo ter-se presente que aquilo que o eleitorado mais deseja é poder confiar nos partidos e nos seus atores para a resolução concreta dos seus problemas num contributo efetivo para o seu bem-estar, muito para além de uma “velha” e “cansada” disputa ideológica, numa busca por vezes quase esquizofrénica de “intensidades” de direita, esquerda ou centro, e de graus de liberalismo versus conservadorismo.

Será, portanto, da conjugação destas várias vertentes que resultará a chave da maior ou menor durabilidade do novo partido e dos verdadeiros benefícios daí advindos para os diversos sistemas democráticos. Estejamos atentos.