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“Nunca faça sociedades com familiares ou amigos” e mais 5 lições empresariais (explicadas por quem já as viveu)

Não importa se quem lê estas linhas é um jovem empresário ou um gestor maduro. Interessa apenas que seja alguém disposto a ouvir alguns contributos para a vida, partilhados por quem já muito viveu.
23 Julho 2018, 11h07

Não importa se quem lê estas linhas é um jovem empresário ou um gestor maduro. Interessa apenas que seja alguém disposto a ouvir alguns contributos para a vida, partilhados por quem já muito viveu. O que a seguir se lista é um conjunto de sugestões, que poderá ou não seguir. Mas que me arrisco a dizer será ajuizado fazê-lo, se efetivamente pretende continuar a dar cartas no mercado por mais alguns anos. São sugestões todas elas necessárias, mas nenhuma por si só suficiente.

  1. Não misture amigos com sarilhos

Nunca faça sociedades com familiares ou amigos. Mas mesmo nunca. E se o fizer, trate-os apenas como sócios; com regras claras de entrada, condução e saída dos negócios e nunca por nunca se desvie delas. Pode ter ido para os copos com o tio João, a casa da irmã Luísa ou passado o Natal com a filha Augusta. Mas, no momento em que entrarem na mesma empresa, serão sócios e nada mais.

Não tem de ser hostil, nem amargo. Simplesmente, têm de trabalhar em conjunto, com regras objetivas, claras e pragmáticas de negócio, com vista à valorização da empresa. Se em nome da firma já tem os telemóveis das crianças ou um carro da nora, se já paga as férias a toda a gente e ainda empresta o cartão de crédito aos filhos para umas brincadeiras, pare. Está a dar tiros nos pés, a endereçar péssimos sinais aos beneficiários e a desvalorizar a sua empresa.

  1. Alguém tem que mandar

Fuja a sete pés dos 50%. É uma prática corrente acordar em dividir o capital em 50% para cada um e já está.  O objetivo é o de tranquilizar a consciência assegurando partes iguais para um e para o outro. Mas, se o fizer, irá arrepender-se porque bloqueará em definitivo a empresa. E porque dará um tiro no princípio básico da Gestão: o princípio da unidade de comando.

Numa empresa, alguém tem de tomar decisões. A estrutura de governance pode ser de múltiplas formas. Mas, lá no fundo, alguém terá que definir o caminho a seguir. Se divide o capital (50%-50%) está a criar uma situação potencial de impasse, que um dia acabará com a sua empresa. Ou consigo. Acredite.

  1. Simplifique, não complique

Crie procedimentos simples, práticos e objetivos, designadamente quanto a certas áreas críticas: área financeira, área comercial e área de produção (se houver). Não há razão para que não faça uma gestão com o mesmo nível de exigência de uma empresa cotada.

Contas em dia, procedimentos contabilísticos levados a sério, adequada valorização dos ativos, controlo de custos, mapas de reporting, reuniões mensais para análise de custos, proveitos e resultados, atas de reuniões escritas como instrumento de trabalho, encerramento das contas com antecedência para perspetivar contingências e/ou poupanças fiscais, análise dos proveitos, risco de cliente, mapas de tesouraria, reportings para os bancos e seguradoras e análise da performance dos recursos humanos. E estes são apenas alguns exemplos de práticas que deveriam ser adotadas.

  1. Não invente capital

A estrutura de capitais de uma empresa deve refletir o que ela tem e vale. O recurso a reservas de reavaliação para inflamação de ativos e capital próprio deve ter as suas limitações. Mais: esse truque é conhecido, principalmente quando se trata de valorizar resíduos, transformando-os em subprodutos. Com isso incha o ativo e cria um balão de oxigénio nos capitais próprios, para ocultar perdas no negócio. Está a tapar o sol com a peneira, quando se deveria focar no essencial: está a perder dinheiro, ou não o tem para investir. Nesse caso, se é esse o problema, foque-se nele e resolva-o (sem camuflar a realidade).

  1. Leve a empresa a um spa

Mesmo que tenha uma empresa familiar, um dia ela vai acabar. Com toda a certeza. A probabilidade de durar 150 anos é quase nula. Mas quanto tempo ao certo irá  durar, isso depende das decisões que tomar hoje. Será que a sua empresa está suficientemente sexy, enxuta, fresca, saudável e em forma para continuar a lutar pelo seu espaço no mercado? Ou, pelo contrário, está uma velha senhora magoada, pesada, lenta e bafienta?

Mesmo as primeiras, um dia, ficam cansadas e esmorecem. Por isso, nunca perca de vista a imperiosa necessidade de levar, de vez em quando, a sua empresa a um spa. Precisa de emagrecer, criar músculo, melhorar o cárdio, tomar umas vitaminas para o cérebro e começar a sorrir.

  1. Assuma o que não sabe

Não há nada pior do que empresários inseguros, inexperientes e indecisos debaixo de uma capa de uma grande autoridade, inflexibilidade e eterna sabedoria. Aquele que sabe tudo, que já viu tudo, com o qual as coisas só funcionam se for à sua maneira, que não partilha, que não delega, que é o patrão (e não o líder), que é sempre o primeiro a chegar e (como mártir) o último a sair é o pior exemplo. E são tantos…

Por isso, baixe as defesas, assuma que não sabe tudo. Aliás, assuma que, provavelmente, apenas sabe de uma parte e contrate o melhor que houver no mercado para liderar as outras áreas. Se insistir em pagar uma miséria, vai obter uma miséria. E, com isso, está a desvalorizar a sua empresa e o seu património. Se insistir em ser pau para toda a obra, assuma que tem um “biscate” para levar umas poucas massas para casa. Ter uma empresa é algo muito diferente.

Estas são, em suma, algumas sugestões que, levadas em consideração podem aumentar a probabilidade de vir a ter uma empresa saudável e rentável. De incrementar o seu valor. Se se esquecer de alguma, a probabilidade de vir a ter problemas sérios é enorme. Agora imagine que se esquece de todas. Vá em frente!

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