O fim da crise tem vindo a ser apregoado em Portugal. O mágico Costa conseguiu tirar o Coelho da cartola, lançou pós de perlimpimpim à geringonça, mostrou a Bruxelas que não tinha nada na manga e fez aparecer uma solução para a Caixa em menos de uma semana.

Animados pelo sorriso permanente do primeiro-ministro, os portugueses avançaram confiantes para as compras de Natal acreditando no futuro promissor do país. Empurrados pelo frio seco de dezembro, os contribuintes zarparam para as lojas, tendas e bazares apostados em tornar esta quadra mais rica para todos. Para os compensar, os comerciantes gastaram ainda mais dinheiro em glamorosas iluminações natalícias e jingles com sininhos. Para aumentar a festa, estrelas Michelin decoraram e deram brilho a novos espaços de restauração nacionais. Parecia estarmos a viver um tempo de paz, alegria e fartura… até que o desapontamento se abateu!

Como se tivessem arrancado da tomada a ficha dos leds coloridos das varandas e dos jardins, a luz deu lugar à sombra. O DJ dos cânticos de Natal substituiu-os por pesarosos adágios. Sorrisos transformaram-se em expressões de desalento. O frio deu lugar à chuva. O Elefante Branco fechou! O mítico espaço noturno da Rua Luciano Cordeiro, agregador de classes e transversal aos vários setores de atividade da sociedade, “encerrou permanentemente” sem se saber por que motivo. Não tardaram as piadas: “como vai ser agora que fechou o maior centro de emprego de Lisboa?”, “Fechou um bom espaço de coworking”, “Lá se foi a garrafita!”.

Houve também quem associasse a tragédia ao terceiro segredo de Fátima: podia a frase escutada pelos pastorinhos “queda de um Bispo vestido de branco” ter sido confundida com a “queda de um bicho vestido de branco”? Crenças à parte, a verdade é que o mundo dos negócios parece ter-se ressentido com o “fecho da casa”. Ao que parece, no prazeroso espaço juntavam-se profissionais da banca, do desporto, empresários, artistas, diplomatas, governantes, jornalistas, médicos, polícias, magistrados, entre muitos outros, que num salutar convívio e networking partilhavam dois dedos… de conversa, um caldo verde quentinho ou um belo naco… de bife.

Diz quem sabe que José António Saraiva terá já coligida matéria suficiente para lançar no próximo Natal “As memórias do elefante branco” – projeto que está também a deixar branca muita gente. Fica mais pobre, não só a diversão noturna lisboeta, mas também o turismo que acudia em massa ao “Trombinhas” e a “economia” que era muitas vezes oleada entre um copo de whisky e um de champanhe. De trombas vão ficar todos os que se destroçaram com este anúncio se se vier a saber que o “encerramento permanente” não passou de um falso alarme.

Seria caso para invocar o Papa Francisco que, num momento de fé dissertou sobre fezes, ao comparar escândalos e notícias falsas a pessoas sexualmente atraídas por excrementos. E se alguns associam a imundície ao espaço noturno que agora encerra, assumam que possam ter sido influenciados pela palavra do ano de 2016: a expressão “pós-verdade” é um adjetivo que se utiliza quando se pretende classificar ou sublinhar que, em determinadas circunstâncias, os factos objetivos – os reais – têm menos influência na formação de opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais – os falseados.

Se o marido diz que foi ao Elefante Branco comer um bife, porque haverá a esposa de juntar a esse facto objetivo a sua opinião pessoal altamente influenciada pela telenovela da noite? Se o namorado só foi com um grupo de amigos comer um caldo verde quentinho, por que é que daí se tem de tirar um molho de grelos? A acreditar, porém, que a escandalosa notícia não é falsa, e que o Elefante Branco se juntou à manada e regressou a casa, serão muitas as pessoas que vão recorrer ao “memofante” para manterem acesa a lembrança do que por lá passaram. Como tantos que “nunca foram e nunca mais lá voltam” questionam: com tantos “elefantes brancos” espalhados pelo país, logo tinham de encerrar este?