É provavelmente mera coincidência que no mesmo dia, em diferentes fóruns, o presidente não executivo do BCP e o CEO do UniCredit tenham defendido a necessidade de as empresas europeias ganharem escala.
Ora, sendo os bancos também empresas, a analogia é óbvia, num contexto em que o tema das fusões bancárias voltou à ribalta despoletado pela compra por parte do UniCrédit de 21% do Commerzbank.
Nuno Amado, vice-presidente da Associação Business Roundtable Portugal (BRP), que é também Chairman do Millennium BCP, defendeu, durante a apresentação do segundo Snapshot do Comparar para Crescer, que as empresas portuguesas precisam de ganhar escala. “Temos de apostar na dimensão das grandes empresas”, disse o banqueiro, que citou os dados do Banco de Portugal, nos quais são revelados que 60% das exportações são feitas pelas grandes empresas, que representam 2% do tecido empresarial exportador.
Sem nunca se referir ao BCP, Nuno Amado disse que “isto só é possível com o foco em políticas que possam permitir a escala e possam apostar em grandes empresas”.
“Se a Europa precisa de mais grandes empresas, Portugal precisa ainda mais”, disse Nuno Amado, presidente do Conselho de Administração do BCP.
O tema ganha importância numa altura em que começam a surgir movimentos de fusões bancárias na Europa e em que o Novobanco se prepara para ir para o mercado no primeiro trimestre de 2025. O BCP é visto como um potencial comprador do Novobanco.
Uma fusão entre os dois bancos portugueses pode também estar a ser equacionada na cabeça de alguns fundos de private equity internacionais, que veem na estrutura do BCP uma porta aberta para investirem no banco, que tem como CEO Miguel Maya, com vista ao tão apelado ganho de escala.
O CEO do UniCredit, Andrea Orcel, que se está a posicionar para controlar o alemão Commerzbank, defendeu esta terça-feira que as instituições financeiras da União Europeia não são grandes o suficiente para cobrir as necessidades de financiamento do bloco.
Num evento em Milão, na manhã de terça-feira, 1 de outubro, Andrea Orcel defendeu que “a Europa precisa de bancos maiores e mais fortes para sustentar” a indústria. Isto porque, sem eles, o bloco “nunca vai alcançar as suas ambições, nem vai conseguir superar os desafios de crescimento” apontados pelos especialistas, disse.
Isto numa altura em que Mário Draghi considera que falta dimensão suficiente às empresas europeias para acelerar a adoção de tecnologias avançadas. “A União Europeia está presa e povoada de empresas tecnológicas medianas que já estão maduras”, alertou o economista italiano.
A justificação para este problema prende-se com os elevados obstáculos que obrigam as empresas a “manterem-se pequenas”.
O Relatório para o Futuro da Competitividade Europeia, encomendado pela Comissão Europeia a Mario Draghi, economista e ex-presidente do BCE, propõe, por exemplo, incentivar as fusões entre operadoras de telecomunicações europeias, ao mesmo tempo que destaca as dificuldades destas empresas em competir com os seus principais rivais nos Estados Unidos e na China.
Durante a apresentação do mais recente Snapshot, ficou também claro o fraco desempenho de Portugal em termos de produtividade. Em 2023, o valor da produtividade por hora no país não ultrapassou os 71% da média da UE, próximo do nível que registava em 2000, e muito distante dos 98% de Itália, 96% de Espanha, 84% da Eslovénia ou 78% da República Checa.
Este registo pode ser parcialmente explicado pela escassez de grandes empresas no tecido empresarial. Atualmente, apenas 0,2% das empresas em Portugal são grandes, mas estas empregam mais de 20% da força de trabalho, geram mais de 30% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) do país, e pagam 1/3 dos impostos.
Para mudar este cenário, a análise da Associação BRP alerta para a necessidade de Portugal ter mais empresas grandes, com capacidade de gerar mais valor acrescentado e melhores condições de trabalho, bem como um ambiente económico que promova a criação e expansão de negócios. Além disso, destaca a importância de aumentar as exportações, sobretudo de bens de alta tecnologia, como uma prioridade estratégica para o crescimento da economia nacional.
Nuno Amado defendeu por sua vez “melhor Estado em vez de mais Estado”.
“Temos de assumir que o setor privado é motor de crescimento e criação de riqueza e que as grandes empresas têm um papel muito importante”, referiu ainda.
Nuno Amado é apologista também da continuidade da abertura da economia ao exterior aumentando as exportações (atingimos 50% do PIB), e para isso é fundamental o número de empresas médias e grandes.
Nuno Amado defendeu também que é preciso aumentar o investimento público e privado, “é não só um tema de quantidade, mas de qualidade desse investimento, especialmente no público”, onde apela a mais transparência nos investimentos públicos com alguma dimensão.
O gestor alertou ainda que Portugal já aumentou a a despesa pública em 21 mil milhões de euros, desde 2019, e, nos primeiros seis meses, a despesa pública subiu a dois dígitos, “e por muito bem que estejamos nas receitas, estas são sempre mais voláteis do que a despesa”.
O Snapshot da BRP traça um novo retrato da competitividade nacional, tendo por base os dados mais recentes e os novos indicadores disponibilizados na plataforma.
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