Se em 2016 os níveis do investimento público e das retenções de despesa nos serviços e organismos do Estado tivessem sido os mesmos que se verificaram em 2015, então, de acordo com os meus cálculos, os défices desses anos também teriam sido iguais, ou seja, 3% do PIB (excluindo o impacto do Banif). Estas variáveis foram assim decisivas para a consolidação orçamental de Centeno.

As informações sobre os cerca de 1.000 milhões de euros de cativações do ano passado constam na Conta Geral do Estado de 2016 publicada em julho último. Este documento revelou nomeadamente que programas como os da saúde, ciência, ensino superior, defesa e segurança interna foram alvo de retenções de muitos milhões (talvez aqui esteja uma explicação plausível para a degradação de alguns serviços…). Por outro lado, se analisarmos também as contas gerais dos anos transactos podemos concluir que as cativações em 2016 representam um máximo absoluto (superando mesmo as que se registaram nos tempos da troika).

Confrontado com esta realidade, o BE logo se apressou a criticar afirmando que o Governo “não tinha mandato para fazer cativações deste nível”. Já o PCP mostrou-se preocupado. Só que o problema é que do discurso à prática vai uma grande distância. A prova disso é que na semana passada, no âmbito das votações do Orçamento do Estado, estes dois partidos chumbaram as propostas de PSD e CDS que pretendiam, precisamente, limitar o valor máximo das cativações. Lá diz o ditado popular, “bem prega Frei Tomás, olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz”.

Recordo-me que Elba Ramalho num dos seus sucessos musicais conta que está de volta ao seu “aconchego”. A propósito da nossa política, é caso para dizer que, apesar da evidente derrota nas autárquicas, da pronunciada queda nas sondagens, e de o PS lhes continuar a chumbar propostas a torto e a direito – tais como as das carreiras dos professores –, BE e PCP mantêm-se bem aconchegados no bolso de Costa. À atenção dos mais distraídos: a geringonça está aí para durar.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.