Nas últimas semanas, o aeroporto de Beja tem estado em grande destaque nas notícias. Assim, à primeira vista, o facto de um avião ter aterrado num aeroporto quase nunca usado é o evento que menos de político tem, mas é aquele sobre o qual eu me gostaria de debruçar.
Parece que a empresa que trouxe o Airbus A380 fez uma excelente campanha, já que não se falava de outra coisa nas redes sociais, e a verdade é que os alentejanos que vivem na zona andaram literalmente a “ver aviões”. Eu, enquanto alentejana que sou (é este o meu “registo de interesses”), acompanhei a situação à distância. Interessada, claro. Não só pela minha condição de nascimento, mas sobretudo pelo que este tipo de eventos pode causar em termos de debate.
Sabemos todos que o país é desigual, que um maior desenvolvimento do interior não é simples, nem rápido de concretizar; que a malha empresarial tem muitos buracos; que a população está envelhecida, especialmente nestas zonas; e mais, que não se faz um processo de descentralização e desenvolvimento “só porque sim”, nem é possível fazê-lo por decreto. Contudo, políticas públicas planeadas com vista a um bem comum e um investimento estatal que faça sentido são, na minha opinião, as únicas direcções que podemos tomar.
O debate sobre o que deve ser o aeroporto de Beja vai de um extremo ao outro: os defensores que não querem saber dos custos porque o desenvolvimento deve ser feito a qualquer preço, e os que não querem considerar esta possibilidade porque querem um outro aeroporto num outro local, que possa, em seu entender, ser mais conveniente como Alcochete, por exemplo.
Claro que autarcas, empresários e outros grupos de cidadãos irão defender a perspectiva que lhes estiver mais em sintonia com os seus próprios interesses. Há estudos de viabilidade a favor e contra, a argumentação “tostão a tostão” pode ser a que se quiser fazer. Portanto, e tendo em consideração os estudos técnicos já existentes, voltemo-nos para aquilo que pode (deve?) reger estas decisões: a Política.
E escrevo ‘Política’ e não política porque depois se vai partidarizar isto tudo: Governo, autarcas, etc. Vitórias políticas à parte, não seria importante ver as futuras implicações de um investimento deste tipo que não considerem apenas os custos imediatos? Não faria sentido um aeroporto alternativo aos de Lisboa e Faro, porque no meio e a duas horas de cada um? Muitos dizem que não, mas quantas vezes, em voos fora de Portugal, não fazem mais tempo de viagem para chegar ao aeroporto de partida?
Conheço pessoas que já fizeram o ocasional serviço de terra no Aeroporto de Beja. A informação (valendo o que vale porque são testemunhos) é que o aeroporto está preparado para receber mais passageiros. Então, porque é que não se avança neste sentido? Não deve ser necessário descrever todas as potencialidades que tal tem para uma região em luta por melhorias económico-sociais há tanto tempo.
O desenvolvimento do comércio local seria uma grande vitória, e mais ainda um reinvestimento na ferrovia, que poderia ligar outras partes do país e até de Espanha, entre outras boas razões. As potencialidades são imensas e essa projecção vai, e deve ir, além do actual uso do aeroporto, com pouquíssimos passageiros até ao momento.
O tipo de planeamento que defendo deve ser pensado num quadro nacional, e essa Política que vai além da realidade de Lisboa, e que implica um planeamento do território mais igualitário e eficaz, é um dos nossos maiores desafios. Talvez seja esse o maior de todos os nossos desafios, porque traz consigo uma grande dinâmica populacional. Mas tem de haver coragem para olhar o país como um todo e agir de acordo com esse pensamento.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.