Está aí 2021. E, com ele, um grande conjunto de incertezas. Resolve-se a pandemia? Salva-se a economia? Serão realizadas as grandes competições desportivas? Volta público aos estádios? Regressam as atividades culturais com espectadores? Estarão de volta os turistas?
Não tenho memória de um ano tão desejado. E, ao mesmo tempo, de um ano tão respeitado. Desejado pelas respostas positivas às questões acima formuladas, mas respeitado porque creio termos ficado todos com a sensação de que, tendo a ideia pré-concebida de controlo sobre tudo, concluímos que afinal não controlamos nada. Sob esse ponto de vista, o ano de 2020 foi um verdadeiro ‘banho’ de humildade. Porque tínhamos a sensação que sabíamos tudo, e afinal tivemos de ajustar o nosso ‘saber’ à medida que os desafios da pandemia se foram colocando no nosso caminho. E agora, partimos para um novo ano com todas as cautelas e caldos de galinha que a situação impõe, mas com a convicção de que no arregaçar das mangas é que está a atitude certa.
O ano que agora se inicia pode ser um ano que representará um importante marco histórico de avanço civilizacional como um ano de agravamento do retrocesso. E, curiosamente (ou não), o resultado final está cada vez mais dependente do coletivo. Assim já nos provou a cooperação da comunidade científica internacional. E também nos provou a União Europeia e a sua presidente, Ursula von der Leyen, cujo empenho pessoal resultou numa verdadeira solução comunitária para a vacinação da população. Um acontecimento capaz de ‘calar’ os eurocéticos.
O que nos leva a crer que o segredo do sucesso está na cooperação e na capacidade que os líderes (de nações, de empresas ou de outras organizações) tiverem para se empenharem na tomada de decisões com a prioridade absoluta de servir.
É certo que se deseja que as decisões tenham consequências imediatas mas, desta vez, a comunidade espera muito mais do que isso. Começa a ganhar a consciência que as decisões que agora serão tomadas têm um enorme reflexo no futuro. Esperam que as ajudas comunitárias cheguem às pessoas através do apoio às empresas que efetivamente tenham intervenção direta na manutenção e criação de postos de trabalho. Esperam igualmente que se aproveite o momento para finalmente mudar de vez o paradigma energético. De consciência ambiental mais aguçada, esperam respostas concretas que travem a degradação ambiental do planeta.
Os cidadãos esperam, acima de tudo, transparência e verdade como pilares da democracia. Sim, o coronavírus deu-nos uma oportunidade histórica para corrigirmos os erros cometidos nos últimos anos que quase comprometiam a capacidade de nos organizarmos em sociedade livre e justa. Esta é, talvez, a fonte da maior esperança para o novo ano.
Porque isto do “novo normal” é uma frase feita desprovida de sentido prático e de utilidade. Não existe. Existem, isso sim, dados adicionais que nos colocam desafios que apelam para uma liderança esclarecida, comprometida com as pessoas e com o mundo que nos rodeia.