O coronavírus (Covid-19) é um perfeito cisne negro – fenómeno imprevisível, raro e de consequências incertas, e, por vezes, severas em termos económicos. Surgiu na China e a propagação foi tão célere [1] que pode causar um cataclismo na economia mundial, não ficando circunscrito às fronteiras do gigante asiático.
A verdade é que o Covid-19 contribuiu para a desacelaração da economia ao nível mundial em algumas zonas que já estavam em abrandamento. Já não há dúvidas que o vírus vai ter impacto na economia mundial, a questão é perceber qual será o impacto.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), já fez a advertência – existe a probabilidade de um cenário mau e outro ainda pior. No menos mau, a hipótese de que o pico da Covid-19 será superado ainda neste semestre, e os seus efeitos mundiais suaves, a OCDE projeta um crescimento global de 2,4% para 2020, meio ponto percentual a menos que o previsto em seu último relatório de novembro (2,9%), onde este valor já era considerado fraco. Mas nesta segunda-feira em Paris, a OCDE advertiu que o primeiro trimestre de 2020 pode afinal acabar no negativo, numa nova revisão mais pessimista para a economia mundial. Mas o desastre económico pode ser muito maior se as piores previsões sobre o coronavírus se confirmarem. Um surto mais duradouro poderia fazer o crescimento da economia mundial cair a 1,5% neste ano, metade do que se projetava antes da epidemia começar o que poderia empurrar numerosas economias para a recessão, incluídas as do Japão e zona do euro.

No Dubai, onde me encontro neste momento a trabalho e onde foram diagnosticados 21 pessoas infectadas, as escolas encontram-se encerradas e o governo cancelou todos os eventos programados, a começar pelos de desporto. E Portugal? Poderá uma economia frágil como a nossa sobreviver à devastação económica que o Covid-19 está a provocar a nível mundial?

Com dois casos diagnosticados, os hospitais, sem capacidades há muito de dar vazão ao número normal de pacientes, não estão claramente preparados para acolher uma enchente. A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, declarou que os hospitais de Santo António e São João, no Porto, onde se encontram hospitalizados os dois pacientes portugueses infectados, esgotaram a capacidade de internamento em quartos de pressão negativa para doentes suspeitos de infeção por Covid-19 e que teve de mandar abrir camas noutras unidades da região norte. Temos dois pacientes e os quartos esgotaram, a existir uma epidemia forte no nosso país será uma catástrofe. Mas Portugal foi dos últimos países a ser afectado, não teve tempo para se preparar? Como explicar a situação actual? Portugal ainda não aprendeu a lição “esperar o melhor, preparar para o pior”.

[1] https://www.worldometers.info/coronavirus/