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O ano é de recuperação, mas primeiro trimestre ainda será a meio gás

Instituições nacionais e internacionais veem a economia portuguesa a recuperar este ano. No entanto, o crescimento dos primeiros três meses ainda deverá ser penalizado pelo trimestre anterior e pelas medidas de contenção em resultado do agravar da pandemia.
14 Janeiro 2021, 18h05

2021 arranca sob o signo da recuperação e Portugal não deverá ser exceção à previsão de retoma mundial, depois da inesperada pandemia ter conduzido a economia mundial em 2020 à maior crise desde a Grande Depressão. Porém, a retoma que deverá ser lenta não deverá ver a luz do dia em Portugal antes do segundo semestre, estando muito dependente dos efeitos da vacinação.

Após um forte desempenho até fevereiro do ano passado, a economia portuguesa mergulhou numa forte reversão a partir de março, como consequência do alastrar da pandemia e das restrições impostas para controlar ou mitigar a propagação da doença. Após um terceiro trimestre mais animador, a atividade económica terá voltado a contrair no último trimestre do ano passado, com o apertar das medidas de contenção, pelo que as cautelas para o primeiro trimestre de 2021 ainda são muitas.

Segundo as projeções do Banco de Portugal (BdP), publicadas em dezembro, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá ter recuado 1,8% no quarto trimestre face aos três meses anteriores e caído 8% em termos homólogos, quando no terceiro trimestre recuperou 13,2% face ao trimestre anterior, ainda que com uma queda de 5,8% em termos homólogos. Bruxelas mostrava-se em novembro ligeiramente mais otimista e via a economia portuguesa a crescer 0,3% em cadeia no quarto trimestre de 2020, ainda que menos 9,4% face ao período homólogo. No entanto, as projeções da Comissão Europeia foram publicadas antes das medidas mais restritivas e ainda não têm isso em conta. Nesse cenário, os peritos do executivo comunitário estimavam que a economia portuguesa crescesse já 1,6% no primeiro trimestre deste ano, face ao trimestre anterior, registando uma contração homóloga de 4,2%.

Ainda que a atividade económica começasse a recuperar gradualmente – o que não é certo se os primeiros três meses do ano permanecerem reféns das medidas restritivas da contenção da pandemia –, o pior desempenho do último trimestre do ano passado terá um efeito de arrastamento e irá afetar o arranque de 2021. Como o governador do BdP, Mário Centeno, em dezembro, explicou, a taxa de crescimento em 2021 será muito afetada pelo mau ponto de partida dos últimos três meses do ano passado.

 

Intervalo de projeções entre 6,5% e 1,7%
Entre as principais instituições nacionais e internacionais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apresenta a projeção oficial mais otimista, ao ver a economia portuguesa a crescer 6,5% este ano. A OCDE é a instituição internacional mais pessimista, projetando um crescimento de 1,7%. Entre estes intervalos de projeções estão as do Governo, que conta com uma recuperação de 5,4%, em linha com o estimado pela Comissão Europeia. Já o Conselho das Finanças Públicas antecipa uma expansão de 4,8%, enquanto o BdP prevê uma recuperação da economia de 3,9% em 2021.

Apesar do intervalo alargado das projeções, a média está em linha com as estimativas de Bruxelas para a zona euro, estimando uma expansão de 4,2% e um crescimento de 4,1% na média dos 27 Estados-membros.

As projeções do regulador bancário para Portugal assumem que as restrições serão gradualmente retiradas a partir do primeiro trimestre de 2021, embora a atividade permaneça condicionada até ao início de 2022, altura em que considera que a vacina terá produzido os efeitos necessários contra a pandemia.

“A atividade económica deverá retomar o nível anterior à pandemia no final de 2022”, considera o BdP, sublinhando que “a retoma projetada beneficia das decisões de política monetária e orçamental de resposta à crise”.

O BdP realça, à semelhança da generalidade das instituições, que “as perspetivas económicas permanecem rodeadas de elevada incerteza, estando dependentes da evolução da pandemia e da rapidez da vacinação em larga escala”.
É por isso que assinala que o ritmo da retoma da atividade económica “será condicionado pelo impacto da crise sobre a capacidade produtiva e pela necessária reafectação de recursos entre empresas e entre sectores”.

Na ótica do Governo, o crescimento anual previsto de 5,4% “reflete um contributo positivo, tanto da procura interna (4,1 p.p.), como da procura externa líquida (1,3 p.p.), por via de um maior dinamismo das componentes de consumo privado, investimento e consumo público, e de um crescimento das exportações mais intenso que o esperado para as importacões”. Como tal, prevê uma quebra estimada de 7,1% em 2020 do consumo privado, e um aumento de 3,9% em 2021, reflexo da diminuição da incerteza e de “uma gradual melhoria no mercado de trabalho”, com consequência para “um ligeiro aumento no rendimento disponível das famílias e a uma redução na taxa de poupança”. Também o consumo público deverá aumentar.

Se é expectável que o consumo ajude à recuperação a partir do início do ano, a retoma das exportações de bens e serviços já deverá ser mais lenta, refletindo especialmente a quebra de atividade do turismo.

Os países dependentes deste setor, como Portugal, deverão recuperar a um ritmo mais lento da crise provocada pela pandemia, avisava a Comissão Europeia nas projeções económicas deste outono.

“A atividade no grande setor de hospitalidade do país permaneceu bem abaixo da capacidade e não se espera que recupere totalmente durante o período de previsão”, ou seja até ao final de 2022, podia ler-se no relatório, sublinhando que Portugal se depara com um outro desafio, “dado que grande parte do setor depende do transporte aéreo, Portugal enfrenta também uma maior concorrência de destinos mais frequentados por estrada”.

O alerta é partilhado pela generalidade das instituições, como o BdP, que antecipa uma recuperação mais lenta das exportações, quando comparado com outros componentes do PIB, devido à evolução dos fluxos de turismo. O supervisor prevê que as exportações de bens e serviços cresçam 9,2% em 2021.

“A hipótese de relativo controlo da pandemia nos principais parceiros comerciais a partir do segundo trimestre de 2021 traduz-se num crescimento da procura externa dirigida à economia portuguesa em 2021-23”, explica, advertindo, contudo, que “a dissipação mais lenta das medidas de distanciamento social aliada à manutenção de alguma incerteza atrasam a recuperação das exportações de serviços, em particular, dos fluxos de turismo e serviços relacionados”.

Neste sentido, o boletim prevê que o contributo da componente de turismo para a variação das exportações totais será ainda marginalmente negativo em 2021 (-0,8 pp).

Ainda assim, no relatório da OCDE, a instituição com sede em Paris estimava que, após uma retoma sustentada no consumo, “a recuperação seria mais ampla, nomeadamente dos setores afetados pela crise, tendo em conta a situação sanitária vir a melhorar com o desenvolvimento de uma vacina eficaz”.

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