Os “balanços” passaram de moda. Olha-se agora menos para o passado e mais para o que aí vem. Arriscarei sintetizar o modo como, nos últimos 12 meses, se comportaram aqueles que mais influenciam os equilíbrios globais.

A maior potência mundial, os EUA, dirigida por um líder atípico (e isto é um understatement), confirmou, em 2018, que o seu tropismo nacionalista, protecionista e subversor do ordenamento global, de que havia sido o principal mentor, está para durar. Trump agravou distâncias com os europeus com pretextos económicos, desligou-se do acordo com eles estabelecido para o controlo nuclear do Irão, introduzindo, na passada, novos fatores de tensão no Médio Oriente. Manteve o desprezo pelo sistema multilateral, nomeadamente na vital questão climática. Apanhou o mundo de surpresa, ao encontrar-se com o ditador norte-coreano, conseguindo aí uma singular trégua, na espiral de perigosas provocações que dele emergiam.

Menos claras continuam a ser as suas relações com a Rússia: tanto mostrou uma quase subserviência face a Putin como, mais tarde, o vimos reforçar as sanções a Moscovo, no caso do antigo espião russo envenenado no Reino Unido. E, num jogo de sombras que só o futuro permitirá entender, EUA e Rússia parecem discretamente confortáveis em manter Assad no poder.

A China surge ainda num segundo lugar na lista das prioridades globais. Entre picos de tensão e tréguas comerciais, está claro que ela é o adversário em cujo crescimento e projeção os EUA vão atentar. A Rússia pode constituir um problema para América, pelo potencial desestabilizador no seu “near abroad”, mas o qualificativo de “poder regional”, que Obama lhe deu, tem hoje todo o sentido. Assim, a atenção americana centra-se, na ordem externa, na ameaça chinesa, da economia à segurança.

Mas é evidente que muito está para vir: é que, para concretizar as suas ambições globais, Pequim terá de dar um “grande salto em frente” de influência político-diplomática que, com certeza, não será recebido de braços abertos pelos restantes “major players”.

Em 2018, a União Europeia mostrou avanços e recuos na afirmação da sua vontade política coletiva. O espetro do Brexit foi, claramente, o pano de fundo e de teste da capacidade de agregação dos “vinte e sete”. A unidade conseguida face a Londres foi uma boa surpresa. A negociação com os britânicos está a correr tão bem como qualquer divórcio contencioso pode correr. Mas, se o Brexit se concluir sem acordo, os impactos devem ser muito consideráveis.

Menos conseguidos são os passos para a consensualização de medidas para o reforço da governabilidade do euro: sérias diferenças permanecem, numa divisão entre Estados que parece dificilmente ultrapassável. A Europa, para além de tudo isso, dá mostras de alguma tibieza ética, ao não ter coragem para se opor às derivas anti-democráticas e xenófobas de alguns dos seus Estados. A sua autoridade moral à escala global sairá forçosamente ferida desta ominosa omissão.

O mundo que entra em 2019 acarreta também consigo esse fantástico universo de oportunidades e riscos que é a globalização tecnológica, com impactos na circulação da informação e na qualidade da democracia que só agora começam a ser avaliados. O mundo está perigoso? Sejamos realistas: quase sempre esteve.