Acercam-se as autárquicas e é óbvio para quem lê estas linhas que não são mobilizadoras. Por esse país fora não se sente qualquer entusiasmo ou dinâmica em torno da enormíssima maioria dos candidatos. Mesmo nas duas maiores cidades onde os combates se podem tornar barómetro do estado da arte, o desfecho já é conhecido, logo, o desinteresse agrava-se.

No Porto, Rui Moreira esmaga, em Lisboa, Fernando Medina ganhará sem problemas fruto dos erros de Carlos Moedas. Para lá do desconhecimento gritante da cidade, rodeou-se de incompetentes e ignorantes, não escutou quem o aconselhou a ouvir outras pessoas, foi tíbio ao aceitar as imposições dos directórios partidários que excluíram elementos válidos (no CDS, João Gonçalves Pereira e no PPM, Aline Gallasch-Hall).

Como escrevi há algum tempo, após os primeiros sinais de uma campanha medíocre, Carlos Moedas, que é bom homem e bem intencionado, revelou estar mais bem preparado para ser governo de Portugal do que para gerir a capital. Aliás, nunca vi ninguém desprezar e deitar para o lixo, por mau aconselhamento e erros de avaliação, uma unanimidade quase completa de tantos analistas (de esquerda e direita) que o consideraram um bom campaigner e uma séria ameaça para Medina.

Decorrem também, com um excelente serviço público realizado pela RTP, outros debates nas capitais de distrito. O cenário é medonho pois é visível que, com honrosas excepções, os candidatos são sofríveis e impreparados.

Não acredito que não haja gente com talento e mérito em todas as terras, o problema é que pessoas qualificadas não querem ser contagiadas pelos aparelhos partidários e pelos semi-analfabetos que controlam as estruturas locais e usam a política para sobreviver, pois não sabem fazer mais nada. Enquanto a política não for currículo em vez de cadastro, os melhores não entrarão nela.

É neste quadro que se aguardam os resultados finais. Há curiosidade para ver se o PCP estanca a sua morte anunciada, se o Chega evitou o voto útil, se a Iniciativa Liberal consolida o seu crescimento urbano. Certezas: a de que o BE não vai eleger nenhum presidente, o PS vai ganhar no cômputo geral e Rui Rio apresentará a sua melhor face de lapa agarrada ao lugar da São Caetano qualquer que seja o resultado.

Como no PSD, um partido que no seu código genético tem o melhor das tragédias e as mais fantásticas manobras de traição e fuzilamento interno, são milhares os telefonemas de intriga, os repastos no segredo dos deuses e os bailados de quem prepara a sucessão de um líder que foi um enorme erro de casting por falta de jeito para a função.

A entrevista de Paulo Rangel a Daniel Oliveira é apenas uma peça deste intrincado puzzle. Nunca me interessaram os biombos ou armários onde se escondiam os políticos, não gosto é de hipocrisias e de quem arranja uma família forjada para esconder a sua real sexualidade e há muitos casos assim. Considero que não é a opção sexual fundamental para a escolha de um líder político ou decisor, e só num país de mentalidade conservadora e tacanha é que a afirmação da sexualidade ainda faz notícia.

A única notícia que subjaz a tudo isto é que Paulo Rangel será candidato a líder do PSD. Que se divirta.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.