A única certeza que temos neste momento é que no dia 14 de setembro as instalações petrolíferas da Aramco, em Abqaiq e Khurais, no leste da Arábia Saudita, foram atingidas por drones e mísseis lançados de parte incerta (Norte do Iémen, Sul do Iraque, interior do território Saudita ou do Irão) por desconhecidos (Houtis, iranianos, milícia xiita iraquiana Hashd Al-Sha’abi ou eventualmente outros), apesar do ataque ter sido reclamado pelos rebeldes Houtis apoiados pelo Irão.

O resultado foi a redução em cerca de 50% da capacidade de produção petrolífera saudita. Teerão nega veementemente o envolvimento no ataque, o Pentágono não identificou ainda um responsável, e Mike Pompeo não tem dúvidas, como sempre, de que o ataque foi perpetrado pelo Irão. Por enquanto, não existem evidências credíveis que provem a autoria e o local de lançamento dos mísseis.

Independentemente dos seus autores, os ataques evidenciaram: por um lado, a debilidade militar da Arábia Saudita, o terceiro país que mais gasta em defesa a nível mundial, que não conseguiu derrotar as forças xiitas no Iémen após quatro anos de guerra. Os sauditas queixam-se que não intercetaram os mísseis porque a defesa antimíssil estava orientada para o sul, para o Iémen, e os mísseis “voaram” baixo.

Qualquer destes argumentos é lastimável; por outro, a imensa panóplia de ações militares ao alcance de Teerão. A capacidade do Irão poder causar dano não se limita ao fecho do estreito de Ormuz ou à apreensão de petroleiros no Golfo Pérsico. As suas possibilidades militares vão muito para além disso e podem causar grande mossa.

A confirmar-se a autoria iraniana dos ataques à Arábia Saudita, os EUA ficariam perante um terrível dilema, sem respostas fáceis ou boas opções. Se a escalada iraniana não for contraposta com firmeza, Teerão tem estímulos para prosseguir nesse caminho.

Mas, por outro lado, uma resposta militar norte-americana contra o território iraniano teria repercussões económicas imprevisíveis à escala global, que superariam em muito a “insignificante” subida de 20% do preço do petróleo presentemente registada nos mercados. Os EUA não ficariam imunes, num momento sensível em que se aproximam as eleições presidenciais de 2020.

Uma decisão errada correria o risco de incendiar o Médio Oriente. A presente colocação de meios militares norte-americanos na Arábia Saudita ao abrigo do acordo de proteção assinado entre os dois países no início da década de 70 é de natureza defensiva e visa fundamentalmente aumentar a capacidade de defesa aérea saudita e dos Emiratos Árabes Unidos.

Obama tinha razão quando tentou estabelecer um equilíbrio de forças entre sunitas e xiitas no Médio Oriente. O acordo sobre o programa nuclear iraniano (JCPOA) refletia esse pensamento. Ao romper com o JCPOA, não ficou claro onde é que Trump pretendia chegar em matéria de arranjo de forças na região. Para já, o resultado dessa falta de discernimento estratégico traduziu-se numa aliança espúria com os países sunitas da região, acusados de promoverem e financiarem o terrorismo internacional, contra o Irão.

Estamos hoje pior do que estávamos ontem. Agora, mais do que nunca, é preciso esclarecimento e uma conjugação de esforços que permita travar a escalada belicista a que assistimos e que dirima as divergências pela via diplomática. Ninguém vai ganhar com o agravamento desta contenda.