1. António Costa, o primeiro-ministro, está a utilizar as melhores técnicas dos spin doctors profissionais. Completamente acossado pelos casos dentro do Governo, que envolvem seis ministros e dois secretários de Estado, resolveu usar a velha técnica de que a melhor defesa é o ataque, algo que funciona muito bem em política.

Lembrou-se de atacar Paulo Rangel, eurodeputado do PSD, dizendo que este pouco percebia de energia e dos procedimentos europeus sobre esta matéria. Por um lado, se há pessoa que domina bem as matérias de energia, e não só, é Paulo Rangel porque é vice-presidente do PPE e se encontra no inner circle, onde são tomadas as decisões por quem manda, ou seja, Bruxelas. Por outro, Costa resolveu inventar e reforçou a intenção de uma guerra dentro da Iniciativa Liberal (IL) a propósito da saída de João Cotrim Figueiredo e do candidato Rui Rocha, que terá Carla Castro como oponente.

Nada mais errado, pois a IL vai para o quarto líder em pouco tempo de vida e tudo aconteceu sem guerras intestinas, sem lutas entre fações, num exemplo que deveria ser replicado por outros partidos.

Enquanto isto acontece, António Costa deixa André Ventura, o dirigente do Chega, andar à solta e este vai ganhando espaço no eleitorado. Vai dando entrevistas ao mainstream, como foi o caso recente no jornal “Observador”, e o líder Ventura vai “comendo” espaço de oposição ao PSD e à IL.

Aqui chegados cabe fazer uma nova referência ao dirigente do PSD, Luís Montenegro. Este, das duas uma, ou contraria esta tendência e faz ele oposição acérrima ao Governo de Costa e lidera o espaço político do centro-direita, ou esse lugar está irremediavelmente perdido a favor de Ventura, que se pode assumir como líder da oposição nas próximas legislativas.

Este fenómeno aconteceu em França, está a acontecer em Itália e pode acontecer em Portugal. Os partidos ditos moderados perdem espaço para os partidos mais populistas se não se adaptarem.

2. O novo diploma de contratação pública arrisca tornar-se uma dor de cabeça futura. O Presidente da República promulgou o diploma do Governo com o objetivo de simplificar procedimentos, mas não deixou de invocar riscos.

O objetivo é otimizar e ganhar tempo perdido nas ajudas europeias, mas o grande risco passa por aquilo que alguns chamam de “orgia nas compras”, ou seja, um descalabro porque se perspetiva que futuramente se criem condições para se fazerem os contratos que se quer e “a quem se quer”.

Ora, os governantes e a população portuguesa são, por natureza, “burocráticos” e essa alteração não pode ser apenas regulatória, tem de passar pelo pensamento e atitude. E isso só irá acontecer quando as condições de ética se sobrepuserem às necessidades de enriquecimento, algo que se afigura difícil.

3. A subida dos juros por parte do Banco Central Europeu, e a repercussão nos indexantes que os portugueses utilizam na habitação e no consumo, continua a agravar-se

A expectativa é de que a esperada recessão na Alemanha abrande esta política monetária no início do próximo ano. Para além da falta de confiança de consumidores e empreendedores, a situação das famílias portuguesas, e dos jovens em particular, vai agravar-se durante muitos anos. Haverá um retrocesso nas condições gerais de vida e de pouco servirão as panaceias públicas para os proprietários de habitação própria e permanente.