A Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, afirmou há poucos dias que “é penoso ver que Portugal, com estes anos todos de apoio, ainda está entre os países atrasados”. Partilho inteiramente dessa sua opinião. Talvez a senhora Comissária possa questionar a militante do Partido Socialista e ex-ministra do Planeamento nos dois governos liderados por António Guterres, Elisa Ferreira, sobre as razões para esse mesmo atraso.

Muito recentemente, pelo menos uma dessas razões ficou em evidência; Pouco depois do dia 16 de Junho, imortalizado agora para sempre nos calendários pela pergunta do primeiro-Ministro António Costa à presidente da UE, Ursula von der Leyen, sobre se já poderia ir ao banco, foi publicado um artigo revelador. De acordo com esse mesmo artigo, e tendo como base uma análise dos peritos da Delloitte, Portugal fica atrás de Itália, França, Espanha e, inclusive, da Grécia, quanto ao impacto dos Planos de Recuperação e Resiliência para o crescimento do PIB nos respetivos países.

Com efeito, segundo a simulação efetuada pelos serviços da Comissão, o nosso PRR tem um potencial de entre 1,5% a 2,4% para aumento do PIB até 2026, enquanto o impacto do PRR da Grécia é avaliado entre 2,1% e 3,3% para o mesmo período. Que mais nos separa dos Gregos? Uma diferença fundamental quanto ao destino das verbas na repartição entre o Estado e o setor privado. De acordo com uma análise comparativa efetuada pelo vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, o nosso PRR dedica 62,5% das verbas para o setor público, o grego apenas 33%. Por outro lado, a perspetiva é a da geração de 200 mil novos empregos no caso grego e de apenas 50 mil para o caso português.

Finalmente, mas não menos despiciendo, temos no nosso PRR um movimento contraditório quanto áquilo que são as metas europeias ao nível ambiental e, também aqui, isso provoca um impacto negativo na competitividade.

Segundo uma muito recente análise do Instituto Bruegel, um think tank europeu especializado na análise económica das políticas europeias: “Portugal é dos países onde a componente ambiental tem menos peso nas escolhas dos projetos a executar com o dinheiro do fundo de recuperação europeu”. Na verdade, no que toca à transição ambiental Portugal aparece no fim da tabela, com os investimentos nesta área a pesarem apenas 24,4% do plano global. Como divulgou há dias o jornal ‘Público’: “O peso de 24,4% dos projetos nesta área divide-se entre o 1.º pilar (ambiente) com 9,5% do total, o 1.º e o 3.º (crescimento sustentável) com 12,57% e o 1.º e o 5.º (saúde e resiliência) com 2,34%”.

Em suma, bem pode a Comissário Elisa Ferreira manifestar o seu pesar sobre o constante atraso português. Mas é importante que se note que é o partido a que pertence o maior responsável pelo desperdício das oportunidades para o contrariar e inverter.