Os debates da pré-campanha eleitoral têm sido marcados pela tradicional temática ideológica dos direitos e responsabilidades, aos quais tem sida acrescido episódios menos tradicionais relativos à emergência climática mundial e sustentabilidade ambiental, mas que em Portugal o debate continua pouco mais que insipiente e ligado a fait divers mediáticos. Pouca ou nenhuma tem sido efetuada uma séria avaliação ao estado de arte da governação socialista – afinal estamos melhor ou pior que em 2015 – e sobretudo pouco tem sido dito sobre os verdadeiros riscos que Portugal irá enfrentar nos próximos anos da legislatura que agora os partidos se lançam.

Seja feita justiça, Rui Rio meteu o dedo numa das principais feridas relacionadas com a governação socialista, e que tem permanecido escondida do debate publico. Os portugueses continuam a sair do país. Embora com uma média inferior ao do período da intervenção externa, os portugueses continuam a sair do país em número elevado – desde 2015 que em média mais de 35 mil portugueses procuram melhores condições de vida noutros países, sobretudo na Europa, onde residem 62% dos emigrantes. A verdade é que o país continua a ser, em termos acumulados, o país da União Europeia com mais emigrantes em proporção da população residente (considerando países com mais de um milhão de habitantes). De acordo com as últimas estimativas das Nações Unidas, para 2015, o número de emigrantes nascidos em Portugal superou os dois milhões e trezentos mil, o que significa que cerca de 22% dos portugueses vive atualmente fora do país.

Este facto apenas deve evidenciar duas situações. A primeira, que é simples e evidente, é sobre o posicionamento do país relativamente ao projeto do euro e da União Europeia. Se o país fosse forçado a absorver boa parte dos portugueses que desde a crise de 2010 procuraram alternativas de emprego na zona euro, teríamos sem dúvida uma situação de crise social no país. Depois, porque a situação de Portugal num cenário global de automação dos processos é um tema crítico. A implementação de tecnologia pode custar até 30% dos postos de trabalho em economias desenvolvidas, como a dos Estados Unidos, cerca de pelo menos 400 a 800 milhões de postos de trabalho a nível mundial. Isto até 2030, ou seja, numa década.  A transição e requalificação irá necessitar de uma estratégia política, que tem estado fora do debate político.

Por fim, é preciso dizer que o rei vai nu. Apesar da narrativa socialista, não existe milagre económico. Os portugueses pagaram mais impostos em Portugal nos últimos 4 anos, cujo reflexo nas contrapartidas publicas foi menor – com deterioração dos serviços de saúde, transportes e infraestruturas cada vez mais obsoletas.  O ímpeto reformista foi adiado, em nome da gerigonça e dos interesses instalados. A mediatização do sucesso é por isso, pouco mais que uma ilusão, mantida com custos que existem, mas não são imediatamente visíveis pela generalidade dos eleitores, pelo menos enquanto o Banco Central Europeu for mantendo os custos financeiros em níveis quase negligenciáveis.