Por vezes não ficamos satisfeitos por ter razão. E é isso o que me sucede agora, quando a realidade vem confirmar as cautelas que expressei neste mesmo jornal no passado dia 1 de outubro.

Nesse artigo, escrevi que a postura adotada por Christine Lagarde e o Banco Central Europeu (BCE), ao considerarem os sinais de aumento da inflação como “choques de oferta transitórios que não têm influência no médio prazo”, era algo prematura, tal como a convicção então expressa de que estaríamos a atravessar “uma fase inflacionista temporária relacionada com a reabertura da economia” que o BCE esperava terminasse juntamente com os efeitos da pandemia.

O que sucede é que os efeitos da pandemia não dão sinais de desaparecer, os preços aumentam e parece cada vez menos avisado o apelo feito há menos de dois meses por Lagarde para que os consumidores da zona euro adotem um comportamento de menor cautela, pedindo às famílias que gastassem mais das suas poupanças no sentido de um maior consumo, para estimular a economia.

Como então escrevi, “relativamente à inflação, considero que será mais adequado aguardar até verificarmos se o aumento dos preços é tão transitório como a presidente do BCE afirma acreditar”.

A semana passada foi notícia que a inflação da zona euro permanecerá elevada durante mais tempo do que o anteriormente esperado, após declarações da própria presidente do BCE, embora Christine Lagarde reiterasse a sua convicção de que a inflação descerá abaixo do objetivo do BCE de 2% a médio prazo.

“Ainda vemos a inflação a moderar-se ao longo do próximo ano, mas levará mais tempo a diminuir do que o inicialmente esperado”, afirmou a responsável pelo BCE aos eurodeputados, na Comissão Económica do Parlamento Europeu. A ser assim, os especialistas já apontaram que o BCE terá de rever em alta a sua previsão da inflação na reunião agendada para dezembro, a sexta vez consecutiva que terá de o fazer.

Para Lagarde, dado o desfasamento temporal com que a política monetária funciona, o endurecimento das taxas de juro agora seria prejudicial, sendo que os efeitos seriam atingidos já na altura em que se espera que os preços voltem a descer de qualquer forma. Veremos. Como muito recentemente divulgou o Eurostat, à medida em que a economia da Europa recupera, os bens ficam cada vez mais caros.

Os últimos dados do Eurostat mostram que a inflação na zona euro atingiu 4,1%, o valor mais alto desde há muito e quase o dobro da estimativa anual de 2,2% do BCE. Com efeito, como salientou o Euronews em notícia relacionada, a inflação anual – a taxa de variação dos preços dos bens e serviços ao longo do tempo – já era elevada em setembro (3,4%), mas a persistente crise energética fez subir em flecha as faturas de eletricidade, impulsionando ao longo do caminho todo o tipo de produtos e serviços.

Considerando tudo isto, a realidade se encarregará de comprovar se Lagarde e o BCE têm ou não razão no seu otimismo. Esperemos que sim.

 

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Telmo Correia é seguramente um dos mais brilhantes parlamentares que passaram pela Assembleia da República (AR). O anúncio da sua indisponibilidade para continuar a servir o CDS e o país na AR – motivada pelo desrespeito e desinteresse de Francisco Rodrigues dos Santos pela atividade do partido no Parlamento e pela falta de democracia interna no CDS – é mais um exemplo da triste gestão, ainda em funções, no Largo do Caldas.

A título pessoal, para além da amizade, posso dizer que ao longo de mais de duas décadas tive o privilégio de trabalhar e aprender com um dos melhores. Muito obrigado, Telmo!