Não há razões para alarme, dizem-me. O Bloco não discrimina as mulheres, protege as minorias, é contra a livre posse de arma, respeita o Estado de Direito e nunca porá a democracia em risco. De facto, parece haver muita gente a tentar passar esta narrativa, e há muita gente, seguramente bem intencionada, a acreditar nesta realidade alternativa.
Não tenho memória de nenhum congresso partidário nos últimos dez anos com metade da cobertura que teve esta convenção dos trotskistas portugueses. Cada um dos protagonistas promovidos pelo BE foi protagonista na maioria da imprensa. O exercício de proto-governo pôs o jornalismo luso a falar dos putativos futuros ministros bloquistas. Faltou apenas Ricardo Robles com a pasta da Habitação ou Pedro Soares com a pasta da Mobilidade. Um analista frio e desligado diria que o absurdo foi tão grande que não produzirá efeitos. Será mesmo assim?
O Bloco é aliado do PS na geringonça, goste ou não, é co-responsável por todas as políticas, todas sem excepção, do governo de António Costa. É co-responsável pela agonia do Serviço Nacional de Saúde, é co-responsável pelo colapso dos transportes públicos, é co-responsável pela asfixia da cultura, é co-responsável pela frustração das expectativas dos funcionários públicos, é co-responsável pela pobreza que aumenta todos os dias, é cumplíce do extenso rol de erros, más decisões e patifaria política a que o governo Costa tem sujeitado os portugueses.
Por muito que arme uma teatrada hipócrita a zurzir no PS, há uma verdade incontornável: sem Bloco não há geringonça! Ainda que tenham repetido a narrativa da desresponsabilização à exaustão, não é por ser muito repetida que uma mentira passará a ser verdade.
O Bloco vive, actua e tenta impregnar-se num Estado de Direito, porque está em Portugal. Quererá isto dizer que é respeitador do Estado de Direito? O Bloco, fundado por partidos de matriz trotskista e marxista-leninista, descendente directo do Secretariado Unificado da Quarta Internacional, não tem qualquer tipo de pudor com o totalitarismo comunista, provou que não o tinha com a censura, branqueia sem vergonha as práticas ditatoriais mais abjectas da actualidade.
Não nos surpreende ver o Bloco a criticar a isenção da justiça brasileira, exigindo impunidade para os seus amigos, a apelar à revolta contra resultados democráticos de eleições livres ou a branquear ditadores sanguinários da mesma cor. Esta concepção de respeito pelo Estado de Direito não aparece em nenhum manual.
O Bloco fala em camaradas e camarados, diz defender as mulheres e as minorias. Ainda assim, não hesita em alinhar às claras com Estados onde as mulheres são tratadas como inferiores, onde as minorias são oprimidas ou suprimidas, onde a opinião só é permitida se coincidente com a do chefe.
O Bloco fala em melhores condições de vida para todos, sol na eira e chuva no nabal. O seu referencial, o grande financiador deste tipo de partidos extremistas, é a Venezuela. O Bloco diz que a população venezuelana já está bem melhor, que até já pode comer três vezes por dia! O Bloco branqueia o caos a que chegou o Brasil de Lula. O Bloco é cúmplice objectivo no apoio internacional às maiores atrocidades sobre sociedades inteiras. O Bloco mente, mente, e torna a mentir.
O Bloco não consegue, nem quer, distanciar-se dos escândalos dos seus camaradas nacionais e internacionais. O Podemos afunda-se nas sucessivas revelações da sua verdade, da sua real essência, e o silêncio do Bloco é sepulcral. O anti-semitismo de Corbyn não lhes faz perder o sono. Mélanchon aos gritos, a filmar agentes da autoridade, sem respeito pela sua privacidade, é aplaudido, enquanto criticam as fotografias dos ladrões portugueses. Robles foi um mal-entendido e Pedro Soares um descuido. Tentam abafar tudo entre gritos esganiçados projectados em todas as direcções.
O Bloco prega uma moralidade intransigente, de dedo em riste e voz colocada. A realidade do Bloco é outra bem diferente. A realidade é feita por deputados que viciam moradas para obter ajudas de custo, por autarcas que pregam rigor na política de habitação e praticam na sombra a mesmíssima especulação que abominam em público, por dirigentes que anunciam perseguições à classe média trabalhadora, por gente que ataca a imprensa livre, por radicais que querem a nacionalização da banca, a saída da NATO e a marginalidade na União Europeia.
A minha formação académica impede-me de lhes chamar fascistas, ou neo-fascistas, exactamente pelo mesmo motivo que não uso tais termos para Trump ou Bolsonaro; é uma questão de exactidão de conceitos. O Bloco é, sim, em primeiro lugar, um poço de contradições, um monumento à hipocrisia, o maior embuste político da actualidade portuguesa.
O Bloco é uma associação que radica no totalitarismo, na subversão, na negação da democracia e do respeito pelos Direitos do Homem. O Bloco admira mais facilmente uma ditadura do que um Estado de Direito Democrático. O Bloco vive apostado na destruição do padrão de vida Ocidental, através da militância e patrocínio de todas as causas fracturantes que possam dividir e enfraquecer a sociedade.
O Bloco merece-me exactamente o mesmo respeito que os populistas proto-ditadores da actualidade. A sua dimensão na sociedade portuguesa causa-me, enquanto democrata, a mesma apreensão que terá causado na altura a um democrata francês a ascensão do Sr. Le Pen. Baixem a guarda, e depois não se queixem!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.