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O ‘boom’ turístico na zona de exclusão em torno de Chernobyl

É uma das áreas com maior nível de contaminação radioativa do planeta, mas esse risco não demove os muitos turistas que a têm visitado, incluindo portugueses. O sucesso da mini-série televisiva da HBO gerou um aumento da procura de itinerários turísticos no território ucraniano assolado pelo acidente nuclear de 1986 que incluem alimentar peixes que vivem nas águas radioativas do canal de arrefecimento da central nuclear e tirar fotografias a 100 metros do reator que explodiu.
14 Julho 2019, 13h00

O sucesso à escala global da mini-série televisiva “Chernobyl”, uma co-produção da HBO e da Sky UK, gerou um aumento substancial do número de turistas na zona do acidente nuclear que abalou o mundo há cerca de 33 anos, com epicentro na Ucrânia, então integrada na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). De acordo com a Reuters, os turistas querem sobretudo ver a central nuclear de Chernobyl e também passear na cidade-fantasma limítrofe de Pripyat, evacuada na sequência do acidente nuclear. A zona de exclusão de cerca de 2.600 quilómetros quadrados em torno da central nuclear, imposta desde 1986, é uma das áreas com maior nível de contaminação radioativa do planeta, mas esse risco não demove os muitos turistas que a têm visitado, inclusive portugueses.

A PBS Travel é a única agência em Portugal que comercializa um pacote de viagem-alojamento com excursão a Chernobyl. O preço mínimo é de 440 euros (para uma pessoa e na “época baixa”). “Catástrofe de Chernobyl, o pior acidente nuclear da história, mas a central e a cidade-fantasma onde se situa são hoje um destino turístico em crescimento. A 26 de abril de 1986, às 01h23m, o reator número quatro da central, a cerca de 100 quilómetros a norte de Kiev, explodiu num teste de segurança e o combustível nuclear ficou a queimar-se durante 10 dias, lançando para a atmosfera elementos radioativos que terão contaminado, segundo algumas estimativas, até três quartos da Europa”, destaca-se na brochura de promoção da viagem.

“Apesar de gravidade do acidente, passado 30 anos, a instalação do sarcófago metálico sobre o local do acidente torna a visita ao local bastante segura. Um dia na zona de exclusão é equivalente a duas horas de voo sobre o Atlântico, em termos de dose de radiações absorvidas. Ao saírem de Chernobyl, todos são obrigados a passar os controlos de radiação”, assegura-se. “O programa inclui visitas à nova cúpula, a aldeias abandonadas, ou alimentar siluros (grandes peixes de água doce) que vivem nas águas radioativas de um canal de arrefecimento da central. Mas o ponto alto continua a ser Pripyat, a cidade-fantasma situada a alguns quilómetros da central evacuada em três horas a 27 de abril de 1986”.

Regras de segurança
Contactada pelo Jornal Económico, Irina Nesterchuk, funcionária da PBS Travel, confirma que se verificou um aumento da procura pela viagem a Chernobyl após a estreia da mini-série televisiva na HBO Portugal, mas não tanto quanto esperariam. “Sim, temos tido muitos pedidos de informação sobre a visita e temos grupos que ponderam adicionar este ponto ao circuito na Ucrânia. No entanto, sentimos que o povo português ainda é bastante fechado a este tipo de experiências e destinos diferentes”, afirma Nesterchuk.

Quais são as perguntas mais frequentes que os interessados nessa viagem costumam colocar? “A questão de segurança será a principal e também o preço da visita, pois é elevado”, responde Nesterchuk. Os interessados são “sobretudo jovens entre os 25 e os 40 anos, homens e mulheres”. A principal motivação consiste na “moda de visitar locais diferentes” e também “a experiência radical, a questão histórica e o santuário ambiental que se estabeleceu na zona de exclusão”.

E quanto às precauções de segurança ao nível do vestuário e equipamento? “Para começar é necessário obter uma autorização das autoridades ucranianas para entrar na zona de exclusão”, salienta. “Existe um controlo muito grande na entrada e saída. Só é possível visitar o local com um guia credenciado. É obrigatório ter calçado fechado e roupa que tape a maior parte do corpo. Calções e saias curtas não são permitidas. Também não é permitido comer, beber e fumar, tocar em objetos e muito menos trazer algo para fora da zona. Para a segurança do visitante, este deve acompanhar sempre o guia. A visita inclui um almoço numa cantina na zona que é segura”.

A funcionária do PBS Travel diz que não costumam ocorrer desistências à última hora e descreve o programa da excursão: “O ‘tour’ parte de Kiev, a cerca de 130 quilómetros de distância. Começa às oito da manhã e o regresso está programado para as sete da tarde. Este é o programa mais vendido. No entanto, há a possibilidade de fazer um tour de dois ou mais dias. Existe um hotel na zona de exclusão onde os turistas ficam alojados, caso a visita dure mais do que um dia. Nem tudo está abandonado na zona e sim apenas a cidade de Pripyat, que é o ponto mais alto da visita. Muitas pessoas trabalham na base nuclear de Chernobyl e há pessoas que vivem lá”.

Em busca dos cenários televisivos
No início de junho, a Reuters informou que as agências que organizam viagens desde a capital da Ucrânia, Kiev, até à zona de exclusão em torno de Chernobyl, apontam para um aumento de entre 30% a 40% na procura. Muitas pessoas dizem querer visitar os cenários da mini-série televisiva. Os passeios guiados, em inglês, custam cerca de 90 euros por pessoa.

Sergiy Ivanchuk, gerente da agência SoloEast, disse à Reuters que a sua empresa já registou um aumento de 30% no número de turistas em maio, comparativamente com o mesmo mês no ano passado. As reservas para junho, julho e agosto aumentaram em cerca de 40% desde que a HBO começou a emitir a mini-série, referiu Invanchuk. Valores mais ou menos similares foram indicados por Yaroslav Yemelianenko, gerente da Chernobyl Tour.

“Muita gente faz perguntas sobre a série, sobre todos os acontecimentos. As pessoas estão a ficar cada vez mais curiosas”, realçou a guia Viktoria Brozhko, garantindo que a área é segura para os visitantes. “Durante toda a visita à zona de exclusão de Chernobyl, recebem-se cerca de dois microsievert, o que é igual à quantidade de radiação a que uma pessoa se expõe se ficar em casa durante 24h”, afirmou Brozhko.

Artigo publicado na edição nº 1995, de 28 de junho, do Jornal Económico

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