O acordo para o Brexit de Theresa May morreu e está a ser enterrado. A impossibilidade revelada pela primeira-ministra britânica para obter um apoio consensual no Parlamento e no próprio partido coloca agora em risco inclusive o seu futuro político, embora isso seja o menos relevante face aos potenciais efeitos catastróficos deste processo para a economia e as empresas no país e o impacto daí decorrente na Europa.

Logo após a votação de terça-feira, que levou ao chumbo do acordo pelos parlamentares britânicos por 149 votos (apesar de tudo um resultado melhor do que a perda por 230 em janeiro), os porta-vozes dos vários agentes económicos vieram a terreiro para se manifestar contra o decurso dos acontecimentos e alertar para o seu impacto. “É altura de o Parlamento acabar com este circo” afirmou Carolyn Fairbairn, a diretora-geral da Confederação da Indústria.

Para a Bloomberg, a escalada da incerteza agora em curso levou já à queda do investimento de forma assinalável e a danos no crescimento económico.  Isso mesmo revelam também as declarações do líder da Câmara de Comércio Britânica, Adam Marshall, que considera um falhanço a atuação dos parlamentares e que uma saída desordenada no próximo dia 29 seria levar a negligência política a novos extremos”, enquanto o setor da indústria automóvel classifica o cenário como perigosamente próximo da catástrofe.

No dia em que escrevo as votações continuam, com a possibilidade de um ‘no deal’ ao virar da esquina, os deputados – mesmo os que estão unidos em torno do que não querem – desunidos por falta de consenso sobre o caminho a seguir. E aqui é que considero relevante fazer uma observação política. O Parlamento britânico é uma referência mundial como instituição democrática e não pode ser visto como o “circo” de que falava a responsável pela indústria. A dimensão do que está em causa justificaria que os responsáveis políticos eleitos se esforçassem por obter uma maioria clara na Câmara em torno do sim ou do não ao chamado ‘hard Brexit’.

O que para muitos parecia impensável poderá acontecer e os britânicos votarem contra a saída sem acordo solicitando uma extensão do prazo para além de 29 de Março, extensão essa que poderá ser ou não rejeitada pelos líderes europeus.

A prosseguir-se este caminho de insucessos acumulados, arriscam-se os britânicos a cumprir a profecia europessimista que Margaret Thatcher proferiu em 2002: “O inevitável destino do programa europeu é um falhanço e só a escala dos danos que causará permanece em dúvida”. É certo que o falhanço do projeto europeu no Reino Unido não é um falhanço geral para Europa. Mas mesmo assim, e para bem de todos nós, as ominosas palavras de Thatcher devem de servir como alerta sobre o que está, afinal, em causa.

 

Reuters

“Sem vacinas não há escola” é a mais recente decisão do governo italiano na área da saúde pública e que merece ser saudada. É cada vez mais incompreensível o discurso anti-vacinas, tendo em consideração os riscos que tal atitude implica e os custos decorrentes para o sistema nacional de saúde. Um tema que ainda vai dar mais que falar nos próximos tempos, pela certa.