A convenção do Partido Republicano que se realiza imediatamente a seguir à reunião do Partido Democrata conclui as candidaturas às próximas eleições presidenciais americanas, consagrando o atual presidente Donald Trump e Mike Pence que defrontam o ex-vice de Barack Obama, Joe Biden e a estreante senadora Kamala Harris.

As sondagens assinalam uma vantagem relevante de Biden, embora tal não permita nenhuma conclusão pois o processo eleitoral nos EUA, além de complexo, é extremamente flutuante. E isso deve ser visto à luz do eleitorado americano que reage de forma diferente do eleitorado europeu. A estrutura partidária, a ideologia subjacente aos grandes partidos tradicionais ou o grau de compromisso com o eleitorado é bastante distinto do que nos habituamos a ver nos processos eleitorais pela Europa fora.

Aos democratas é normalmente atribuível uma maior preocupação social, um ênfase significativo no domínio dos direitos civis e a defesa de um papel determinante da regulação em matéria económica. Os republicanos associam-se ao conservadorismo e aproximam-se do capitalismo mais puro e menos regulado, com um forte apoio à livre iniciativa e a uma política fiscal não redistributiva.

Nem sempre foi assim e o partido republicano tem na génese o abolicionismo, tendo como um dos seus estandartes o Presidente Abraham Lincoln, um dos maiores defensores do fim do esclavagismo, ou mais recentemente Ronald Reagan e a sua política expansionista em matéria económica e internacional. Já os democratas têm como lídimos presidentes, Franklin Roosevelt, grande responsável pelo sistema americano de segurança social, ou John F. Kennedy, campeão do combate pela igualdade e pela integração social.

Estas lógicas baralham-se no próximo combate. Trump evidenciou-se pelas grandes declarações no Twitter, anunciando ações e reações em muitos casos de impacto negativo, como as impiedosas políticas anti-imigração, as posições primárias anti-China e a sua postura populista, que agradam ao americano médio, numa postura de “América para os americanos”, ao sabor das posições republicanas do princípio do século XX.

Mas nem todos pensam que Trump é um presidente aventureiro. O seu discurso nacionalista, alicerçado na criação de emprego e no espírito protecionista, agradou internamente durante o mandato e apenas o impacto da Covid na economia e a falta de respostas sociais viraram a opinião pública, a que se somam os escândalos pessoais. Neste período, a perda de influência mundial do país – política e económica – pode ter consequências inesperadas, e retirar relevância ao dólar americano. Esta será uma peça relevante na estratégia de Biden para conquistar as elites e líderes de opinião locais.

A 3 de novembro próximo vão estar em causa os partidos tradicionais representados pelas imagens do burro (democratas) e do elefante (republicanos). A estratégia nacionalista pode estatelar-se e partir a porcelana toda, enquanto o burro pode mostrar-se bem mais inteligente do que se esperava. O mundo anseia que a inteligência vença.