Parece, enfim, serenada a polémica em torno do altar-palco destinado às Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ). Reduzidos os custos e desviada a atenção mediática para assuntos bem mais graves envolvendo a Igreja Católica, o tema caiu no olvido.

Porém, a cizânia que envolveu o montante em que a construção do altar-palco importava diz muito sobre nós. Padecemos de um fascínio pela grandeza que vem de longe e de uma indómita vontade de agradar aos outros, fruto de uma relação problemática com a nossa pequena dimensão e relativa pobreza.

Sempre gostámos de impressionar o mundo com espectáculos espaventosos de que são exemplos as embaixadas enviadas ao Papa para romano ver, nas quais os monarcas despenderam somas consideráveis, em busca de reconhecimento e de um estatuto que a nossa condição a vários títulos periférica por si não permitia.

O passado recente atesta a persistência desta nossa disposição, ampliada pelo desejo de contornarmos o isolamento a que o Estado Novo nos havia condenado. Quisemos mostrar-nos um país moderno e europeu, vestindo o melhor traje domingueiro para espanto das gentes, sobretudo as de fora.

Quando os dinheiros da Europa começaram a inundar os cofres públicos, não nos poupámos a esforços para erigir grandes obras. A sede da CGD, uma espécie de convento de Mafra da finança, o CCB, cronicamente subaproveitado, ou as luxuosas estações de metropolitano – construídas com avultado dispêndio, sem previsão dos respectivos custos de manutenção, encontrando-se algumas delas em estado deplorável –, atestam-no.

Simultaneamente, dedicámo-nos à organização de grandes eventos internacionais como a Expo 98, o Euro 2004 ou a Websummit e, presentemente, as JMJ, com o mesmo propósito. Porém, nunca deixámos de ser uma nação remediada e por isso as grandes despesas pesam.

Embora em termos relativos os custos do altar-palco não sejam escandalosos e a controvérsia tenha sido empolada por um certo jacobinismo que não perde uma oportunidade para lançar uma farpa à Igreja, uma vez mais nos deixámos levar pelo excesso, tanto mais impróprio quando o presente Papa fez da modéstia a imagem do seu pontificado.

No afã de fazermos boa figura, acabámos por ficar embaraçados e por embaraçar a Igreja, alheia, aliás, a este assunto, ao cometermos a tremenda deselegância de discutir perante o convidado os custos da festa. Como certo dia escreveu a rainha D. Estefânia a sua mãe, a princesa Josefina de Baden, “os portugueses têm um grande sentido de pompa, mas pouco de dignidade”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.