Assinalou-se esta semana o terceiro aniversário da entrada em vigor do fundo de recuperação da União Europeia (PRR) criado para atenuar as adversidades causadas pelo confinamento. O Next Generation EU (NGEU), cujos chavões foram as transições digital e verde e que terá mobilizado 832 mil milhões de euros, é, segundo a revista “The Economist”, a principal inovação política que resultou da pandemia.

É evidente a reviravolta que significou em termos das orientações de política orçamental que vinham sendo seguidas – num Portugal fustigado pela Troika e acossado pela palavra austeridade, o PRR foi a promessa de uma lufada de ar fresco. Haveria lugar para investimento público, praticamente estagnado, em paralelo com o equilíbrio das contas públicas.

Quiçá para os euro-otimistas estas políticas não seriam mais do que a continuação daquilo que se iniciou com a política monetária não convencional (PMNC) e que teve o seu expoente em Mario Draghi e do whatever it takes to save the euro. Estas foram medidas igualmente disruptivas e inovadoras, justificadas sob o pretexto de se viverem “tempos anómalos” – a recessão causada pela crise financeira.

No final, o balanço da intervenção da PMNC parece ter sido positivo, malgrado a mais que muita vontade de a infletir, que se adivinhava nas vésperas da eclosão da pandemia. Faremos a mesma avaliação benévola do bem-intencionado NGEU?

A primeira apreciação dos seus resultados que, nesta altura, a UE terá já divulgado, é, segundo o “The Economist”, uma tarefa árdua, na medida em que é difícil medir o seu impacto económico. Primeiro, porque há que conseguir delimitar o seu âmbito e, segundo, porque o programa ainda está a decorrer. As dificuldades inerentes à execução do programa em Portugal assim o confirmam.

Numa primeira análise, serviu para afastar o receio de que uma intervenção pública em tão larga escala gerasse pressões inflacionistas, tendo sido mesmo substituído pelo discurso de que o problema não se poria já que, a médio prazo, estas pressões seriam eliminadas pela subida do produto.

A inflação que se seguiria foi assim atribuída aos problemas vividos nas cadeias de abastecimento em 2021, resultantes do confinamento na China, e à guerra entre a Rússia e a Ucrânia e seus efeitos sobre o preço da energia.

Mas o NGEU serviu sobretudo, do ponto de vista da política económica, para demonstrar que é possível envidar esforços coletivos para promover a recuperação europeia. Pode haver ainda um longo caminho a percorrer, mas foram dados os primeiros passos. Os federalistas rejubilam.