O Governo que Luís Montenegro se prepara para formar terá pela frente um caminho muito estreito, até à apresentação do Orçamento do Estado para 2025. Longe de ter o apoio de uma maioria parlamentar, o executivo da AD vai viver constantemente com uma espada de Dâmocles sobre si, que só não cairá sobre a cabeça de Luís Montenegro se tanto o PS como o Chega considerarem que têm mais a perder com o derrube do Governo do que em permitir que se mantenha.

Aparentemente, Montenegro tem a seu favor a experiência do primeiro governo de Cavaco Silva. A história é conhecida de todos: o PRD derrubou o governo e, nas eleições seguintes, Cavaco foi reeleito com maioria absoluta, enquanto o partido que o tentou afastar do poder foi severamente castigado pelos eleitores e acabou por desaparecer.

Este facto funciona, certamente, como cautionary tale, sobretudo para André Ventura, mas o país mudou muito nas últimas décadas e, no fim do dia, o eleitorado poderá optar por responsabilizar aqueles que, tendo chegado ao poder, não o souberam utilizar em prol do país e optar por entregá-lo a quem der mais garantias de estabilidade e competência. Daí que, neste contexto, Luís Montenegro só tem uma forma de se salvar a si e, eventualmente, ao próprio PSD, que é conseguir fazer muito – e bem – num curto espaço de tempo.

E aqui Montenegro tem a seu favor o facto de o Estado ter os cofres cheios. E o PS e o Chega terão muita dificuldade em justificar um eventual chumbo do Orçamento do próximo ano se este prever uma descida generalizada da carga fiscal, a par de um aumento do investimento na saúde, na educação, na qualidade dos serviços públicos e nas condições laborais dos professores, médicos, polícias e militares, entre outras categorias profissionais que têm sido esquecidas nos últimos anos.

Não por acaso, aliás, tanto Pedro Nuno Santos como André Ventura já se posicionaram esta semana a este respeito, mostrando-se disponíveis para aprovar o Orçamento retificativo de 2024 se este incluir tais aumentos. E, muito provavelmente, farão o mesmo em relação ao Orçamento do Estado para 2025, se chegarem à conclusão de que haverá mais a ganhar em fazer isso do que em derrubar o Governo da AD.

Resta saber, porém, duas coisas: por um lado, se a nossa economia e finanças públicas vão aguentar tanto regatear de promessas eleitorais. Por outro, se o Governo terá os quadros de que necessita para poder fazer um bom trabalho, sem nos conduzir a todos a um pântano ainda mais paralisante do que aquele em que o país se encontra.