Vivemos esta segunda-feira, em Portugal e Espanha, uma situação inédita de um apagão do sistema elétrico que provocou situações caóticas: a paralisação de parte significativa da economia, transportes, telecomunicações, internet, computadores, baterias, abastecimento de água, correria para supermercados, caixas multibanco e trânsito caótico nas primeiras horas.
As fake news e a desinformação transformaram-se numa pandemia que contagiou toda a Europa. De Lisboa a Bruxelas, os cenários eram diversos e falsos, desestabilizando ainda mais as populações. A REN e outras entidades viram-se forçadas a emitir declarações para desmentir noticias fictícias. Uma delas dizia que iríamos ficar sem luz uma semana!
Perante tudo isto, fica a pergunta: estarão as entidades oficiais e empresariais, públicas ou privadas, preparadas para lidar com esta ‘nova guerra’ da desinformação e fake news? Como se estão a preparar e a treinar?
Ainda hoje, muitas não levam o tema a sério. Do mesmo modo que tantas consideram que antecipar crises, formar equipas para lidar com esse problema e montar um gabinete de crise é uma mera perda de tempo e de dinheiro. Infelizmente, algumas só agem, e tardiamente, quando a bomba rebenta nas próprias mãos. Nas organizações, prevenir, antecipar e planear é determinante. E em gestão de crise é a diferença entre sobreviver sem feridas ou com o mínimo de arranhões possível ou ficar nos cuidados intensivos.
Na teoria da comunicação está identificado o emissor, o recetor e o canal. Se há ruído no canal, o emissor tem de tentar fazer chegar a informação de outras formas, nem que seja por sinais de fumo! Neste caso, foi a rádio que permitiu que a comunicação fluísse. Os meios tradicionais de comunicação social voltaram a assumir a sua enorme relevância. Sem comunicações móveis, nem eletricidade, as rádios garantiram que os emissores faziam chegar as notícias às nossas casas via telefonia a pilhas ou no automóvel. A rádio foi o nosso único meio de informação.
Por mais de oito longas horas, foi a única plataforma que nos manteve ligados ao mundo. Por isso, e não só, sempre discordei da ideia de que a televisão iria matar a rádio ou que o online iria acabar com a rádio. Isso não vai acontecer. Com as várias ‘guerras’, cada vez mais cibernéticas, vai até ganhar maior relevância. Simplesmente, a rádio tem de se adaptar, modernizar, estar perto das pessoas e servir o ouvinte.
O único e último cliente de um órgão de comunicação social (OCS) é o leitor/ouvinte/telespectador. Quando assim não for, deixa de ser um OCS e passará a ser outro meio distinto de proliferação de mensagem e não necessariamente de comunicação e informação. A rádio está viva e esta é mais uma lição de um apagão que, desta vez, não teve a cegonha como culpada.
Quanto ao tipo de comunicação oficial que nos chegou, via Governo, e quanto às críticas da Oposição, é preciso enquadrar e perceber o que está verdadeiramente disponível para ser dito e o que não está acessível. É também necessário filtrar, com cuidado, sem esquecer que apenas 15 dias nos separam das eleições legislativas.
Uma coisa é certa, perante estes cenários de crise torna-se mais visível a relevância de entender este tema da gestão de crise é um tópico estratégico e que deve ter o envolvimento do topo. Em momentos de escuridão, como aquele que vivemos, fica clara a importância de termos lideranças estratégicas, sem medo de enfrentar os problemas, quer na política quer nas empresas.